RESISTÊNCIA E CULTURA ALIMENTAR
Ao longo dessa trajetória, desenvolvi iniciativas que articulam pesquisa, formação e mobilização comunitária. Um exemplo é o projeto Comida Aqui é Mato, que promove o reconhecimento e o uso das plantas alimentícias tradicionais presentes nos quintais, matas e roçados, valorizando os saberes ancestrais e o vínculo com o território.
Importante lembrar do Seminário Setembro mês da Culinária Tradicional da Bahia.
No âmbito desse trabalho, criei as Oficinas Sotoko, experiências formativas e práticas em torno da jaca como proteína vegetal e símbolo de resistência alimentar. As oficinas já alcançaram 15 comunidades rurais e quilombolas, como a comunidade Trindade, em Biritinga, e o Kilombo Tenondé, no Baixo Sul da Bahia, fortalecendo o protagonismo local no manejo e na valorização dos alimentos da terra.
Essas ações vêm sendo realizadas em articulação com a Teia dos Povos, rede que conecta comunidades tradicionais, agricultores, quilombolas, indígenas, pesquisadores e militantes em torno da soberania alimentar, da educação popular e da defesa dos territórios.
Esse percurso tem gerado resultados concretos: mobilização comunitária, circulação de saberes, publicações colaborativas e a construção de uma metodologia própria de formação alimentar, baseada na escuta, na ancestralidade e na inovação a partir dos contextos locais.
Em 2014, participei do Primeiro Encontro de Culinárias Tradicionais, realizado na Cidade do México.
A experiência foi decisiva para compreender a centralidade das práticas alimentares na preservação da identidade cultural e na construção de estratégias de desenvolvimento local baseadas em saberes ancestrais.
Naquele encontro, ficou evidente que a culinária tradicional é um campo estratégico, onde práticas do passado se articulam com soluções contemporâneas voltadas à sustentabilidade, à segurança alimentar e à valorização da diversidade cultural.
Apesar de seu enorme potencial, esse campo ainda carece de maior expressão e reconhecimento no Brasil — especialmente no que se refere ao fortalecimento de políticas públicas, à criação de espaços de formação e inovação, e à promoção de redes de apoio às comunidades que sustentam esses saberes.
É urgente que instituições de fomento à cultura, universidades, governos e organizações da sociedade civil se envolvam nessa agenda, por meio de editais de pesquisa, convênios interinstitucionais e programas de intercâmbio cultural e técnico. Convidamos também editoras, patrocinadores e parceiros estratégicos a se unirem a esse movimento, contribuindo para ampliar a visibilidade e a valorização da culinária de matriz ancestral.
Neste contexto, ganha força a necessidade de ampliar os diálogos internacionais que reconheçam a alimentação como vetor de identidade, economia e diplomacia cultural.
A aproximação entre Salvador e Marselha — duas cidades portuárias profundamente marcadas pela presença africana e por tradições culinárias forjadas na resistência e na criatividade popular — representa uma oportunidade estratégica para a construção de uma irmandade cultural.
Ambas compartilham histórias de diáspora, circulação de saberes e de ingredientes, e hoje podem estreitar laços por meio de iniciativas colaborativas nas áreas de cultura alimentar, formação e intercâmbio profissional.
Em julho de 2025, iniciamos uma nova etapa dessa articulação com uma agenda intensiva na França, que inclui a participação no Festival Kos-Kos e a gestão temporária de um restaurante em Marselha ao longo de um mês. A proposta é apresentar ao público local a riqueza da culinária tradicional baiana, estabelecendo pontes com os saberes locais e promovendo trocas entre cozinheiros, agricultores e pesquisadores dos dois territórios.
O projeto conta com o apoio de @MoniqueBadaró, especialista em articulações internacionais e políticas culturais, cuja atuação tem sido fundamental para viabilizar esta etapa na França.
Sua expertise e comprometimento com o fortalecimento de redes culturais e da diáspora têm sido decisivos para ampliar o alcance e a legitimidade da iniciativa.
Monique é vinculada ao Braço Social, Salvador-Bahia, onde atua na interface entre cultura, arte e cooperação internacional.
Mais do que uma experiência gastronômica, esta iniciativa é um passo concreto rumo ao reconhecimento do nosso patrimônio imaterial e ao fortalecimento da cultura alimentar como campo estratégico de política pública, inovação e justiça social.
Esperamos que esta experiência gere parcerias duradouras, novas redes de cooperação e contribua para a consolidação de um movimento que valorize, proteja e celebre os saberes alimentares tradicionais.
PROGRAMA DE RESIDÊNCIA CULINÁRIA ALICIO CHAROTH*
Data
Atividade
Instituição
31.07
Chegada em Marseille
Cuisines Africaines
01.08
Noite de apresentação aos brasileiros de Marseille
friche On Air
02.08
Dia em Arles + Reencontros com Olivier Darné
Zona Sensible Arles
4.08 a 22.08
De segunda a sexta - 5 noites por semana
La Criée
25.08 a 5.09
De segunda a sexta 5 almoços e jantares por semana
La Criée
Sexta-feira 5.09 e sábado 6.09
2 noites On Air Kouss.Kouss festival
La Friche
8/09
Partida de Marseille para Paris
10 a 12/09
Imersão no restaurante le Dali
Restaurante Meurice com Amaury Bouhours*
15.09
Workshop / demonstração
Escola de Meudon* Alain Ducasse
De terça-feira 16.09 a 20.09
Residência
Zona Sensible Saint Denis
20.09
Almoço “Grand Partage”
Zona Sensible Saint Denis com Olivier Darné
21.09
Masterclass
Food Temple
22/09
Retorno Salvador


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