QUINTA-FEIRA DE JANEIRO É DIA DA LAVAGEM DO BOMFIM
A Festa do Bonfim é uma celebração religiosa que tem lugar em Salvador da Bahia, Brasil. Acontece no segundo domingo depois do Dia de Reis, no mês de Janeiro, com novenário solene e exposição do Santíssimo Sacramento pelo capelão da Igreja do Bonfim.
A Festa não deve ser confundida com a tradicional Lavagem do Bonfim, de caráter afro-religioso (embora atualmente se revista mais um perfil ecumênico), a qual ocorre na quinta-feira que a antecede, com grande participação do povo, carroças enfeitadas puxadas por animais e as tradicionais baianas com seus vasos com água perfumada, mais conhecida como água de cheiro.
Teodósio Rodrigues de Farias, oficial da Armada Portuguesa, trouxe de Lisboa uma imagem do Cristo, que, em 1745, foi conduzida com grande acompanhamento para a igreja da Penha, em Itapagipe.
Em julho de 1754, a imagem foi transferida em procissão para a sua própria igreja, na Colina Sagrada, onde a atribuição de poderes milagrosos tornou o Senhor do Bonfim objeto de devoção popular e centro de peregrinação mística e sincrética. Foram, então, introduzidos motivos profanos e supersticiosos no culto.
Todos se vestem de branco, a cor do orixá, e percorrem 8 km em procissão, desde o largo da Conceição até o largo do Bonfim. O ponto alto da festa ocorre quando as escadarias da igreja são lavadas por cerca de 200 baianas vestidas a caráter que, de suas quartinhas - vasos que trazem aos ombros - despejam água nas escadarias e no átrio da igreja, ao som de palmas, toque de atabaque e cânticos de origem africana. Terminada a parte religiosa, a festa continua no largo do Bonfim, com batucadas, danças e barracas de bebidas e comidas típicas.
Segundo o antropólogo Nelson Varón Cadena, a Festa do Bonfim nasceu no São João. E continuou na Páscoa
Foi no São Joao, 24 de junho de 1754, que se celebrou pela primeira vez a Festa do Bonfim__ com o translado da imagem do Senhor do Bonfim, em procissão, da Igreja da Penha até a Colina Sagrada, __ após, durante alguns anos, foi celebrada no período da Páscoa, até ser transferida por uma conveniência dos membros da Irmandade de Nosso Senhor do Bonfim, para janeiro, estabelecendo-se um critério, que hoje nem sempre prevalece, de realizar a Lavagem na segunda quinta feira após a Epifania, ou seja, a Festa de Reis.
Por que a festa deixou de ser celebrada no São João e na Páscoa.? Além do período chuvoso, nas datas referidas, Itapagipe tinha se transformado num local de veraneio, onde os baianos abastados construíram chácaras, sobrados e palacetes. Daí a conveniência de se celebrar o evento em janeiro. O veraneio itapagipano passou a abranger três grandes festas: Senhor do Bonfim, Nossa Senhora da Guia e São Gonçalo do Amarante. Em sequência. Mais de um mês de celebrações, praticamente, todos os dias, considerando os novenários e a programação musical e festiva agregada.
Além da transferência da data de celebração, mudou-se, por uma conveniência, não sei se da Irmandade, ou da Igreja católica, ou de comum acordo, a data de origem da festa. A festa se originou em 1754, como citado, mas, a referência de origem é 1746, data em que Theodozio Roiz de Farias, Capitão de Mar e Guerra e traficante de escravos, trouxe de Setubal (Portugal) a imagem do Senhor do Bonfim e instituiu o seu culto.
Culto é uma coisa, festa é outra. Na Bahia sempre se confundiu uma coisa e outra, por motivos de fé. Explico melhor: de MÁ FÉ dos cronistas, com a cumplicidade de algumas irmandades para validar datas-fake de origem. O culto a um orago é culto, devoção apenas. Festa é festa, o que pressupõe um novenário, procissão com andores, bandas de música, fogos de planta e de artifício, quermesses, decoração de ruas e residências, infraestrutura de serviços, casas de romeiros nas localidades distantes, água e comida, lenha para iluminar as noites escuras etc.
O fato é que independentemente de se comemorar o culto, ou a festa, o que a estas alturas tanto faz, a partir de 1803, deixou de ser evento de apenas um dia, o Domingo do Bonfim, com a introdução do novenário e no contexto: apresentação de Ternos e Ranchos, bandas militares e filarmônicas, improvisos de cantores de modinhas, seresteiros, torneios de argolinha, cavalhadas e uma feirinha de barracas autorizada pelo Conde dos Arcos, em 1811.
