Comida é Cultura, Cultura Alimentar dos povos.

Existem muitos debates, em diversos campos do conhecimento a cerca do conceito de Cultura, mas é inegável que a alimentação pode aportar muito sentido à esse conceito.

Segundo Barthes: a alimentação é considerada multidimensional, como algo que molda a nós mesmos, nossas identidades, nossas culturas e, em última análise, nossa sociedade.

Alfredo Bosi, diz que cultura é o conjunto de práticas, de técnicas, de símbolos e de valores que devem ser transmitidos às novas gerações para garantir a convivência social, sua raiz esta ligada à agricultura (ou cultura da terra, do campo), ou seja o princípio natural do ato de alimentar-se.

Nós conectamos aos nossos grupo culturais ou étnicos por meio de padrões alimentares, a comida é freqüentemente usada como um meio de manter nossa identidade cultural.

Pessoas de diferentes origens culturais comem alimentos diferentes, as áreas em que as famílias vivem e de onde seus ancestrais se originaram influenciam o gosto e o desgosto alimentar.

Segundo Massimo Montanari, para os seres humanos, a comida é cultura e não apenas pura natureza, devido à adoção,  como parte essencial de suas técnicas, dos modos de produção, de preparação e de consumo de alimentos, bem como o conhecimento sobre plantas próprias para consumo.

Essas preferências alimentares resultam em padrões de escolhas alimentares dentro de um grupo cultural ou regional, e a Cultura Alimentar pode ser definida como as atitudes, crenças e práticas que envolvem a produção e o consumo de alimentos e a cultura do território.

Assim como roupas diferentes significam coisas diferentes, por exemplo, o jaleco branco de um médico, o uniforme de um policial ou militar, a comida também transmite um significado, mesmo variando de cultura para cultura.

A Cultura Alimentar incorpora nossa etnia, territorios, nossos patrimônios alimentares e culinarios, nossa herança cultural, além de fornecer um poderoso mecanismo de comunicação sobre os sistemas alimentares dos Povos Tradicionais, tanto externamente quanto dentro de nossas famílias e comunidades.

"A Cultura Alimentar é uma subdisciplina dentro do campo da alimentação, e exerce bagagem crítica da compreensão de uma cultura."

Os antropólogos e pesquisadores culinários forneceram uma maior compreensão de amplos processos sociais, como política, economia e criação de valor e as construções sociais da memória coletiva.

Simplificando, você não pode estudar um país e desenvolver uma etnografia dessa cultura sem entender o papel que os alimentos e a produção de alimentos têm em todos os níveis da comunidade.

Os arqueólogos procuram evidências de cultura através de escavações e locais antigos para as evidências físicas deixadas por culturas anteriores.

Eles encontram pistas sobre o passado para saber como os ancestrais viveram e trabalharam. Um antropólogo de alimentos que trabalha com arqueólogos investiga a cultura alimentar da comunidade por meio de restos de comida deixados em fogueiras, na analise da qualidade da terra (terra preta indígena)e nos objetos encontrados.

A comida é o eixo da sociedade e cria uma conexão transversal entre crenças, etnia, ancestralidade de culturas coletivas e ações individuais, desenhando assim os patrimônios imateriais e a herança cultural.

Numa escala maior do que a maioria das pessoas imagina, a comida não é apenas uma parte da cultura, ela pode definir a cultura.

Os alimentos, as técnicas, os utensílios, e a culinária tradicionais são transmitidos de geração em geração nas famílias e comunidades.

No Brasil, o Laboratório de Criação da Escola de Gastronomia Social em Fortaleza vem dedicando espaço à pesquisa, de acordo com a organização, a pesquisa sobre a cultura alimentar objetiva destacar pessoas e saberes que fazem a cadeia de produção do alimento, a soberania alimentar de povos tradicionais (indígenas, quilombolas, ribeirinhos, extrativistas), a economia do mar e do mangue, a economia criativa, o empreendedorismo de pequenos produtores, a agricultura familiar, a agroecologia, entre outras áreas e temáticas que possam fortalecer a cultura alimentar e a gastronomia cearense.

"O significado da comida é uma exploração da cultura através da comida. O que consumimos, como adquirimos, quem prepara, quem está à mesa e quem come primeiro é uma forma de comunicação ou seja, tem uma base cultural rica, além de apenas nutrir o corpo, o que comemos e com quem comemos pode inspirar e fortalecer os laços entre indivíduos, comunidades e até países."

Áreas onde a família ou pessoa perderam contato com seu patrimônio um dos primeiros lugares a recorrem são as escolas ou aulas de culinária para aprender são suas tradições alimentares culturais.

