JOVENS QUILOMBOLAS MANTÉM A TRADIÇÃO CULTURAL E ALIMENTAR
Para Juliane e Lula Mendes, duas das lideranças ativas do grupo da comunidade, o evento que acontece pelo segundo ano, tem sabor especial, significa os anos de luta pela posse da terra.
O Caruru acontece 27.11 na Comunidade no Centro de formação quilombola Nova Juventude.
Por Anne
Em 2006, fomos convidados pelo (Mosteiro Cisterciense de Jequitibá), a criarmos um acampamento e lutar pelo direito à terra. O objetivo era manter o jovem na comunidade com a expectativa do mesmo ganhar o seu próprio sustento na lavoura. E assim foi feito, surge então o acampamento (Nova Juventude), onde começamos a lutar por uma desapropriação de uma fazenda pela reforma agrária.
Fomos ao Incra, e lá descobrimos que existia um pedido formulado e protocolado de desapropriação da Fazenda Jequitibá por outro grupo, de outra localidade, que também lutava pela defesa da terra. Dessa forma, descobrimos também que precisaríamos conviver com diversas pessoas de localidades e realidades diferentes.
Diante dessa situação, começamos a participar de reuniões, plenárias organizadas pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), onde percebemos através das falas de outros companheiros, que nossa comunidade poderia ser de povos tradicionais: (raça, costumes e crença religiosa de matriz africana).
Seguimos para a Fundação Cultural Palmares, órgão Federal, responsável pelo reconhecimento e certificação de comunidades tradicionais, começaram então estudos, onde foram colhidos relatos históricos, incluindo fotos.
Elaboramos ofício, declaração e ata de atribuição quilombola, enviamos todo o material para a Fundação Cultural Palmares em Salvador, em 15 de dezembro de 2015, os documentos seguiram para Brasília, e em 02 de maio de 2016, a comunidade de Jequitibá, em Mundo Novo -BA, foi certificada como (COMUNIDADE REMANESCENTE DE QUILOMBO), pelo decreto 4887/2003. A certificação foi entregue a comunidade em fevereiro de 2017.
A história do Quilombo
O Quilombo de Jequitibá em Mundo Novo, é uma Comunidade formada por descendentes de agregados/moradores e por antigos agregados/moradores da Fazenda Jequitibá que, em maioria, habitam no interior do imóvel.
O município de Mundo Novo, onde está localizada, tem sua gênese na apropriação de terras de antiga sesmaria por exploradores que, buscando boas condições de plantio e criação de gado, cercaram áreas e abriram grandes fazendas.
Na iminência da saída dos agregados, os elementos envolvidos acabam sendo contabilizados para a formatação de um acordo.
Se hoje a categoria “quilombolas” é utilizada, e tem peso estratégico na luta pela terra, naquele momento a categoria “trabalhador rural” foi a qual os jequitibaenses valeram-se para reclamar direitos trabalhistas e, mediante a intervenção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, barganhar a permanência nas casas no interior do imóvel.
A demanda, liderada por uma nova geração de jequitibaenses, por reforma
agrária na Fazenda a partir da década de 2000, e posterior desdobramento em luta pela terra via política pública de titulação de territórios quilombolas.
Em Jequitibá, a “cultura” é um importante sustentáculo da autoatribuição étnica.
Isso quer dizer que os agentes envolvidos nesse processo, elencam alguns elementos da existência local como ligados a uma dupla origem: aos que foram escravizados no Brasil durante o passado escravagista, e a África. Assim, o caruru, os batuques, os conhecimentos sobre ervas medicinais, as chulas, a capoeira, as rezas são elementos destacados da existência local para marcar a identidade étnica, destarte, elementos que ligam os jequitibaenses a uma origem na escravidão e na África.
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