Marina Colasanti vence o prêmio Machado de Assis 2023


A escritora recebeu a notícia do prêmio em casa, quando fazia massa de pizza para sua filha, com quem irá jantar nesta quinta. “Estou muito emocionada, não esperava. Mas acho que sou merecedora porque tenho uma obra extensa. Nunca escrevi romance, mas muitos contos, minicontos, contos infantis, contos estranhos”, disse.

A entrega será no dia 21 de julho, no evento de aniversário da academia. O último prêmio entregue a uma mulher na ABL faz mais de 20 anos – foi em 2001, quando a escritora Ana Maria Machado venceu.

Marina Colasanti nasceu em 1937 na cidade de Asmara, capital da Eritréia, na África, no dia 26 de setembro de 1937. Morou em Trípoli, na Líbia e depois na Itália. Em 1948, veio para o Rio de Janeiro. Formou-se em Artes Plásticas.

É escritora, jornalista e tradutora, autora de poesias, contos, literatura infantil e infanto-juvenil. É casada com o também escritor Affonso Romano de Sant'Anna e tem duas filhas, Fabiana e Alessandra Colasanti.

À mesa!

Marina Manda Lembranças 

Sempre gostei de cozinhar e parece que o faço a contento ou, pelo menos, nunca ninguém reclamou dos meus pratos. Mas tenho pena dos jovens que, animados pelos realitys culinários e por uma certa onda gastronômica, se inscrevem em escolas ou cursos universitários de gastronomia. Estão escolhendo um caminho muito duro de trilhar. Como diz Claude Troisgros em “Histórias, dicas e receitas”: “os estudantes entram nesses cursos querendo sair chefs prontos, e isso está errado. Deveriam entrar para ser cozinheiros. Chef é um posto, uma função, como a de general, e chegar lá (...) é uma conquista. Na prática as coisas são mais difíceis e duras: é muito calor, é um trabalho puxado, são horas em pé, é pressão, não dá tempo de jantar...O chef às vezes parece maluco, grita...”

Noite dessas vi um chef maluco, gritando, quebrando pratos e insultando seus cozinheiros em meio a um calor infernal. Era o ator Bradley Cooper no filme “Pegando Fogo”, em que interpreta um chef em busca da sua terceira estrela no guia Michelin. Que tão diferente do ratinho cozinheiro de “Ratatouille”, que opera suas panelas em performance solo mantendo-se sempre adorável!

Quem cozinha, mesmo que apenas domesticamente, sabe o stress de controlar um ponto de cozimento enquanto se olha através do vidro do forno para cuidar que a sobremesa não queime e se prepara o molho da salada. Qualquer interferência nesse momento será mal recebida. E isso, mesmo que em casa as comidas não se sirvam empratadas.

A moda do prato servido pronto, instituída pelo avô de Troisgros e cada vez mais rebuscada a ponto de se aproximar da obra de arte, substituiu o serviço à francesa até então em vigor. Lembro meu encantamento de infância, morando em hotel, quando o garçom se aproximava, o prato coberto com a cúpula de prata a ser levantada pela mão enluvada de branco, revelando a comida que me chegava sempre como surpresa.

Fui a Shanghai e confesso não ter comido no restaurante de cozinha conceptual Ultraviolet do chef Paul Pairet. Nem poderia. Primeiro porque não gasto 800 euros numa refeição. Segundo porque é preciso fazer reserva e esperar muitos meses antes que chegue o próprio turno. Transcrevo a matéria através da qual tomei conhecimento do Ultraviolet: “Três menus ( UVA, UVB e UVC) são declinados durante três horas e meia ao redor de 22 pratos num ambiente sonoro, olfativo e visual susceptível de modificar a percepção dos gostos”. Muito modestamente, permito-me observar que todo ambiente “sonoro, olfativo e visual” modifica a percepção do gosto: a cantina de toalhas axadrezadas vermelhas nos prepara para o perfume de tomate e parmesão, assim como caracteres chineses fazem com que achemos mais saboroso o pato laqueado.

Ao contrário do chef Bradley Cooper, Pairet já conseguiu sua terceira estrela e o Ultraviolet foi classificado como o 48º melhor restaurante do mundo.

Mas há, em Ibiza, um restaurante mais caro que o dele, que se orgulha de ser “o mais caro do mundo”. O Sublimotion tem ambiente intimista, só doze couverts e oferece um menu único ao preço de 1.500 euros.


Tantos jovens entram na profissão, tantos chefs se constituem passando de uma cozinha a outra, enquanto as pesquisas nos dizem que, cada dia mais, os humanos das grandes cidades estão preferindo encomendar comida delivery e come-la em casa vendo uma série do que ir degusta-la nos restaurantes, mesmo aqueles com ambiente “sonoro, olfativo e visual”.

O MENU

Satã sentou-se à mesa. Comeu saladinha de rúcula, mozzarella de búfala, tomatinhos cereja. Cuidava do colesterol. De sobremesa, concedeu-se almas.

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