É POSSÍVEL PRODUZIR ÓLEO DE PALMA SEM DESTRUIR FLORESTAS?

O excesso global de óleo de palma é um desastre para o ambiente. Em África, o Gabão quer provar que pode ser produzido sem destruir as florestas

Do editorial da National Geographic

A savana ocupava anteriormente mais de metade da plantação Mouila (gerida pela Olam), onde estes trabalhadores transplantam palmeiras jovens. O local foi escolhido para evitar mais desmatamento. O Gabão tem um plano nacional de gestão do solo que tenta “manter um equilíbrio entre os dendezeiros, a agricultura e a preservação da floresta”, garante Lee White, diretor da Agência Nacional de Terras.


FOTOGRAFIA DE 
David Guttenfelder

A Indonésia e a Malásia são hoje os principais produtores de óleo de palma. No entanto, o dendezeiro ( Elaeis guineensis ) não é nativo da Ásia, mas… da África. No oeste e no centro do continente, os arqueólogos encontraram nozes de palmeira que datam de 3.000 anos, enterradas no leito dos rios, nas profundezas da floresta.

No Gabão, estas plantas constituem uma cultura básica. Durante milhares de anos, as pessoas ferveram os frutos e trituraram-nos para extrair óleo, queimaram as cascas (contendo um caroço chamado “palmeira”) para se aquecerem e usaram as folhas tanto para cobrir telhados como para fazer cestos.

O Gabão pretende aproveitar o seu know-how ancestral para se lançar na produção de óleo de palma, hoje valorizado mundialmente. “Estamos a tentar encontrar um novo caminho para o desenvolvimento, sem derrubar todas as nossas florestas e preservando o equilíbrio entre o óleo de palma, a agricultura e a proteção das florestas”, explica Lee White, biólogo conservacionista e diretor da Agência de Parques Nacionais do Gabão.

O país tem menos de 2 milhões de habitantes, mas pretende desenvolver a agricultura em escala industrial. O governo utiliza avaliações científicas para decidir, dentro das suas vastas florestas, quais áreas preservar e quais abrir aos dendezeiros.

Seja em África ou no Sudeste Asiático, as plantações não estão prestes a desaparecer. Os países produtores dependem dos rendimentos que deles obtêm. E o cultivo de outras oleaginosas consumiria ainda mais terras.

Trechos do relatório “É possível outro óleo de palma? ” por David Guttenfelder, publicado na edição de dezembro de 2018 da revista National Geographic .

Sim, é possível produzir óleo de palma sem destruir florestas, mas isso exige práticas agrícolas sustentáveis, fiscalização rigorosa e compromisso das empresas envolvidas. Aqui estão algumas abordagens que podem minimizar o impacto ambiental:

Jocelyn C. Zuckerman, jornalista americana, escreveu Planet Palm: How Palm Oil Ended Up in Everything—and Endangered the World (Planeta Palma: Como o Óleo de Palma Acabou em Tudo — e Colocou o Mundo em Perigo), publicado em 2021.

Em sua pesquisa, ela viajou para várias partes do mundo, incluindo o Brasil, para investigar os impactos humanos e ambientais da produção de óleo de palma.

Na Bahia, especialmente em Salvador e Recôncavo, o óleo de palma — conhecido localmente como azeite de dendê — é um ingrediente essencial na culinária regional, que tem garantida sua preservação graças à cultura e das religiões de matriz afro-indígena.

Pratos como moqueca (um ensopado de frutos do mar) e acarajé (bolinhos de feijão-fradinho fritos) usam este óleo de forma marcante.

O trabalho de Zuckerman destaca como o óleo de palma, embora culturalmente importante em regiões como a Bahia, tem implicações globais complexas, incluindo preocupações ambientais e debates sobre saúde.

Produção em Terras Degradadas

Óleo de palma pode ser cultivado em terras já desmatadas ou degradadas, evitando a destruição de florestas tropicais. Reaproveitar áreas abandonadas ou subutilizadas é uma alternativa viável.

Certificação Sustentável

Iniciativas como a Mesa Redonda para Óleo de Palma Sustentável (RSPO) certificam produtores que atendem a critérios ambientais e sociais, como a proteção de florestas primárias e a redução de emissões de carbono.

Intensificação Sustentável

Aumentar a produtividade por hectare, utilizando melhores práticas agrícolas e tecnologias, reduz a necessidade de expansão de novas áreas para plantio.

Reflorestamento e Conservação

Empresas podem adotar compromissos de conservação, preservando áreas florestais dentro ou próximas às plantações e apoiando o reflorestamento em regiões desmatadas.

Políticas e Regulação

Governos podem implementar políticas mais rígidas contra o desmatamento ilegal e oferecer incentivos para produtores que optam por métodos sustentáveis.

Desafios

Embora existam soluções, ainda há desafios significativos, como a aplicação efetiva de regulamentos, a demanda global crescente por óleo de palma e o custo inicial de práticas sustentáveis.

Se bem implementadas, essas estratégias podem ajudar a atender à demanda por óleo de palma sem causar mais danos às florestas e aos ecossistemas.

David Guttenfelder é um renomado fotógrafo e fotojornalista conhecido por seu trabalho em questões ambientais e humanitárias. Embora ele tenha abordado vários temas globais em sua carreira, incluindo o impacto humano no meio ambiente, suas fotografias relacionadas ao óleo de palma (palm oil) destacam os graves impactos do cultivo insustentável dessa commodity.

Relação de Guttenfelder com o problema do óleo de palma:

Fotografia Documental

Guttenfelder documentou as consequências ambientais e sociais da produção de óleo de palma, especialmente no Sudeste Asiático, onde a expansão de plantações resultou no desmatamento de florestas tropicais, perda de biodiversidade e conflitos sociais.

Impactos Ambientais Capturados

Ele retratou florestas devastadas e a destruição de habitats de espécies ameaçadas, como orangotangos, tigres e elefantes, frequentemente deslocados ou mortos por causa das plantações de palma.

Enfoque nos Aspectos Humanos

Além do impacto ambiental, Guttenfelder também destacou questões sociais, como a exploração de trabalhadores nas plantações e o deslocamento de comunidades indígenas.

Conscientização Global

Suas fotografias, publicadas em veículos como National Geographic, ajudaram a aumentar a conscientização sobre o custo real do óleo de palma, incentivando diálogos sobre sustentabilidade e responsabilidade corporativa.

Seus registros visuais são ferramentas poderosas que ajudam a pressionar governos, empresas e consumidores a repensarem suas práticas e adotarem soluções mais éticas e sustentáveis.



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