Uma experiência genética sobre a miscigenação.

Numa pequena comunidade da Bahia, o plantio diverso de favas gerou cruzamentos que durante muitos anos gravou características novas a cada geração. Houve um enriquecimento nestas misturas, novas manchas, desenhos e coloração surgiram nos grãos, o que tornou estas favas mais atrativas aos consumidores.


Após um tempo, o mercado trouxe um conceito chamado "padrão de qualidade", associando o valor do grãos a uma uniformidade quase absoluta. Um feijão branco deve ser puramente branco e com um tamanho praticamente invariável. Isto tornou a fava misturada da região um inimigo contaminante para as lavouras e famílias, e assim estes agricultores passaram a ter o costume de separar suas sementes, classificando da forma que acreditavam ser a mais pura. Para que o cruzamento entre elas não interferisse em sua escolha, cada guardião, no seu plantio, utilizou diferentes protocolos de isolamento. Foram juntando apenas determinado tipo de cor, padrão, tamanho ou grupo, descartando as demais variações para que não se misturassem.

Cada ano mais bonitas. Mas houve um período de seca muito forte, as favas de alguns guardiões resistiram, e as sementes de coloração vermelha não aguentaram. 

No ano seguinte os gafanhotos vieram em massa e devoraram a roça de muitos, no entanto os agricultores que selecionaram as favas manchadas, mantiveram sua colheita intacta.

Com o passar dos anos, os feijões comerciais foram se popularizando, e muitos plantadores foram aderindo a compra daquelas sementes com garantia de produtividade, assim abandonando o plantio de sua seleção de fava. Apenas um guardião, ainda que criticado pelos colegas, continuou plantando juntas, a cada ano, todas as variedades daquela fava. Nunca desprezou uma só diferença. Certa vez lhe perguntaram porque fazia aquilo, ele contestou:

-A história desta cultura foi escrita e desenhada em cada mancha, cada vermelho, cada amarelo, cada fora do padrão. Toda vez que as coloco juntas na terra, elas crescem unidas, elas conversam, trocam ideias e experiências, é assim que elas se fortalecem e criam resistência para as maiores dificuldades. 

Os padrões da vida são cheios de diversidade.

Emanuel Trigo


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