Portugal e Espanha propõem espigueiros a Património Imaterial da UNESCO
Investigadores e associações querem espigueiros de Portugal e Espanha como património mundial
Rede transfronteiriça Horrea quer candidatar os espigueiros da Peninsula Ibérica a Património Imaterial da UNESCO. A 19 e 21 de Maio reúnem-se em Arcos de Valdevez.
O maior espigueiro de Portugal fica em Carrazedo, Cabeceiras de Basto ADRIANO MIRANDA
A rede transfronteiriça Horrea, constituída por investigadores e associações de Portugal e Espanha, quer candidatar os espigueiros existentes nos dois países a Património Imaterial da UNESCO, divulgou esta terça-feira esta entidade.
Investigadores e associações querem espigueiros de Portugal e Espanha como património mundial
Em Espanha, nomeadamente na Galiza, Astúrias, Cantábria e Leon, o processo começou em 2021 e, em Portugal, "o primeiro passo" com vista àquela classificação vai ser dado no II Encontro Internacional Rede Horrea (nome que significa espigueiro em latim), que vai decorrer entre os dias 19 e 21, em Arcos de Valdevez, no distrito de Viana do Castelo.
Os espigueiros são estruturas rectangulares, também chamadas de canastro, caniço ou hôrreo, normalmente construídas em pedra, sobretudo granito e madeira.
A sua função é secar o milho grosso através das fissuras laterais, e ao mesmo tempo impedir a destruição deste por roedores através da elevação da construção e da dimensão dos apoios.
"O objectivo da Rede Horrea é classificar não apenas o património construído, mas também o imaterial, de caracterização da paisagem, dos saberes construtivos, de como trabalhar a pedra, a madeira e outros materiais", especificou o Fernando Barros.
Em Portugal, além de Fernando Barros, que representa o Centro de Estudos de Arquitectura e Urbanismo da Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, fazem parte da rede Horrea Alice Tavares, arquitecta da Universidade de Aveiro e presidente da Associação Portuguesa para a Reabilitação Urbana e Protecção do Património (APRUPP), e a Associação dos Amigos dos Hórreos, das Astúrias, que iniciou, em Espanha, o processo de classificação.
"Espanha já tem o processo mais adiantado, e não queremos que Portugal fique fora da classificação. Estamos abertos a que outros investigadores e outras associações se juntem a nós para estarmos na primeira linha deste processo", apelou Fernando Barros, acrescentando que a Horrea já iniciou contactos com autarquias do norte e centro do país, onde existem espigueiros, tendo obtido resposta de "dezenas de autarquias" interessadas em associar-se ao processo.
Investigadores e associações querem espigueiros de Portugal e Espanha como património mundial
Na "região norte, várias autarquias iniciaram o processo de inventário de arquitectura popular, no âmbito das revisões dos Planos Directores Municipais [PDM] e já começam a ter os espigueiros identificados e com alguns núcleos classificados".
Investigadores e associações querem espigueiros de Portugal e Espanha como património mundial
No Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG), "a aldeia do Soajo, no concelho de Arcos de Valdevez, tem 24 espigueiros na eira do Penedo, que estão classificados como património de interesse público, e no Lindoso, em Ponte da Barca, há 67".
"Fazendo um inventário apurado facilmente ultrapassaremos os três milhares de espigueiros, só no Alto Minho", sublinhou o investigador.
O encontro internacional da rede Horrea, conta com o apoio da Câmara de Arcos de Valdevez e é aberto ao público e de acesso gratuito. O programa inclui workshops para construção de canastros de varas, praticamente desaparecidos, palestras com especialistas internacionais neste tipo de património, e dois dias de visitas a núcleos de espigueiros situados junto ao PNPG.
Há ainda uma visita à aldeia de Sistelo, classificada pela UNESCO como paisagem natural.
"Sistelo está na origem da tradição de construção da paisagem para a cultura do milho, o que fez crescer o número de espigueiros. É uma aldeia interessante para se perceber a transformação da paisagem associada à construção destas estruturas", indicou Fernando Barros.
Fonte Público
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