AS ERVAS EM TAPEROÁ- BA

Por JULIA STÉFANY DE JESUS VILAS BOAS

 E ROSANGELA PATRÍCIA DE SOUSA MOREIRA-Instituto Federal da Bahia, Campus Valença

Resumo

Quilombos são comunidades que possuem trajetória própria, com modo de viver tradicional diferente das cidades, segundo o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. 

Além disso, tais comunidades podem ser pesqueiras, agricultoras e de fecho de pasto. Nessa linha, a comunidade da Graciosa - quilombo pesqueiro, está localizada próximo a BA 001, bem como é constituída por mais ou menos 100 famílias, sendo caracterizada como uma localidade pesqueira, e rodeada por um grande estuário marinho, onde pode encontrar o aratu, ostra, lambreta e carapeba, que serve de alicerce para os moradores. Para além do estuário, há o rio Graciosa que divide as cidades de Valença e Taperoá. Os moradores costumam pescar diversos peixes e mariscos que servem para o consumo próprio e para venda. 

É comum nas comunidades tradicionais que têm a pesca como exercício, exercer as duas funções para além da pesca, o manuseio da terra tanto para plantar frutas e verduras, quanto para a utilização das ervas medicinais. 

Por se tratar de uma área quilombola, há uma grande herança ancestral, o que torna as crenças hereditárias. Como retrata no livro Médicas-Sacerdotisas: “Remédio de branco é bom para branco, mas a gente é preto, o médico de preto é kam-souto” (SANTANA, 2018), que descreve um dos embates entre os Moçambicanos na época colonial, mostrando também que os remédios artesanais tem relação não só com a religiosidade mas também com a identidade. Neste contexto, Santana (2018) relata que era comum que pacientes africanos abandonassem o tratamento ai realizado e procurassem serviços de saúde ministrados pelas médicas sacerdotisas ou pelo Tinyanga como era chamado na época. 

Na contemporaneidade, o abandono de tratamentos médicos se dá por falta de recursos financeiros e influência religiosa, sem contar que nas comunidades há uma grande quantidade de terra que são utilizadas com o plantio de frutas como cacau, cupuaçu, graviola, abacate e etc, e esses espaços são aproveitados para o manejo também das folhas, fazendo a uma agrofloresta que consiste no melhor uso do local.

Uma das pessoas que detém esse conhecimento são as rezadeiras (os), essas explicações podem estar ligadas ao conhecimento e princípios da ancestralidade africana indígena, como no caso a utilização da folha certa para cortar o mal ou na preparação de chás (NASCIMENTO, 2014). 

Neste sentido, uma das imagens registrada no serviço de campo, com a entrevistada e rezadeira Olga, que mora na Comunidade de Camuruji. 

Nesta perspectiva, essa pesquisa teve como objetivo mostrar a importância das ervas através da percepção dos moradores, identificando as ervas existentes no local, analisando o nível de procura por parte dos moradores e ressaltando a relação de identidade por parte dos mesmos. 

Essas crenças perpassam por varias religiões, mas todas tem em comum a presença das folhas, para preparo e recomendações de chás e banhos que é ministrado pelas rezadeiras.

Essa tradição está presente também na comunidade de Camuruji, onde as atividades são muito semelhantes à de Graciosa. Foi perceptível no decorrer da pesquisa, que os moradores das localidades têm bastantes familiaridades com as ervas, usando com mais frequência os chás, que são consumidos por serem mais eficientes e saudáveis segundo os entrevistados. Mesmo essa prática sendo tão comum, não recebe a devida valorização da comunidade externa, considerando-as primitivas. 

As rezadeiras e, os moradores mais velhos, exercem um papel importante na preservação destes conhecimentos, por serem mais velhos a localidade, tornado assim possível catalogar no serviço de campo, mais de 70 tipos de folhas medicinais que auxiliaram enriquecer a pesquisa. 

Para tanto, a metodologia que foi aplicada utilizou o conhecimento empírico, com a ajuda dos questionários, a leitura de artigos científicos para melhor embasamento das discussões propostas, bem como o registro de imagens.

Com os resultados preliminares, é perceptível observar que as folhas, mesmo na atualidade, são utilizadas em qualquer campo, seja religioso, medicinal ou espiritual, reafirmando sua relevância para a sociedade, sabendo que ouve uma apropriação por parte da medicina, onde os saberes tradicionais eram usados para ajudar na cura de doenças (NASCIMENTO, 2014). 

A pratica da preparação e manejo das folhas sofreu bastante preconceito oriundo da igreja católica. É importante ratificar a sua resistência durante os acontecimentos, sendo a Graciosa e Camuruji as comunidades tradicionais que proporciona esse contanto com os saberes ancestrais em território quilombola.


VILAS BOAS, J. S. D. J., & MOREIRA, R. P. D. . S. (2021). AS ERVAS EM TAPEROÁ- BA. Cadernos Macambira, 4(2), 83–85. Recuperado de http://www.revista.lapprudes.net/index.php/CM/article/view/376


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