Vatapá, este senhor majestoso!!

Sou um suspeito quando tenho que falar sobre este prato, para mim,  alem de ser o mais elegante da comida baiana, consegue transpor fronteiras e mostrar toda sua nobreza em outras capitais, se permitindo a utilização de outros produtos no seu preparo, quer mais generosidade?


O Vatapá já foi tema de musica de Caymmi, enobreceu as mesas no império, comparado ao nosso pais pelo poeta Gregório de Matos, que sentenciou "Vatapá é o Brasil em forma de comida”,  foi provado pelo cientista Einstein, que pouco satisfeito pediu para repetir com mais pimenta, e chegou até hoje cumprindo sua marca de prato com muita personalidade e identificação de um povo.

Com farinha de gerra, de trigo, fuba, pão molhado e até farinha de rosca(nunca provei, mas já me dissera), nem me importa eu quero é Vatapá, este prato de consistência cremosa, manjar para agradar os deuses africanos, não tem registros muito definido, como muito do receituário da cozinha afro-baiana, coisa que se entende bem, e função de ser uma cultura oral, onde muitas das informações podem ter se perdido, dando lugar a adaptações.  

O seu preparo,  incluir pão molhado, fubá, gengibre, amendoim, castanha de caju, leite de coco, azeite-de-dendê, muita cebola e camarão seco defumado.


Muito frequente na Culinária do Amazonas, onde pode ser preparado com camarões frescos inteiros, ou secos e moídos, com peixe, com bacalhau ou com carne de frango, acompanhados de arroz. A sua consistência é cremosa.

Também é muito famoso no Amazonas, Amapá e no Pará, onde a receita sofre variações como a ausência de amendoim e outros ingredientes comuns na versão tradicional baiana.

No Maranhão, é um prato bastante comum, em comemorações dos festejos juninos, mas com alterações bem marcantes, tomates pimentões,temperos verdes(coentro, cebolinha...) muito pouco dendê e até arrozina(fuba de arroz) para engrossar

O vatapá é influência da culinária africana trazida pelos escravos nos navios negreiros, a partir do século XVI, onde era vendido por "Negras de Ganho"  mulheres escravas colocadas no ganho por seus proprietários, como mulheres negras livres e libertas que lutavam para garantir o seu sustento e de seus filhos.nas ruas do Salvador, em tabuleiros, com uma variedade de acepipes.

A Cidade da Bahia, sempre registrou uma relação intima com a comida de rua, por vezes mais perversas, não raro, proprietários bem sucedidos colocavam também suas escravas no ganho.

Muitos se arvoram em dizer, que ele provém das Açordas Portugesas, reinventando através das mãos negras baianas, ou a receita Tupinambá feita com farinha de guerra, mas tudo isso perde a importância quando ele chega majestoso em nossa mesa.

Receitas de Afeto


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*Vilhena notou que: das casas mais opulentas desta cidade, onde andam os contratos, e negociações de maior porte, saem oito, dez, e mais negras a vender pelas ruas a pregão as cousas mais insignificantes, e vis; como sejam iguarias de diversas qualidades, mocotós, isto é mão de vaca, carurus, vatapás, mingau, pamonha, canjica, isto é papa de milho, acaçá, acarajé, bobó, arroz de coco, feijão de coco, angu, pão-de-ló de arroz, roletes de cana, queimados isto é rebuscados a 8 por um vintém, e doces de infinitas qualidade.. 

Isso mostra que alem de ser uma comida de grande beleza e sabor, tem na força da resistência, sua marcas mais profundas!!


 *Luis dos Santos Vilhena, pesquisador e autor de A Bahia no seculo XVIII, pp 130-131

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