Em muitos países, inclusive no Brasil, os imigrantes vem aportando ao seu novo lar, a comida com a qual cresceram em seu país, em muitos casos, passaram essas tradições para seus filhos, que com a guerra e o conflito, muitas pessoas foram apartadas de sua cultura, e de sua cultura alimentar.

Era impossível em algumas áreas obter ingredientes e itens familiares que permitissem a criação de receitas de família, como resultado, muitas comunidades criaram o que ficou conhecido como  microcozinha, este é um método de utilização de ingredientes locais em receitas familiares que exigiam diferentes ingredientes tradicionais.

Em muitos casos, as cozinhas regionais dependem do que pode ser cultivado em uma área específica. Todos nós sabemos que o milho, o feijão, a abóbora e o tomate junto com o chocolate vieram das Américas e encontraram os climas mais quentes da Ásia e da Europa onde poderiam ser cultivados.

Em Yucatan , por exemplo, os tamales  são feitos com folhas de bananeira enroladas em vez de palha de milho, nMalásia, as  tradições de Baba Nyonya  incorporam os pratos tradicionais dos imigrantes chineses com ingredientes locais para criar uma micro cozinha, a Culinária Parsi na Índia é uma fusão das tradições iranianas com a culinária indiana.

Enfim, o que você come, como come e quando come pode fornecer muitas informações sobre uma cultura específica, também ajuda a contar as histórias das pessoas dentro dessas culturas. 

O estudo de microcozinhas  que são construídas a partir de adaptações de ingredientes locais por imigrantes está se tornando uma tendência em vários países, e podem potencializar a economia solidária.

Quando crianças, crescemos comendo os alimentos específicos de nossas culturas, por exemplo, pessoas nascidas no Reino Unido, comendo feijões enlatados como vegetais, servidos várias vezes por semana. Isso não é algo que uma pessoa nascida no Canadá teria comido.

Sem desconsiderar, podemos acompanhar a crescente demanda pelo Turismo Étnico, onde a presença da cultura alimentar, ressalta a importância historica e cultural de territórios, atraindo visitantes nacionais e internacionais.

Panquecas de batata ou Boxty, fazem tradicionalmente, parte da dieta irlandesas, junto com  Soda Bread, no café da manhã irlandês completo, servido sempre na manhã de Natal e na Páscoa.

Uma mãe judia prepara uma ótima canja de galinha, também conhecida como Penicilina Judaica, para quem está resfriado, nas Filipinas, a sopa contém arroz em vez de macarrão e contém muito gengibre, conhecido como remédio para náusea e dor de garganta.

Em alguns países asiáticos, uma grande tigela de mingau de arroz é servida e, ocasionalmente, coisas como ameixas amargas ou peixes em conserva são adicionados.

Da mesma forma, no Paquistão, o mingau é uma combinação de arroz e lentilhas chamada Khichdi.

Nos países da Europa Oriental, como a Rússia ou a Polônia, uma tigela gigante de borscht, é parte fundamental e, na Hungria, o remédio é alho e mel.

Em muitos lugares da Europa Ocidental,  o mel é usado para aliviar dores de garganta e geralmente é misturado com limão.

Em muitos países, você pode aprender muito sobre a cultura local simplesmente perguntando aos vendedores em mercados de rua, cozinheiras e garçons em restaurantes.

Todas as pessoas, quando estão fazendo turismo, buscam observar a maneira como as pessoas locais comem e pedem comida em restaurantes e sigem seu exemplo.

Em muitos países mediterrâneos quentes, o almoço é uma grande refeição para abastecer o seu dia e o jantar é comido muito tarde e pode consistir apenas em pequenos pedaços como tapas, tostas, ou sopas frias.

Essas tradições da cultura alimentar são transmitidas e se tornam parte integrante das várias culturas às quais estão ligadas.

Com várias diásporas ao longo dos séculos, muitas cozinhas tornaram-se parte integrante de suas pátrias adotivas. 

Se pensarmos na comida italiana em Nova York, na culinária judaica em Montreal e nas tradições da comida chinesa no oeste dos EUA, Alimentos do Leste Europeu nas planícies e pradarias do Canadá, mas, o que sempre permanece com essa cultura alimentar é o fato de que ela reflete suas crenças de origem, valores, história única e estilos de vida.

Nessas respostas, a comida nos diz algo sobre a maneira como uma cultura encara a vida, ao final, podemos dizer que a comida funciona simbolicamente como uma prática comunicativa pela qual criamos, manejamos e compartilhamos significados com os outros. 

A compreensão da cultura, dos hábitos, dos rituais e da tradição pode ser explorada através da alimentação e da forma como os outros a percebem.

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