Jarê, o ‘candomblé de caboclos’ típico da Chapada Diamantina
Liderado por senhoras africanas nagô, a fé sintetiza kardecismo e influências africanas e indígenas
O espetáculo do jarê é encenado em uma cidade com pouco mais de 13 mil habitantes, a menos de quinhentos quilômetros de Salvador: Andaraí. Simboliza não apenas uma soma orgânica de diferentes culturas existente apenas nas Lavras Diamantinas, mas uma trincheira de resistência.
Considerado uma espécie de “candomblé de caboclos”, o que o diferencia das cerimônias realizadas na capital é a forma musical com batidas diferentes e a construção autônoma dos atabaques imitando a produção dos índios — em Andaraí, o instrumento é conhecido como couro*.
O município de Andaraí é dividido entre a “metade de pedra” e a “metade de areia”, inspirado pela exploração diamantífera na região.
O centro histórico fica na “parte de pedra”, a que tem incrustada em suas ruas parte da história da exploração do diamante na cidade. A “porção de areia”, mais recente, corresponde a antigas propriedades rurais e a algumas faixas de terras cedidas pela paróquia local há cerca de cinquenta anos.
Na primeira, entre casebres antigos amontoados, está a Casa de Ogum, uma espécie de catedral desta religião. Ao chegar perto do terreiro, consigo ler, em caixa alta, uma saudação ao Divino Espírito Santo, e aos três irmãos: São Cosme, São Damião e São Roque, que, segundo sugere a plaqueta fixada na parede, sustentam o templo.
A ideia inicial era fazer um documentário que contaria a história do jarê no município. Porém, logo a pandemia de covid-19 se instalou e por isso, optamos por interromper as entrevistas. “Deus vos salve Casa Santa / aonde Deus fez a morada / Onde mora o Cálix Bento / e a hóstia consagrada, e a hóstia consagrada / Pelo Cálix bendito que Jesus já levantou / que Jesus já levantou” Foi através desses versinhos cantados com a voz intermitente, expressando exaustão, que Dona Idalina nos recebeu.
Segundo ela, essa é a sua “cantiga de frente”. Muito conhecida pelo povo de santo, a cantiga ao toque do couro fica ainda mais emocionante.
Negra retinta de 85 anos, dona Idalina começou a arar esse terreno ainda muito jovem. “Não entrei no jarê por boniteza ou vaidade. Cumpri as ordens de Deus e de Ogum de Lei. Não vi a hora que entrei, quando me dei fé já estava dentro. Atendi ao chamado para fazer as rodas de samba”, afirma a mãe-de-santo. Ogum de Lei é o ancestral da matriz iorubá associado à guerra e ao fogo e aplicador da lei de Xangô, orixá da justiça.
Sua jornada no jarê dura mais de 75 anos. Iniciada ainda criança, ela iniciou um movimento de povoamento religioso em outros municípios, devido a sua numerosa prole de filhos de santo. E disso ela se orgulha. “Tenho filho de santo em São Paulo, em Salvador, em Feira de Santana. Nesses lugarzinhos todos eu tenho filho de santo”, orgulha-se. Não foi apenas pelo jarê que Idalina elaborou humanidades; em suas mãos, mais de uma centena de recém-nascidos viram brotar a luz pela primeira vez, já que a curandeira também acumulou por um bom tempo o ofício de parteira.
Fonte: Carta Capital
Em 9 de Abril de 2016, estivemos no Remanso Quilombola fica na Chapada Diamantina Bahia.
No evento, preparamos o Barreado de Banana Verde, onde as carnes foram cozidas lentamente por 18 horas em fogão a lenha, as folhas de Batata Doce, deram um brilho especial ao prato.
confira esse registro da Oficina Sotoko Qilombola.
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