Os afrodescendentes, nos seus horários de lazer, se divertiam praticando o samba de umbigada, batucadas, jogando capoeira, no Largo do Papagaio, distante do Largo da Colina. E no Beco do Gilu, o samba de Eustáquio Murubeca mandava ver.
A romaria espontânea da Lavagem
Africanos e afrodescendentes escravos serviam seus senhores, nos palacetes e sobrados, cozinhando; montando as mesas nos faustos banquetes; lustrando a prataria; abastecendo as moringas com barris de água, transportados em burricos; lavando piso, janelas e paredes; despejando os penicos longe do espaço (não existia naqueles idos canalizações de esgotos).
E alguns trabalhavam na programação festiva: o famoso cantor de modinhas, Chico Magalhães, se exibia em vários espaços, tocando no seu piano de cauda que oito escravos carregavam no lombo, de uma esquina a outra. Chico improvisava canções à luz das estrelas e ao luar para encanto das plateias femininas.
Um dia surgiu a Lavagem do Bonfim, no modelo que prevalece até hoje, de romaria. Na quinta-feira anterior ao Domingo do Bonfim. Não há registros factuais de datas, nos livros da irmandade e nem nos arquivos baianos. Apenas indícios de que tudo teria começado espontaneamente com os escravos e libertos que carregavam água e lenha, para atender a demanda da festa, em carroças e burricos. Um percurso curto, restrito a Itapagipe. Do Porto da Lenha até a Colina Sagrada.
Se chamava Lavagem porque na quinta feira se lavava a igreja, tarefa delegada aos escravos e libertos, mulheres que lustravam as imagens, lavavam o piso empoeirado (as ruas eram de barro, não existia asfalto), deixando o templo nos trinques para o dia seguinte, a sexta feira, quando se celebrava uma missa, simbolizando o calvário e a morte de Jesus Cristo, prática que até hoje prevalece, com o componente sincrético de homenagem a Oxalá, dia em que os baianos se vestem de branco.
Novo percurso
O percurso Itapagipano da suposta origem da Lavagem, se ampliou com a construção da Avenida dos Dendezeiros, em 1798__ e mais tarde a avenida que partia do Largo de Roma até os Mares e daí até a Jequitaia. Estava definitivamente integrada a península Itapagipana com Salvador.
É aí que a romaria cresce em público, primeiro os marinheiros que coletavam esmolas em panos de vela, junto os devotos, e logo se incorporaram bandas musicais, filarmônicas, congadas, marujadas, danças de cucumbis, gôndolas, carros de boleia, cortejos de baianas, e mais tarde cavalos, carroças enfeitadas, bicicletas ornamentadas, corsos, fanfarras, caminhões e até trios elétricos, até sua proibição.
E a Lavagem, de coadjuvante do evento principal, passou a ter mais relevância para os baianos do que o Domingo do Bonfim. Visitantes ilustres participaram, ao longo do tempo, e deixaram valiosos relatos. Dentre eles, a destacar, o Príncipe Maximiliano de Habsburgo que anos depois, quando imperador do México, foi fuzilado pela milícia de Benito Juarez; os sábios austríacos Von Martius e Von Spitz; o famoso escritor Stefan Zweig que a Bahia honrou com um busto na Barra, dentre outros. E, a partir da segunda metade do século XX, os órgãos de turismo promoveram a Lavagem e interferiram na sua organização, atraindo turistas do Brasil e do mundo.
Nelson Varón Cadena, antropólogo e pesquisador, é conhecido por seus estudos sobre a cultura e as tradições afro-brasileiras, incluindo a famosa Lavagem do Bonfim, que ocorre em Salvador, Bahia. Esse evento, que combina elementos religiosos e culturais, é realizado anualmente na segunda quinta-feira de janeiro, reunindo milhares de pessoas em um ato de fé e celebração.
A Lavagem do Bonfim tem raízes no sincretismo religioso, envolvendo o catolicismo e tradições de origem africana. Durante o ritual, um cortejo liderado por baianas vestidas de branco caminha até a Igreja do Senhor do Bonfim, onde realizam a lavagem simbólica das escadarias do templo com água de cheiro. Essa prática simboliza purificação, renovação e devoção ao Senhor do Bonfim, associado a Oxalá no candomblé.
Nelson Varon Cadena Crédito: Arquivo CORREIO DA BAHIA
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