POR QUE DEVERIAMOS VOLTAR A FALAR EM SABERES E OFÍCIOS DOS POVOS TRADICIONAIS
Para Freire, esses conhecimentos tradicionais, muitas vezes desvalorizados em contextos formais de educação, têm um papel fundamental no processo de aprendizado e na formação de sujeitos críticos. Eles representam uma forma de interação com o mundo que envolve habilidades práticas, crenças, valores e modos de viver que são transmitidos de geração em geração.
Esses saberes não apenas informam a vida das pessoas, mas também oferecem ferramentas importantes para interpretar e transformar a realidade. Na perspectiva freireana, a valorização dos saberes tradicionais no diálogo educativo é essencial para a construção de uma educação libertadora e inclusiva.
A valorização das comunidades tradicionais a partir dos seus ofícios está relacionada ao reconhecimento da importância cultural, social e histórica dos saberes e práticas que essas comunidades preservam e transmitem ao longo do tempo. Esses ofícios não são apenas formas de trabalho; eles refletem modos de vida, cosmovisões e estratégias de resistência diante de processos de marginalização e apagamento histórico.
Formas de valorização:
Reconhecimento como Patrimônio Cultural: Muitos ofícios tradicionais têm sido reconhecidos por órgãos como o IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) e a UNESCO, garantindo visibilidade e proteção às práticas.
Iniciativas Educacionais: Projetos como "Encontro de Saberes" inserem os saberes tradicionais no ambiente acadêmico, legitimando-os como formas válidas de conhecimento e integrando-os ao ensino formal.
Fomento à Economia Criativa: Incentivar a comercialização de produtos artesanais, como cerâmica, tecidos, alimentos típicos e medicamentos naturais, promove a geração de renda e fortalece as comunidades.
Resgate da Memória Histórica: Estudos, exposições e publicações sobre os ofícios tradicionais destacam o papel fundamental dessas práticas na construção da identidade nacional.
Sustentabilidade e Preservação Ambiental: Os ofícios das comunidades tradicionais geralmente estão alinhados com práticas sustentáveis, e seu reconhecimento pode impulsionar ações de preservação ambiental e de combate à exploração predatória.
Manuel Querino (1851-1923), um dos primeiros intelectuais negros do Brasil, destacou-se como historiador, etnógrafo, e defensor da valorização da cultura afro-brasileira. Em sua obra, ele enfatizou a relevância dos ofícios tradicionais como parte fundamental da contribuição dos afrodescendentes para a formação social, cultural e econômica do Brasil.
Querino abordou especialmente os saberes manuais e artísticos de negros escravizados e seus descendentes, destacando ofícios como:
Os saberes e ofícios das comunidades tradicionais referem-se ao conjunto de conhecimentos, práticas e técnicas desenvolvidos e transmitidos de geração em geração por povos indígenas, quilombolas, comunidades afro-brasileiras e outras comunidades tradicionais. Esses saberes estão intimamente ligados à cultura, espiritualidade, relação com a natureza, modos de vida e organização social desses povos.
Eles incluem práticas como:
•Artesanato tradicional (tecelagem, cerâmica, trançados de palha).
•Culinária típica, que reflete conhecimentos sobre plantas, ervas e alimentos regionais.
•Medicina tradicional, baseada no uso de ervas e rituais.
•Cantorias, danças e celebrações, preservando histórias e mitologias.
•Sistemas de manejo sustentável da terra e recursos naturais, como roças tradicionais e pesca artesanal.
Esses saberes são fundamentais para a preservação da identidade cultural, da biodiversidade e para o reconhecimento de diferentes formas de conhecimento.
Normalmente, a produção de povos e comunidades tradicionais – plantio, criação, caça, pesca, extrativismo, artesanato – está associada a relações de parentesco e compadrio e são baseadas em relações de troca e solidariedade entre famílias, grupos locais e comunidades.
A disciplina "Artes e Ofícios dos Saberes Tradicionais", parte do projeto "Encontro de Saberes", promove o diálogo entre estudantes e mestres de culturas tradicionais brasileiras, como Povos Indígenas, Quilombolas e Comunidades Afro-brasileiras. Seu objetivo é integrar esses saberes, frequentemente marginalizados pela universidade, ampliando as perspectivas acadêmicas e rompendo com a ideia de que apenas o ensino superior gera conhecimento válido.
Criada em 2010, com apoio dos Ministérios da Cultura e da Educação, a disciplina é ofertada em módulos, mesclando teoria e prática, e busca valorizar diferentes cosmovisões e epistemologias no ambientuniversitário.
Comunidades tradicionais historicamente ocupam territórios ameaçados pelo setor agropecuário, pelo garimpo, pelo desmatamento ou pela exploração desenfreada da fauna, flora e recursos hídricos. Esses povos, ao contrário, contribuem para a preservação da conservação desses territórios e manutenção da biodiversidade.
A abordagem da temática da valorização dos Povos e Comunidades Tradicionais nos permite também refletir sobre a inserção dessas pessoas nos espaços de produção de conhecimento, como as universidades, atuando na produção científica sobre a relação humana com os recursos naturais; refletir sobre a violência e o esquecimento aos quais são relegados; e sobre a representação política desses povos, a fim de ampliar o olhar para múltiplas formas de vida e vivências.
Não é possível valorizar, proteger e divulgar aquilo que não conhecemos. Portanto, discutir sobre a valorização dos Povos e Comunidades Tradicionais é fomentar a preservação da memória do nosso povo. Como disse o líder jamaicano Marcus Garvey: “Um povo sem conhecimento da sua história, origem e cultura é como uma árvore sem raízes”.
@elcocineroloko
📣 Conheça nossas páginas:
Facebook: @elcocineroloko
Instagram: @charoth10
Comentários
Postar um comentário