Eça de Queiroz e a Estetica Alimentar Queirosiana.

Em 2020, completam-se 120 anos da morte do diplomata e escritor português Eça de Queirós.

O escritor Eça de Queirós (1845-1900) não se destacou pelas habilidades culinárias, mas marcou a cozinha portuguesa.
Sua obra literária e jornalística revela que Eça escolheu representar, também pela perspectiva do estômago, a sociedade portuguesa de sua época, aproximando o escritor do cozinheiro.


Existe mesmo um Dicionário de Gastronomia Queirosiana, da autoria de Dário Alves, publicado há já duas décadas, e alguns roteiros de enologia lhe foram dedicados.
Todos os anos, em várias universidades do
mundo, são defendidas teses e dissertações académicas sobre este tema, quer
no âmbito de investigações interdisciplinares do domínio da alimentação, quer no âmbito de Cursos de Literatura.

Segundo a investigadora Beatriz Berrini, que fez o prefácio do livro Beber e Comer com Eça,
um livro de receitas da autoria da gastrónoma Maria de Lourdes Modesto, a gastronomia desempenha um papel central na obra de Queiroz. 


Trata-se de uma compilação das receitas referidas nas obras de culto de Eça de Queiroz, tais como A cidade e as Serras, Os Maias, O crime do Padre Amaro, Primo Basílio ou O Mandarim.
No total, este livro conta com cinquenta receitas de sopas, peixe, carne, aves, ovos e sobremesas, assim como diversas bebidas. 

Entre elas encontra-se Arroz de favas (citado em A cidade e as Serras), galinha afogada em arroz, Folhados do Cocó, coelho guisado à moda da Porcalhota e também receitas mais exóticas como Consommé frio com trufas ou ainda Jambon aux épinards.


À culinária é um recurso utilizado habilmente pelo romancista para “socialmente reunir algumas personagens e fazer evoluir a trama, para, através dos debates suscitados, expor a sua posição em face da realidade, em particular a portuguesa” afirma a investigadora. É também a gastronomia que define a classe social. Através da descrição pormenorizada da ementa de cada família, o leitor consegue ter perceção da classe social a que esta pertence.

A grande maioria das obras de Eça de Queirós consagram um espaço significativo às referências alimentares, como tem sido assinalado pela crítica.

Almoços e jantares, espaços de convivialidade, pratos e iguarias são minuciosamente descritos, com especial atenção à decoração, aos menus, aos sabores e fragrâncias. Contudo, quando se alarga o foco de análise, percebe-se que mesmo em textos menores,
nomeadamente em cartas e crónicas de imprensa, a presença desta temática é uma constante.
Pretende-se, neste breve texto, revisitar algumas dessas referências, tentando demonstrar como a presença do alimento nas narrativas ecianas ultrapassa o mero apontamento decorativo ou mesmo a simples notação realista.
Sobretudo ao nível da figuração das suas personagens e no desenvolvimento de temáticas nucleares, o alimento é crucial na estética do romancista.


À pesquisadora Ana Teresa Peixinho, consagra um espaço significativo às referências no trabalho, Estética alimentar queirosiana: notas gastronómicas na obra de Eça de Queirós, onde a autora analisa presença do alimento nas narrativas ecianas ultrapassam o mero
apontamento decorativo ou mesmo a simples notação realista.

https://digitalis-dsp.uc.pt/jspui/bitstream/10316.2/39618/7/Estetica%20alimentar%20queirosiana.pdf

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