🫑 PESQUISA REVELA POR QUE A ALIMENTAÇÃO DOS POVOS TRADICIONAIS ESTA MUDANDO


Conduzida por uma equipe multidisciplinar ligada à Universidade de Lisboa, à Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e ao Instituto Mamirauá, a pesquisa busca entender os fatores que impulsionam a chamada transição alimentar em territórios tradicionais da Amazônia.

Em um cenário de profunda diversidade socioambiental, um estudo inédito nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, estado do Amazonas, tem se debruçado sobre uma questão vital: quais são as causas das mudanças na alimentação em comunidades ribeirinhas da região? Conduzida por uma equipe multidisciplinar ligada à Universidade de Lisboa, à Universidade Federal do Amazonas e ao Instituto Mamirauá, o estudo busca entender os fatores que impulsionam a chamada transição alimentar nesses territórios tradicionais.

A pesquisa, intitulada “Diversidade biocultural alimentar e resiliência: o caso da Amazônia brasileira em transição”, é liderada pela pesquisadora Daiane Soares Xavier da Rosa, doutoranda em Ciências da Sustentabilidade pela Universidade de Lisboa e associada ao Instituto Mamirauá.

Com orientação e apoio de pesquisadores do Brasil e Portugal, o estudo une métodos quali-quantitativos para captar, com profundidade, os hábitos e mudanças no consumo de alimentos em seis comunidades ribeirinhas da região do Médio Solimões e como essas transformações impactam a cultura alimentar, a saúde e a resiliência socioecológica dessas comunidades amazônicas.

“Desenvolvemos essa pesquisa em comunidades com diferentes acessos aos centros urbanos e aos supermercados. Estamos investigando como isso pode estar influenciando o consumo de alimentos industrializados, em especial os ultraprocessados”, explica a pesquisadora.

Essa etapa da pesquisa, desenvolvida entre os anos de 2023 e 2024, envolveu questionários aplicados a diferentes perfis dentro das comunidades — líderes comunitários, merendeiras e gestores das escolas, anciãos, cozinheiras (os) e unidades familiares — com destaque para as entrevistas com foco em questões socioeconômicas e na chamada “biografia alimentar”, realizada em cerca de 25% das casas de cada comunidade.

“Este bloco de entrevistas que engloba questões socioeconômicas e de hábitos alimentares durou cerca de 2 horas e nos deu uma grande riqueza de informações. A partir delas, conseguiremos entender as decisões alimentares em nível familiar”, afirma.

O desenvolvimento dos questionários e das perguntas que fizeram parte da pesquisa de campo teve como base uma ampla revisão da literatura especializada, realizada pela pesquisadora e co-autores, buscando entender, em nível global, quais são os fatores responsáveis por mudanças na alimentação em povos indígenas e comunidades locais.

“A revisão de literatura em escala global nos proporcionou entender as transições alimentares em populações tradicionais em nível macro, possibilitando o desenvolvimento de perguntas robustas e que fizessem sentido localmente”, afirma Daiane.

Dados censitários das Reservas Mamirauá e Amanã levantados entre 2018 e 2019, pelo Sistema de Monitoramento Demográfico e Econômico (SIMDE) desenvolvido pelo Instituto Mamirauá, também foram utilizados, com o objetivo de selecionar comunidades com o maior número possível de variáveis associadas aos objetivos da pesquisa.

Tradições resistem, mas enfrentam desafios 

Entre os resultados preliminares, um dado chama atenção: a base da alimentação ribeirinha nessa região da Amazônia permanece centrada no pescado e na farinha de mandioca, complementada com alimentos in natura e minimamente processados, adquiridos no supermercado No entanto, há indícios de mudanças significativas entre gerações.

Segundo os anciãos e os chefes familiares, os jovens e adolescentes das comunidades consomem mais alimentos ultraprocessados do que os adultos — um reflexo, segundo a pesquisa, da influência crescente da merenda escolar.

“As pessoas que tomam as decisões alimentares, ou seja, o que será comprado no supermercado e também servido nas refeições familiares, têm hoje, em média 40 anos de idade, e seus hábitos estão ligados à cultura alimentar regional, mais tradicional. Entretanto os chefes familiares relataram que os hábitos alimentares de crianças e adolescentes estão cada vez mais voltados para as comidas de supermercado”, observa Daiane.

Em comunidades mais distantes de centros urbanos, especialmente aquelas situadas em áreas de paleovárzea (menos afetadas pelas dinâmicas de secas e cheias dos rios da região), observou-se uma maior diversidade alimentar.

“A agricultura familiar e de subsistência tem um papel essencial. Para além da roça, os alimentos que são produzidos nos quintais e nos sítios aumentam consideravelmente a diversidade alimentar. Comunidades em áreas de várzea acabam ficando mais vulneráveis na cheia, e aí recorrem ao supermercado com mais frequência”, destaca.

🔗 Leia o conteúdo completo aqui

https://www.mamiraua.org.br/noticias/transicao-alimentar-amazonia


Design: Lucas Oliveira

Social Media: Mari Furtado

Foto: Daiane da Rosa


@elcocineroloko

📣 Conheça nossas páginas:

Facebook: @elcocineroloko

Instagram: @charoth10





Comentários

Postagens mais visitadas