Salvador Escravista: Projeto “Salvador Escravista” mapeia memórias do tráfico de pessoas escravizadas na capital baiana

por Alejandro Sigfrido Mercado Filho


Primeira capital do Brasil, Salvador é um centro cultural de imensa importância histórica.
Salvador foi o segundo maior porto de desembarque de africanos nas Américas durante o comércio transatlântico de pessoas escravizadas. Marco da formação sociocultural e da memória da cidade, o tema é o objeto de estudo do projeto Salvador Escravista, que busca mapear ruas, prédios, estátuas e espaços públicos que tenham relação com a história da escravidão na cidade de Salvador.
Para revisitar esse passado e dar uma voz à população negra, pesquisadores criaram o Salvador Escravista, site que pretende ampliar a compreensão do papel de diferentes indivíduos no desenvolvimento de uma sociedade marcada por desigualdade e racismo.

Desta maneira, os historiadores envolvidos com a iniciativa pretendem mapear a cidade atrás de homenagens controversas, homenagens reparadoras e lugares esquecidos da história local, onde episódios importantes para a população negra ocorreram e não recebem devida atenção.

Em entrevista à BBC News Brasil, Felipe Azevedo e Souza, integrante do Programa de Pós-Graduação em História da UFBA e um dos idealizadores do projeto, afirmou que a Salvador Escravista não quer somente sugerir a mudança de nomes de ruas. "O que queremos é um debate maior sobre políticas públicas voltadas à memória da cidade, que sejam mais democráticas e plurais", pontuou. Conheça algumas das histórias levantadas pela iniciativa.

O traficante de escravos que originou culto do Senhor do Bonfim

Nascido em Portugal, Teodósio Rodrigues de Faria foi capitão de navio mercante. Estabeleceu-se em Salvador até 1757, ano de sua morte. Nada se conhece sobre sua vida anterior a 1735, ano que chegou ao Brasil, e o que se sabe possui relação com sua devoção ao Senhor do Bonfim, de quem levou para a capital baiana uma imagem.

Sua devoção e o dinheiro que investiu na igreja lhe renderam destaque na irmandade do Senhor do Bonfim. Foi enterrado dentro da igreja, um dos principais cartões postais da cidade.

Ele também dá nome à praça em frente da igreja e a uma rua nas proximidades. Mas a pesquisa da Salvador Escravista mostrou foi que Teodósio atuou intensamente no tráfico de africanos, detalhe geralmente omitido sobre ele.

(Fonte: Reprodução/Prefeitura de Salvador)

Outro importante ponto turístico da capital, o Elevador Lacerda foi inaugurado em 1873, com o objetivo de ligar as partes alta e baixa da capital da Bahia. Construído com o nome de Elevador Hidráulico da Conceição, mudou de nome em 1896, para homenagear seu idealizador.

De acordo com os historiadores do Salvador Escravista, a obra não teria sido realizada sem a riqueza acumulada pelo pai de Lacerda no tráfico ilegal de africanos, inclusiva após a proibição por lei.

De acordo com a historiadora Silvana Andrade dos Santos, em entrevista à BBC, Lacerda Pai era sócio em embarcações utilizadas em fretamentos para viagens negreiras à África no final da década de 1830, portanto, depois da proibição definida em 1831. O lucro obtido foi utilizado em muitas obras no estado, além da educação dos filhos.

(Fonte: Reprodução/Conhecimento Científico)

Conhecido como figura relevante em todo o país, nome de ruas em cidades de vários estados e até marca de erva mate, João Maurício Wanderley, o Barão de Cotegipe, foi um dos principais antagonistas da princesa Isabel na questão da abolição.

Segundo a Salvador Escravista, o barão foi o escravocrata mais poderoso do período final do Império, tomando medidas em prol da perpetuação da escravidão. Entre as medidas defendidas por Cotegipe, propôs a lei dos Sexagenários e foi contra o fim da pena de açoite aos escravizados.

Durante a regência da princesa Isabel, tornou-se presidente do Conselho de Ministros, uma espécie de primeiro-ministro, e comandou a forte e violenta repressão às manifestações pela abolição. Pressionado, chegou a renunciar a seu cargo, mas voltou ao Senado para votar contra a lei Áurea, em 1888.



Comentários

  1. Olá saudações! Sou Regina Célia, Presidenta da primeira instituição civil Negra do Brasil a Sociedade Protetora dos Desvalidos , fundada em 1832, por 19 homens negros africanos, alforriados e de origem Malê, completando portanto, 190 anos esse ano. Nós também fazemos parte dessa História.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Salve Regina Célia, e nós estamos aqui para dar visibilidade a esse magnífico trabalho desenvolvido pelo SPD, conte conosco!

      Excluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas