O que quis dizer Ariano Suassuna com a frase: "Não troco o meu "oxente" pelo "ok" de ninguém!"?

O dramaturgo pernambucano traz à tona uma crítica reflexão acerca da problemática sobre o preconceito linguístico, bem como um sentimento de inferioridade sobre nossa linguagem.

Na gastronomia não seria diferente, muitas das preparações, fazem referência à cultura francesa, em parte, pois sua Culinária, foi a primeira à estruturar uma gramática com lexicos, metodologias, receituários e técnicas de cocção.

Com o advento da globalização, do avanso da internet, a popularidade e a democratização da culinaria, à gastronomia tornou-se uma nova Babel, dando visibilidade à culturas gastronômicas pouco conhecidas, mesmo sendo históricamente importantes.

A linguagem gerando pertencimento motor da identidade.

A gastronomia brasileira carece um discurso de pertencimento, onde suas praticas, sejam condizentes com a realidade de nossa gente, que seja um espelho do seu caráter, nossa criatividade e produtos.

Nossa gastronomia e sua riqueza de elementos, sua relação com a cultura e os comportamentos sociais dão origem a uma variedade de estilos representativos de diferentes grupos, que nos servem de referência para a construção da nossa identidade pessoal e coletiva.

A construção identitária passa primeira instancia pela linguagem, e na gastronomia não haveria de ser diferente, as criações culinárias devem refletir nossa cultura, nossas referencias estéticas e simbólicas mais profundas. 

Sem ceder aos estrangeirismos fáceis, mas pelo contrario, buscar o valor intrínseco que nos reserva a beleza criativa do nosso linguajar. 

Falo isso, pois percebo a força com que muitas criações são batizadas com referenciais que não fazem parte da nossa cultura, vem tendo espaço em nossa culinária, omitindo, negando e apagando os registros da nossa verdadeira essência. 

Importante ter em mente que nossa cultura, carrega traços bem claros dos nossos valores e como nos versos "Se farinha fosse americana, mandioca importada Banquete de bacana era farinhada Se farinha fosse americana, mandioca importada Banquete de bacana era farinhada" 

A comida participa da construção do corpo não só do ponto de vista da sua materialidade como também nos aspectos culturais e simbólicos. 

Enfim resgatar e reconhecer a importância das antigas tradições culinárias de nossa gente, e acime de tudo acreditar que é na inserção criativa de novos elementos que ela sobreviverá e terá força nacional.

Neste sentido é importante ressaltar os lados positivos, mas principalmente certa imposição mercadológica, que faz com que nossa linguagem se mantenha colonizada, sem demonstrar seu grande valor e diversidade, pois através das gramáticas culinárias de cada região, teríamos um contato muito mais aprofundado com nossa cultura, nossos saberes bem como, reconhecer a importância para a produção coletiva local.

Cabe, antes de tudo, destacar que variações geográficas e até mesmo culturais são responsáveis pela criação de marcas próprias de um povo, cujo somente tem a contribuir com a construção social e com o enriquecimento da nação,  mas também sendo uma categoria filosófica, gerando, tensões e resistências que podem ser analisadas sob diversas perspectivas na contemporaneidade, como: uma perspectiva sociopolítica pela redistribuição de poder, recursos econômicos, meios de produção e controle social.


Outro fator a ser destacado, é que mesmo existindo uma dinâmica linguística, muitas criações tradicionais estão sujeitas à apropriação cultural dos saberes das cozinhas tradicionais, para posteriormente serem utilizados com objetivos financeiros, que não retornam para as comunidades criadoras, ou seja o colonialismo usando todas as suas ferramentas para subestimar, e manter a hegemonia cultural.


A Espanha é um país que mesmo passando por grandes dificuldades, a fome, as guerras conseguiu impor e manter sua cultura gastronomica, além de ser uma grande referência gastronômica contemporânea.

Segundo Joan Roca, "a gastronomia é uma linguagem que usamos para explicar nossa terra, cultura, memória, vivências, viagens, e ficamos gratos quando o cliente vem disposto a entender essas mensagens”.

Seu filho mais velho do casal Josep Roca e Montserrat Fontané, Joan herdou dos pais o gosto pela gastronomia. 

Juntos, procuram construir um cardápio baseado na culinária tradicional catalã, mas com muitas experimentações. 

Segundo Joan, que não se considera um artista, mas sim um artesão da cozinha, eles procuram novidades na arte e na engenharia. “Gostamos de dialogar com a arte, aprender com ela, buscar suas complexidades.”

Enfim "se nós tornamos o que nós comemos", nada mais justo que reafirmarmos esse pacto com nossa cultura e nossa língua.


OBJETIVOS DO PROJETO Oficina Sotoko Quilombola:

• Valorização da importância linguística na nossa criação, novos recursos e técnicas agregadas a nossa gastronomia, tais como sustentabilidade, além da inserção social, ampliando o caldeirão discursivo da culinária baiana.

• Inserir pessoas num contexto social, e digital, através da utilização de uma linguagem sobre uma nova gastronomia na Bahia, com a criação, execução e oferta de novos receituários -  ao que chamamos de “Cozinha Afro Baiana Contemporânea” - reduzindo o hiato fragmentado entre saberes empíricos e técnicas mais modernas da culinária ;

• Estimular práticas alimentares sustentáveis e saudáveis, utilizando produtos locais ou incorporados à nossa cultura; através de praticas sustentáveis e da inclusão sócio produtiva.

• Apoiar movimentos de resgate de saberes tradicionais na culinária e na produção de alimentos;

• Valorizar e Incentivar a produção em especial, com produtos típicos incorporados a nossa cultura;

• Ampliar o debate sobre o consumo consciente e responsável de alimentos(açúcar), e acrescentar novas opções saudáveis ao cardápio baiano.



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