PAU-BRASIL DE 600 ANOS É ENCONTRADO NA BAHIA

Testemunha da devastação da Mata Atlântica, a árvore anciã foi encontrada no sul da Bahia, dentro de um assentamento, e possui mais de 7 metros de diâmetro

A descoberta, realizada pelo botânico Ricardo Cardim e pelo mateiro e empreendedor Alex Vicintin.

Conforme a publicação, Cardim já havia realizado pesquisas de árvores gigantes em toda região da Mata Atlântica desde 2016.

Contudo, em novembro, um guia relatou a existência de uma árvore maior do que as que já tinham sido registradas.

Ele ainda informou que apenas um homem da comunidade sabia o caminho para chegar até o remanescente da espécie.

Ao chegarem no local, Cardim e Vicintin se depararam com uma árvore imensa de 7,13 metros de diâmetro, quase 40 metros de altura e com ‘rugas’ que revelam uma idade estimada em 600 anos.

O local exato onde o pau-brasil foi encontrado não foi divulgado.

Os dois estão por detrás do projeto Grandes Árvores da Mata Atlântica, que resultou no livro Remanescentes da Mata Atlântica, assinado por Ricardo Cardim e publicado em 2018. Nas páginas desse primeiro livro está o “Rei”, ainda não destituído de sua coroa e reconhecido então como o maior pau-brasil do país. Nas visitas ao assentamento, entretanto, Ricardo e Alex ouviram a lenda de que existiria outro pau-brasil gigante na região.

Alex Vicintin conta que contratou então o guia deles na comunidade, Uanderson Matos, para descobrir o paradeiro dessa árvore, desconhecida pelos próprios moradores do assentamento, exceto um, testemunha de que a lenda era verdadeira. No final de novembro, Vicintin já se preparava para embarcar para o assentamento quando recebeu a mensagem do guia – “achamos” –, acompanhada de algumas fotos.

“A descoberta é deles [moradores do assentamento]. A gente foi lá simplesmente, registrou e mostrou para os jornalistas. Nós fomos o meio. A descoberta e o mérito, é tudo deles. É uma área bem remota dentro do assentamento, com muitas montanhas. É uma área em que eles já não plantam mais cacau e é uma mata mais primária mesmo, que não foi muito mexida nem para plantar cacau”, explica Vicintin, que é dono do viveiro Fábrica de Árvores, financiador do projeto.

O empresário conta que eles estão acostumados a documentar árvores gigantes, porém mesmo assim, esse exemplar os surpreendeu com suas “rugas” e feição envelhecida. “É uma árvore anciã”, reforça.

“Nós não somos cientistas da área, nossa pesquisa é de remanescentes da Mata Atlântica, então usamos medições de outros cientistas. E usamos como parâmetro o fato de que o outro pau-brasil [o Rei], que possui a metade da grossura, tem idade estimada por especialistas em 500 anos. Esse, então, a gente chuta por baixo que tenha uns 600 anos. A gente sabe que essa árvore estava aqui quando Cabral chegou, isso a gente tem certeza”.

O botânico Ricardo Cardim, idealizador do projeto, comenta que é incrível encontrar uma sobrevivente desta espécie vegetal que foi tão fortemente explorada durante cinco séculos. “Porque o pau-brasil, desde que os portugueses aportaram aqui, foi o alvo principal do desmatamento na Mata Atlântica. Ele foi saqueado durante os séculos 16, 17 e 18. No século 19, inventaram a cor vermelha artificial, mas aí descobrem que o pau-brasil é bom para fazer arco de violino e ele continua sendo desmatado. O que chegou ao século 20, 21, é quase nada”, diz Cardim.

Ele reforça ainda que em seu trabalho de pesquisa sobre os gigantes da Mata Atlântica, não encontrou nem mesmo menção a uma árvore de pau-brasil tão grande quanto esta. “Na minha opinião, é o maior pau-brasil já visto e registrado no Brasil”, aponta.

Como a árvore está dentro do território do assentamento, existe a preocupação sobre manter a proteção deste ancião, agora que ele não é mais apenas uma lenda. “Pelas nossas conversas com os locais, a gente sabe que a intenção é manter aquilo de pé. É uma área privada, então continua na mão deles”, diz Vicintin.

Ele acredita que o potencial turístico do maior e mais velho pau-brasil do país pode ajudar tanto a comunidade que vive no assentamento, quanto a preservação da árvore e de toda a floresta remanescente.


“A gente discutiu muito se divulgava ou não o lugar, mas eu acho que a maior arma para preservação é a divulgação, criar trilhas para visitação que gere renda para comunidade de forma que eles não se sintam pressionados a mexer na floresta. É geração de renda a partir desse ativo que eles têm”, acrescenta o empresário, que apelidou informalmente o lugar de parque das árvores gigantes. “Não tem só pau-brasil, tem sapucaia, jequitibá… tem muita coisa gigante lá”.

Atualmente, a comunidade já está aberta ao turismo, mas a atividade não é feita de forma estruturada tampouco recebe muitos visitantes.

“É uma árvore extraordinária! Como uma árvore tão antiga, tão bonita, que está em perfeito estado – está saudável mesmo sendo uma anciã –, sobreviveu a tanta destruição, a poucos quilômetros de uma rodovia? É um milagre. Essa árvore representa não apenas um patrimônio dos brasileiros, mas também mundial e deve ser visitada pelos brasileiros, preservada e festejada”, completa Ricardo.

Fonte: oco.org.br


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