A presença feminina foi fundamental na consolidação do sistema alimentar brasileiro.
Na presença indígena onde cabia as mulheres o trabalho da coleta e processamento, passando pelo armazenamento e a guarda dos saberes orais, bem como no trabalho doméstico e escravo imposto no "Casas Grandes", como na venda de alimentos nas ruas, acumulou-se saberes e técnicas que até hoje podem ser observadas em nosso cotidiano.
Nossa cultura está impregnada de conhecimento ancestal, que não pode ser alienado quando discutimos à gastronomia Brasileira.
As práticas alimentares estão em um constante dinamismo entre o passado e o presente, a tradição e a inovação.
O passado está acompanhado das tradições que atendem as necessidades de um presente que proporciona um sentimento ao
momento vivido, o qual é adequado à circunstância e está relacionado a um sistema de valores, de recordações, de reconhecimentos e de pertenças.
As formas de sentir e de perceber o mundo podem ser consideradas representações individualmente construídas sobre o próprio mundo.
Entretanto, Moscovici (1978) entende que as
construções de representações são tanto individuais quanto coletivas, sendo
fundamentais para a construção de conhecimentos e entendimentos do mundo,
sendo, também, uma forma de comunicação e de pertencimento dentro dele (De
Castro Crusoé N., 2004).
Essas construções de pertencimento ao mundo social perpassam a história
da culinária, pois são atividades que despertam sentimentos e memórias nas pessoas.
Cada prática do “fazer comer” é marcada pela história de cada um, pelos sentimentos evocados, pelos cheiros, pelos rituais, pelo tempo e pelos espaços.
Para Arnaiz (2009), as práticas alimentares contemporâneas são resultados de
mudanças ocorridas na administração do tempo e das reestruturações de valores,
papéis e nas formas de socialização.
Ademais, a responsabilidade de satisfazer
necessidades através da culinária também abarca a satisfação das relações sociais,
como identidade, reciprocidade, cuidado e comunicação.
A cozinha torna-se, então, um ambiente dúbio no que diz respeito ao que representa e significa para as mulheres, constituindo-se também como um espaço de agência feminina e acumulação de
conhecimento no que diz respeito ao ofício culinário.
A cozinha, antes tão presente em discursos patriarcais, à que se destinava às mulheres, em certo momento histórico, passou a ser “lugar de homem” também, contudo, o lugar do homem na cozinha tem estado muito distante do lugar da mulher, ressignificando o ato de cozinhar quando ganha valor de mercado e é visto como trabalho.
No que diz respeito aos conhecimentos teóricos e práticos, a culinária doméstica apresenta uma infinidade deles.
Entretanto, enquanto a gastronomia é
eurocentrada e compreende a prática como se houvesse um fundo universal culinário,
com base em técnicas europeias, os conhecimentos da culinária
As cozinhas regionais, de tradição popular e democráticas, são valorizadas como patrimônio imaterial, e partiram do objeto de estudo de folcloristas, como Luís da Câmara Cascudo (1967), mas não basta só isso, é de suma importância em seu viés institucional, a luta por políticas públicas que garantam a autonomia e a manutenção deste corpo social.
Essas cozinhas, e muitos dos seus ingredientes, permaneceram ativos no ambiente doméstico em algumas regiões rurais do país, nos principais centros urbanos, sobreviveram no universo privado e nos restaurantes típicos, reduzidas a alguns clichês da nossa identidade alimentar, é que ao longo dos anos vem sofrendo e sendo alterada, por muitos fatores, sociais, econômicos, é principalmente culturais.
A valorização do trabalho feminino na culinaria tradicional, é fundamental na preservação dos saberes e práticas, técnicas, bem como do legado das culturas que fizeram parte da nossa formação enquanto povo.
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