Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana

Verbete B-Bacalhau da Irmandade

Não é de hoje a perseguição sofrida pelos muçulmanos, na Bahia seiscentista eles usaram uma estrategia inteligente para escapar, utilizando o Toucinho na preparação de uma Bacalhoada, que até hoje é servida na Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, foi a forma encontrada para ludibriar a perseguição e contra acusações perigosas, por serem Mulçumanos, e que poderiam levar à morte ou deportação.

A elaboração da revolta foi dos malês, mas, naquela noite de janeiro, participaram escravos e libertos de várias etnias e orientações religiosas. Os mais numerosos foram os nagôs-iorubás e os haussás. 












O objetivo, tudo indica, era envolver na revolta também os escravos dos engenhos do Recôncavo, numa das principais revoltas negras da Bahia.
Influencias das culturas Islâmicas na Bahia e sua culinária.
Antes do efetivo início do processo de islamização do
continente africano, a África Ocidental vai conhecer um padrão de desenvolvimento bastante alto. 
Os antigos Estados de Gana, do Mali, do Songai, do Iorubá e Benin, são excelentes exemplos de pujança das civilizações pré-islâmicas.
O povo Ashanti estão concentrados nas regiões central e sul do Gana, bem como a Costa do Marfim. 
O povo Hausa vivem predominantemente na Nigéria e Níger, bem como norte de Gana.
Existem pouquíssimas informações sobre as influencias da cozinha do povo (Haussas), na Bahia, fui buscar em Nina Rodrigues, para falar um pouco do Arroz de Haussá, num texto curioso:
Uma recordação da infância.
Ruy Barbosa estava na Bahia. Vinha, pregoeiro do voto popular, fazer a propaganda da sua candidatura à Presidência da República. 
Na bella vivenda da família Augusto Vianna, na Graça, um almoço íntimo, bem baiano, reuniu numerosos amigos do senador. E surgiu um prato de “Arroz de Haussá”. Naquele tempo negro era negro, não entrava nas cogitações de brasileiro fino. 
Malê era como os nagôs-iorubás chamavam todos os adeptos da religião islâmica e a expressão acabou sendo usada também na Bahia. 
Os mais numerosos foram os nagôs-iorubás e os haussás. O objetivo, tudo indica, era envolver na revolta também os escravos dos engenhos do Recôncavo, o termo malê vem da palavra haussá “malãm”, herança árabe, que significa professor, mestre, explica João José Reis, historiador baiano. 
Os haussás que chegavam na Bahia, eram majoritariamente islâmicos e muitos nagôs-iorubás foram convertidos na Bahia ou ainda na África. Alguns africanos consideravam os malês arrogantes, mas os seus amuletos eram respeitados e usados por muçulmanos e não-muçulmanos.
Esses africanos muçulmanos que sabiam ler e escrever – numa terra onde até os mais ricos eram analfabetos – estavam, de fato, defende o historiador, promovendo um movimento de conversão ao islamismo na Bahia. Nesse processo, o aprendizado do árabe era parte fundamental. Reunidos em suas casas, em quartos alugados, no local de trabalho ou onde mais fosse possível, os malês ensinavam uns aos outros a ler e escrever, pregando a crença em Alá.

Seguindo a tradição descrita pelo pesquisador Manuel Querino, no período do Ramadã, faziam apenas refeições de inhame com azeite de cheiro e sal, bolas de arroz machucado com açúcar e água.

A devoção a Nossa Senhora do Rosário tem sua origem entre os dominicanos, por volta de 1200. São Domingos de
Gusmão, inspirado pela Virgem Maria, deu ao Rosário sua forma atual. 
Isto pode ser comprovado em episódios revelados em sua iconografia. A primeira irmandade do rosário foi instituída pelos dominicanos em Colônia (Alemanha), em 1408. Logo a devoção se propagou, sendo levada também por missionários portugueses ao Reino do Congo.
As sociedades e irmandades religiosas negras, instituições das quais muitos deles buscaram se aproximar, principalmente após a revolta. Nesses ambientes, eles podiam continuar expressando sua fé monoteísta, ainda que agora católica, e continuar organizados, construindo redes de ajuda mútua, inclusive para a compra da alforria. Criada em 1685 pelos angolas, a Irmandade do Rosário dos Homens Pretos, só após um bom tempo, começou a aceitar
integrantes brasileiros e, depois, negros de outras etnias. 

A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos, em Salvador, Na Bahia colonial entre os séculos XVI e XVIII, havia uma grande concentração de população escravizada de originárias dos reinos do Congo e Angola, usando as experiências religiosas do cristianismo já vivenciadas na África Negra se articularam formando irmandades. 

Muitas irmandades negras se formaram em igrejas da capital e do interior especialmente pela influência Bantu. Podemos citar algumas: na Conceição da Praia, Sant’Ana, Santo Antônio Além do Carmo, no interior Valença, Camamu e etc. (Viana Filho, 1946). Ainda outras com nomes de Bom Jesus do Martírio, Santa Ifigênia, São Benedito, Nossa Senhora da Boa Morte na antiga Igreja da Barroquinha de onde surgiram as primeiras casas de culto do candomblé. 
É nesse contexto que em 1685 foi criada a Irmandade de Nossa Senhora do Rosário ás Portas do Carmo (Irmandade dos Homens Pretos) na antiga Igreja da Sé. Uma das irmandades negra mais antiga de que se tem registro no país. A Irmandade foi elevada ao Grau de Ordem Terceira em 02 de julho de 1899 pelo então Bispo D. Jeronymo Thomé denominando-a de Venerável Ordem Terceira do Rosário de Nossa Senhora ás Portas do Carmo (Irmandade dos Homens Pretos).
Estudos demonstraram que o colar de contas ou Rosário é originário da Índia Bramânica e do Hinduísmo, usado também no budismo e no Islamismo. Ele também se relaciona com o cordão do oráculo do Ifá. Enquanto que na Grécia, e em países do Norte da África e da Ásia tem caráter laico servindo para acalmar os nervos, no ocidente ele é exclusivamente religioso. A devoção do Rosário cresceu junto com as religiões tradicionais negras africanas. 
Formada originalmente por escravos vindos da região onde hoje estão Angola e Congo, a associação cumpria fins que hoje podem ser definidos como previdênciários, pois garantia pensão para os familiares dos seus associados em caso de morte ou invalidez. Além disso tinha um fundo pecuniário para compras de aforria.


É possível pensar no significado do rosário enquanto articulador da religiosidade, da memória, lutas diversas, da identidade e de resistências para negros escravizados e livres na Bahia. 
O rosário e a Mãe do Rosário foram utilizados nas fugas individuais e coletivas, como auxílio na cura do banzo, nos momentos de reviver as alegrias e festas católicas já vivenciadas em África especialmente no antigo reino do Congo que já tinha experiência com o catolicismo. Como também, nas reivindicações de feriados e descanso onde os negros usavam para construir sua igreja própria. 
Muitos dos membros que frequentaram e frequentam a irmandade são também lideranças religiosas do Candomblé. Algumas delas tiveram contribuições imprescindíveis no cenário Nacional e local, podemos citar o exemplo de Eugênia Ana dos Santos, Mãe Aninha ou Oba Byí que criou o Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá, foi irmã do Rosário e em seu sepultamento aconteceram os dois ritos religiosos.




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