Eufemismo: A gourmetização da língua.
A palavra “eufemismo” vem do grego eufemísmos, que significa “emprego de uma palavra favorável no lugar de uma de mau augúrio”. Os vocábulos eu (bem) e femi (falar) dão a ideia de “falar de maneira agradável”, adoçando a realidade cruel, e transformando em palatável.
Nosso trabalho nas Oficinas Sotoko, se dedicar a investigar no campo da culinária, como a linguagem foi sendo construída de forma ambígua, dúbia, com duplos vínculos, que contribui para a invisibilidade e da manutenção do preconceito estrutural, que sofrem os grupos subalternizados, que são os virtuais formuladores das cozinhas tradicionais.
Segundo Silviano Santiago, em APESAR DE DEPENDENTE, UNIVERSAL, a primeira colonização é a da mente.
A luta pelo poder e partilha dessa "nossa pobre terra" é compreendida pela divisão e luta religiosas.
Só que, aqui, a terra é palco e a luta é encenação, enquanto lá na Europa o problema é a realidade concreta do cuius regio, eius religio ("cada país tem a sua própria religião).
Já por essa época o indígena não é dado mais pelo português como tábula rasa, mas é dado pelo católico português como ocupado pelo herege francês ou inglês.
A conversão, em fins do século XVI, opera duas ações de despejo contra o indígena: convertendo-o, desaloja-o da sua cultura; fazendo com que se revolte contra os "hereges", desaloja-o de qualquer outra ocupação que não a católica.
Em ambos os casos, fá-lo entrar nos conflitos maiores do mundo ocidental sem que tenha tomado parte nos acontecimentos, mero ator, mero recitador que é.
Duplamente despoja-do: a História européia é a estória do indígena.
Resta-lhe memorizar e viver com entusiasmo uma "ficção" européia (portuguesa, em particular) que se transcorre num grande palco que é a sua própria terra. E já no século XX nem mais a terra é sua. Terceira, última e definitiva ação de despejo operada pelos colonizadores.
É importante notar como a colonização, no mundo moderno, só podia ser uma atividade docente, onde a memória era o dom mais re-quisitado.
A tal ponto que historiadores contemporâneos nossos julgam acredi- tar que a origem de uma "inteligência brasileira" se dê quando colégios são criados no século XVI. Ou seja: quando a história alheia é imposta como matéria de memorização, de ensino, imposta como a única verdade.
Desnecessário é salientar o compro- misso violento da categoria de "in-teligência", nesse contexto, com o mais ardoroso etnocentrismo.
Etno-centrismo esse que traduz a con- cepção do mundo pré-cabralino presente nos primeiros colonizadores, pois davam eles à civilização indígena o estatuto de tábula rasa.
Triste "inteligência brasileira" que, ao querer alçar o vôo da reflexão histórica, ainda se confunde com preconceitos quinhentistas!
Dentro dessa perspectiva etnocêntrica, a experiência da colonização é basicamente uma operação narcísica, em que o outro é assimilado à imagem refletida do conquistador, confundido com ela, perdendo portanto a condição única de sua alteridade. Ou melhor: perde a sua verdadeira alteridade (a de ser outro, diferente) e ganha uma alteridade fictícia (a de ser imagem refletida do europeu).
O indígena é o Outro europeu: ao mesmo tempo imagem especular deste e a própria alteridade indígena recalcada. Quanto mais diferente o índio, menos civilizado; quanto menos civilizado, mais nega o narciso europeu; quanto mais nega o narciso europeu, mais exigente e premente a força para torná-lo imagem semelhante; quanto mais semelhante ao europeu, menos a força da sua própria alteridade. Eis como se desenrola a ocupação. Eis como se cria a "inteligência" no Brasil.
Se o móvel da descoberta é o desconhecido, e para isso se requer dos homens o espírito de abertura, a coragem e a audácia, já a experiência da colonização requer o espírito profiteur, a espada e a falsa cordialidade.
A falsa cordialidade diz: seremos amigos, desde que você me obedeça; a espada continua: se não me obedecer, o ferro e o fogo; e o espírito ganancioso arremata: vale a empresa, enquanto der lucro.
APESAR DE DEPENDENTE, UNIVERSAL
Silviano Santiago
*Crukê Mayrahú - Comida da Mata* Crukê = comer (em Pataxó) Mayrahú = Maraú (em Tupi)
Reconhecendo e respeitando os povos tradicionais dessa terra, nessa oficina, no Assentamento Santa Maria, em Maraú, estaremos atualizando a nossa culinária ancestral.
Com as mulheres do Grupo Juçara e o cozinheiro baiano Alício Charoth @charoth10 , 3 dias de programação, na cozinha agroecológica da @essenciaagrofloresta
Vem pra roça se deliciar com a gente 🍃
Dias 22, 23 e 24 de julho
Em Maraú - Bahia
Inscrições abertas pelo WhatsApp (93)992413769 ou link na bio da @kombiraiz
Esta oficina tem como objetivos:
🔸Formar multiplicadores de saberes das simbologias referentes à alimentação afroindígena no Brasil.
🔸Contribuir para a descolonização ampliando os conhecimentos sobre a utilização das plantas alimentícias da região do Baixo Sul Baiano.
🔸Mapear plantas alimentícias tradicionais
🔸Sistematizar os conhecimentos sobre os usos das plantas tradicionais na culinária afroindigena.
🔸Trocar saberes agroecológicos .
🔸Vivenciar uma cultura alimentar sustentável.
*O valor sugerido é de R$400 por pessoa*, inclui alimentação (café da manhã, almoço e jantar) e estadia no próprio espaço Essência da Terra, em lindas acomodações bioconstruidas: quartos coletivo com camas individuais com conforto; banheiro seco e duchas direto da nascente.
*Se inscrevendo em dupla fica por R$750*👩🏽🤝👩🏿👩🏼🤝👨🏽
Público alvo 🎯
Profissionais e estudantes das áreas de cultura, culinária, antropologia, etnobotânica.
Entusiastas em geral.
Para realizar sua inscrição é só entrar em contato com Loy (93)992413769 ✨
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