A cerâmica Waujá

O povo indígena da tribo Wauja – leia-se “waurá”-  está presente no Brasil desde quando nosso país foi descoberto.

A Primeira Notícia Histórica sobre os Waujá foi registrada pelo Etnólogo Alemão Karl Von Den Steinen (Mülheim, 1855 — Cromberg, 1929) Médico, Explorador e Antropólogo Alemão.

No Diário de sua primeira expedição ao Brasil Central, no dia 24 de Agosto de 1884, quando passava pela quarta e última aldeia Bakairi do Rio Batovi: "fizemos, ansiosos, nossas indagações a respeito de outras tríbus existentes. 

Ficamos sabendo claramente que os Custenaús e os Trumaís eram encontrados no baixo rio. 

Não conseguimos entender o que queriam dizer com "vaurá. 

Seria uma Tríbu?" (Steinen 1942). 

Uma semana mais tarde ele obteve a confirmação entre os Suyá - que lhe desenharam um mapa hidrográfico, no qual se encontravam representadas a maioria das tribos do Alto Xingu (Steinen 1942) - de que "vaurá" era um grande grupo que habitava o baixo Baávi.

A História desse povo de Língua Arawak na região da bacia dos formadores do Rio Xingu começou, no entanto, há pelo menos Mil Anos antes da chegada de Karl Von Den Steinen.


As Investigações Arqueológicas no Alto Xingu, iniciadas por Dole (1961/1962), avançaram significativamente na década de 1990 com o trabalho de Heckenberger (1996), o qual permitiu traçar um quadro preciso e extenso das mudanças e continuidades socioculturais nessa enorme e arqueologicamente pouco explorada área da periferia meridional da Amazônia.

Habitantes do Parque Indígena do Xingu, os Wauja são notórios pela singularidade de sua cerâmica, o grafismo de seus cestos, sua arte plumária e máscaras rituais. Além da riqueza de sua cultura material, esse povo possui uma complexa e fascinante mito-cosmologia, na qual os vínculos entre os animais, as coisas, os humanos e os seres extra-humanos permeiam sua concepção de mundo e são cruciais nas práticas de xamanismo.

Apesar do processo de mudança tecnológica em curso desde 1884 - quando Karl von den Steinen travou contato com os Wauja e as relações com não-índios passaram a ser mais sistemáticas - ainda restam muitos itens da cultura material tradicional, inclusive aqueles que poderiam ter sido facilmente substituídos por artefatos de plástico, vidro e metal, mas por motivos simbólicos, muito mais do que funcionais, os artefatos tradicionais continuam a desempenhar seu papel de reprodução da cultura wauja.

A cultura material é também responsável pela reprodução da cultura wauja para o exterior, não apenas no mercado do "homem branco", mas também no do Parque Indígena como um todo. Por exemplo, ao Wauja são feitas encomendas de cintos de miçangas com desenhos pelo Kayapó de Jarina-Capoto, uma área ao norte do Parque.

Os artefatos da cultura material wauja são muito apreciados, tendo por isso uma das melhores entradas no mercado do artesanato indígena brasileiro. 

A sua singularíssima cerâmica é um emblema de sua etnicidade, atualmente, a cerâmica tem um peso extraordinário na manutenção econômica da aquisição de bens industrializados.

No Alto Xingu, o equipamento doméstico mantém-se praticamente o mesmo desde os últimos 1000 anos, evidenciando uma impressionante continuidade cultural. 

A Natureza dos Vestígios e as datações radiocarbônicas no intervalo entre o anos 1000 e 1600 apontam para uma ocupação caracterizada por um padrão de assentamento predominantemente sedentário baseado em grandes e populosas aldeias circulares (de 40 a 50 acres) com praça central, por amplas transformações da paisagem, pela construção de obras públicas destinadas à defesa das aldeias - valetas, paliçadas e caminhos terrestres elevados - e por uma tecnologia cerâmica particular a essa região desde a referida data (Heckenberger 2001).


A Cerâmica é um dos domínios tecnológicos e artísticos de maior vigor interpretativo sobre a História pré-cabralina. 

Torradores de Beiju, suportes cônicos e grandes panelas de bordas extrovertidas arredondados ou achatadas continuam sendo intensamente fabricadas e utilizadas pelos Waujá.

Essas evidências encontradas nos Sítios Arawak da bacia dos formadores do Xingu estão muito além de serem casos isolados, elas associam-se muito precisamente a uma série de outros sítios de características similares distribuídos por um extenso "Corredor" da periferia meridional da Amazônia - precisamente de Mojos (Bolívia) ao Alto Xingu, passando pelo Alá Madeira e incluindo o Alto Acre -, apontando para uma co-evolução de Sistemas Culturais Arawak por volta do ano 1000 (Heckenberger 1996).

 

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