COMIDA: ELEMENTO CENTRAL NA OBRA DE SALVADOR DALÍ

Ovos, camembert ou pão... Tanto nas suas obras como na sua vida, a imaginação deste artista caprichoso foi nutrida por muitos pratos!

“O mole, o digestível, o comestível, o intestinal são parte natural da minha representação parnóico-crítica do mundo”, afirmou o artista nas suas Confesiones Inconfesables.

"Aos seis anos queria ser cozinheiro, aos sete anos, queria ser Napoleão. E minha ambição tem crescido constantemente desde então.Um dia será necessário admitir oficialmente que o que batizamos de realidade é uma ilusão ainda maior do que o mundo dos sonhos.Você tem que criar confusão sistematicamente, isso libera a criatividade, tudo que é contraditório cria vida!!" @Marc Riboud. SPAIN. Salavador DALI, Port Lligat, near Cadaques, on Costa Brava.

A comida é um elemento central e recorrente na arte surrealista de Salvador Dalí, frequentemente carregada de simbolismo e interpretações psicológicas. Dalí usava alimentos, especialmente itens como ovos, pão e frutas, para explorar temas relacionados ao desejo, à mortalidade, à fertilidade e ao inconsciente.

“a verdade está nos dentes” e que o “homem aparece tal como ele é quando ele tem o garfo na mão”. Les Diners de Gala

Famoso pelo seu inconformismo, o excêntrico Salvador Dalí nasceu em 1904 em Figueras, Espanha. Aos 18 anos ingressou na Escola de Belas Artes de Madrid , sendo depois expulso por rebelião. Mas o seu talento abriu as portas de galerias na Europa e nos Estados Unidos. Ele se tornou uma figura proeminente no surrealismo . Em 1929, conheceu Gala . Juntos, eles orquestram jantares sociais voluptuosos que alimentam a sua lenda. Artista prolífico, Dalí morreu em 1989, deixando uma obra monumental onde os alimentos terrenos ocupam um lugar especial.

No cerne das naturezas mortas , a comida inspira artistas há muito tempo. Dalí não foge à regra, mas acrescenta uma dimensão surrealista às suas obras, como em Les Œufs sur le plat (sem o prato). A evocação às vezes é mais sutil. Assim, A Persistência da Memória , pintura tão emblemática quanto seus bigodes, imortaliza seus relógios macios . Em sua autobiografia A Vida Secreta de Salvador Dalí , ele conta como as qualidades estéticas de um simples Camembert escorrendo saboreado no final de uma refeição lhe sugeriram essa cena surreal.

Principais elementos e seus significados:

Ovos: Representam dualidade, fertilidade e o nascimento. Muitas obras de Dalí apresentam ovos como metáforas para a criação e a transformação.

A pintura foi concluída em 1926, quando Dalí tinha vinte e dois anos, logo após terminar sua aula formal de arte em Madri, onde estudava os mestres holandeses. Está entre as primeiras de várias pinturas de pão de Dalí; um exemplo posterior é Cesta de Pão

Pão, encarnação do erotismo para Dali

O artista dedica um verdadeiro culto ao pão , encarnação do erotismo e evocação do sagrado . Uma obsessão que inspira este slogan: “Pão, pão, nada além de pão”. Dalí até sonha com uma Sociedade Secreta do Pão. Ele esculpe baguetes e pães expostos por toda parte. No hotel Meurice onde reside, encomenda móveis feitos de pão . E seu amigo padeiro Lionel Poilâne prepara um bufê espanhol bem crocante para ele!

Banquetes chocantes em restaurantes chiques 

Aparece em diversas formas, como no famoso "Cesto de Pão". Para Dalí, o pão simbolizava nutrição, espiritualidade e conexão com a tradição. Ele também via o pão como um objeto de devoção, quase sagrado.

Frutas: As frutas em suas obras, como romãs, representam vitalidade, erotismo e efemeridade, explorando a relação entre o desejo e a decadência.

Queijo derretido: Talvez o símbolo mais famoso relacionado à comida em sua obra seja o queijo derretido de "A Persistência da Memória". O queijo mole simboliza a relatividade do tempo e a fragilidade da existência.

Salvador Dalí saboreando Ouriços do Mar

Pinaúna: Salvador Dalí tinha uma relação curiosa com símbolos e elementos da natureza, especialmente os que desafiavam o senso comum. As pinaúnas (ouriços-do-mar) aparecem em sua obra e vida como elementos que misturam beleza, excentricidade e surrealismo. Ele as colecionava e as usava como objetos decorativos ou até ferramentas (como suportes para pincéis), mostrando sua fascinação pela textura e estrutura desses seres.

Esse apreço reflete o estilo de Dalí: transformar o ordinário em algo extraordinário, reinterpretando o mundo com um toque onírico. Para ele, até algo tão simples quanto uma pinaúna poderia ser um símbolo de inspiração artística.

Banquetes e alimentos exagerados: 

Epicuristas, os Dalís, quando estão em Paris, adoram sentar-se nos mais renomados restaurantes gourmet , incluindo o imperdível Tour d'Argent com sua vista deslumbrante da Catedral de Notre-Dame . Salvador e Gala organizaram ali vários banquetes orgíacos que ficaram na memória. O artista desenhou ainda o prato de assinatura da casa, o emblemático pato au sang – desenho ainda visível numa das janelas desta lendária morada.

Dalí frequentemente incluía cenas de banquetes surreais, com alimentos desproporcionais ou em contextos inusitados, sugerindo excessos e os impulsos instintivos da psique.

Contexto surrealista

No surrealismo, a comida é um tema fértil para explorar os desejos ocultos e os estados do subconsciente. Dalí elevou esse tema ao transformar itens cotidianos em símbolos carregados de emoção e complexidade, muitas vezes em cenários oníricos que desafiavam a lógica.

Essa abordagem reflete o interesse de Dalí pelas teorias freudianas, especialmente relacionadas ao desejo e à sexualidade, em que a comida também pode representar pulsões primárias do ser humano.

@elcocineroloko

📣 Conheça nossas páginas:

Facebook: @elcocineroloko

Instagram: @charoth10