"Territórios Líquidos" no CosmoAngola

Nessa edição do Cosmoangola, vamos fazer uma viagem atraves dos "Territórios Líquidos", onde iremos  mostrar à relação dos povos tradicionais na preservação das Águas e dos Recursos hídricos.
#confluênciasalimentares 

Presente desde o nascimento do indivíduo - ou a seu retorno como membro ancestral ao grupo familiar -, o elemento água possui papel relevante em todos os ritos propiciatórios, sejam eles de nascimento, iniciação e morte ou seja (Mikaiá-(Iemanja), Ndandalunda(Oxum), Nzumbarandá-(Nanã).


No Brasil abundam os seres míticos ligados às Águas, Iaras, Sereias, Mãe d’Água.
Luís da Câmara Cascudo e Manoel Querino mostraram-se interessados na recorrência do tema e em sua origem. 
Câmara Cascudo (1940/2002) descreveu como a Mãe d’Água se
consolidou como mito brasileiro e observou que os espíritos aquáticos indígenas relatados pelos primeiros cronistas não possuíam características maternas nem sedutoras/encantadoras ao analisar as histórias do Ipupiara (nome de origem tupi, “um
homem-peixe feroz saindo da água para matar”) que chegam aos dias de hoje como histórias do Caboclo ou Negro da Água. 
Ao mesmo tempo, ele argumentou que a teogonia indígena predominante que se apresentou nos primeiros contatos com os europeus girava em torno da figura materna: “O índio dizia que tudo neste mundo tinha uma Mãe. 
Que devia haver uma Ci para todas as espécies animais, vegetais e minerais. 
O Sol era a Mãe dos Viventes e não o Pai” (op. cit.: 153). No entanto, as águas só estariam identificadas com um ser-mãe através da cobra gigantesca que também povoava esse
imaginário indígena: “Cada igarapé, rio, lago, tem sua Mãe e esta só aparece como uma serpente enorme. 
Não tem piedade nem aplaca a fome” (op. cit.: 154).
Ou seja, a Cobra Grande estava longe da forma física humana e de atributos do cuidado materno.

Câmara Cascudo tentou rastrear as mães d’água africanas no Brasil - que aqui também já teriam chegado como “mães”- e reparou na Kianda dos kimbundos e na Kiximbi dos mbakas (das quais aceita a definição como “sereias” africanas), assim
como enfatizou Oxum e Iemanjá (iorubanas), definindo uma devoção própria para elas.
O culto das Kiandas no Brasil prevaleceu sob os nomes de “Mam'etu Kissimbi, Mam'etu Nda nda Lunda, Mam'etu Kaiala e Mam'etu Nzumbà, todas ligadas as águas doces, ao mar e aos charcos”

Kianda vem do verbo “sonhar” em kimbundo, o que a relacionaria, como divindade marinha, à comunicação com o mundo ancestral dos antepassados.
Esse papel é relacionado a uma denominação bastante divulgada no Brasil, pelo termo “calunga”:
O mar também tem a sua sereia, como não podia deixar de ser. 
Em quimbundo, o mar chama-se kalunga, Este nome é aplicado a um outro ser sobrenatural, chamado Kalunga Ngombe ou Kalunga Ngumba consoante as regiões, que é o espírito que preside ao reino dos mortos. 

Este nome kalunga está portanto associado a algo que é eterno, como a morte, ou imenso como o mar. 

O Kilombo Tenondé se prepara para oCosmoAngola que acontece em Janeiro estre os dias 16 e 22, evento que reúne gente de todo mundo.
Para saber mais informações de participação, contribuições e apoios clique no link:

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