Prazeres na mesa de Agatha Christie por Stefania Aphel Barzini.
Agatha Christie fazia da cozinha seu refúgio predileto. Quando seu pai morreu, em 1901, ela estava com 11 anos. Em vez de ir ao funeral, preferiu passar o dia entre pratos e fogões.
No retrato de 1950, tirado em sua casa, Agatha parece apenas uma simpática senhorinha fazendo bolo para os netos.
A vida culinária de Agatha Christie, tão diferente de sua produção literária, é um dos temas do livro A cozinha das escritoras (editora Benvirá) reeditado pela Panelinha.
Nele, a jornalista italiana Stefania Aphel Barzini revela a intimidade gastronômica de Agatha e de outras escritoras célebres, como a inglesa Virginia Woolf e a americana Gertrude Stein.
Os hábitos alimentares e sua influência sobre a vida das autoras é o ponto de partida do livro, organizado para descrever a personalidade de cada uma e satisfazer curiosidades dos leitores.
“Sempre usei a comida para entender as pessoas”, afirma Stefania. “Dificilmente falha.”
A pesquisa de Stefania mostra que Agatha não escrevia com o copo de uísque a seu lado, como eu imaginava. Ela não usava nenhuma bebida alcoólica. Sua companheira de trabalho era uma taça de creme de leite. Nela, Agatha achava inspiração. “Ela amava comer e fazia isso sem pudores”, diz Stefania. “A comida a fazia feliz.” Agatha amava cozinhar desde a infância – algo incomum para uma moça classe alta britânica, que cresceu cercada por cozinheiras.
Em 1901, quando seu pai morreu, ela tinha apenas 11 anos.
Enquanto toda a família foi para o funeral, ela procurou conforto na cozinha. Foi lá que Agatha passou o dia, ajudando a empregada da família a preparar o jantar. A comida também trouxe conforto quando seu primeiro marido pediu o divórcio. Nos primeiros dias após a separação, ela perdeu o apetite. Pouco depois, fez uma viagem à cidade turística de Harrogate e passou dez dias comendo tudo o que pôde.
A depressão foi derrotada a golpes de garfo.
Assim como Agatha, Gertrude Stein, americana que passou a maior parte de sua vida na França e foi mentora intelectual de escritores como Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald, também tinha uma relação extravagante com a comida.
Num de seus manuscritos, ela confessa: “Amo comer, livros e comida, comida e livros. Desde que eu era pequena, sempre gostei de me sentir entupida de tanto comer”.
Ela e sua mulher, Alice B. Toklas, com quem viveu por 40 anos, eram conhecidas pelos jantares que ofereciam. Em 1933, Gertrude recebeu um convite para fazer conferências pelos Estados Unidos. A oportunidade era ótima, mas ela titubeou. Não tinha uma boa impressão da comida americana, e passar fome era um preço alto demais, mesmo por motivo nobre. Ela pediu para mandarem o cardápio do hotel em que se hospedaria.
Depois de analisá-lo, decidiu ir. Se a relação de Gertrude e Agatha com a comida era de amor declarado, para Virginia Woolf o sentimento era atormentado. Passava às vezes pelo ódio. Autora de Mrs. Dalloway e Orlando, Virginia sofria de esquizofrenia. “A doença e a infelicidade de Virginia Woolf estavam ligadas a seus hábitos alimentares”, afirma Stefania.
“Se estava bem, ela comia. Se estava mal, parava de comer.” Virginia associava a gordura corporal ao torpor mental que a consumia. Sofreu de anorexia. Quando as crises passavam, ela voltava a amar a comida. Os alimentos são um tema recorrente em seus livros. Num trecho de Um quarto só para si, escreve: “Um belo jantar é primordial para uma boa conversa. Não se pode pensar bem, amar bem, dormir bem, se não se comeu bem”. Em seu diário, afirma: “Deus, como o sorvete é reconfortante!”. Além de descrever os hábitos alimentares das escritoras, Stefania reuniu as receitas prediletas de algumas.
Em vez de apenas ler sobre a mesa das escritoras, o leitor pode cozinhar e comer como elas. Decidi ir à cozinha para tentar entender melhor a vida de Agatha Christie. Entre suas receitas favoritas, escolhi um pãozinho de uvas-passas. Basta colocar todos os ingredientes numa tigela, misturar com a mão até virar uma massa homogênea e fazer bolinhas para levar ao forno.
O resultado é simples e doce, sem nenhum mistério.
Nada a ver com os livros da rainha do crime. Se o pãozinho e o creme de leite eram suficientes para aliviar suas mágoas mais profundas, Agatha devia ser uma mulher feliz. Bem diferente da escritora sombria que existia em minha imaginação. “
No retrato de 1950, tirado em sua casa, Agatha parece apenas uma simpática senhorinha fazendo bolo para os netos.
A vida culinária de Agatha Christie, tão diferente de sua produção literária, é um dos temas do livro A cozinha das escritoras (editora Benvirá) reeditado pela Panelinha.
Nele, a jornalista italiana Stefania Aphel Barzini revela a intimidade gastronômica de Agatha e de outras escritoras célebres, como a inglesa Virginia Woolf e a americana Gertrude Stein.
Os hábitos alimentares e sua influência sobre a vida das autoras é o ponto de partida do livro, organizado para descrever a personalidade de cada uma e satisfazer curiosidades dos leitores.
“Sempre usei a comida para entender as pessoas”, afirma Stefania. “Dificilmente falha.”
A pesquisa de Stefania mostra que Agatha não escrevia com o copo de uísque a seu lado, como eu imaginava. Ela não usava nenhuma bebida alcoólica. Sua companheira de trabalho era uma taça de creme de leite. Nela, Agatha achava inspiração. “Ela amava comer e fazia isso sem pudores”, diz Stefania. “A comida a fazia feliz.” Agatha amava cozinhar desde a infância – algo incomum para uma moça classe alta britânica, que cresceu cercada por cozinheiras.
Em 1901, quando seu pai morreu, ela tinha apenas 11 anos.
Enquanto toda a família foi para o funeral, ela procurou conforto na cozinha. Foi lá que Agatha passou o dia, ajudando a empregada da família a preparar o jantar. A comida também trouxe conforto quando seu primeiro marido pediu o divórcio. Nos primeiros dias após a separação, ela perdeu o apetite. Pouco depois, fez uma viagem à cidade turística de Harrogate e passou dez dias comendo tudo o que pôde.
A depressão foi derrotada a golpes de garfo.
Assim como Agatha, Gertrude Stein, americana que passou a maior parte de sua vida na França e foi mentora intelectual de escritores como Ernest Hemingway e F. Scott Fitzgerald, também tinha uma relação extravagante com a comida.
Num de seus manuscritos, ela confessa: “Amo comer, livros e comida, comida e livros. Desde que eu era pequena, sempre gostei de me sentir entupida de tanto comer”.
Ela e sua mulher, Alice B. Toklas, com quem viveu por 40 anos, eram conhecidas pelos jantares que ofereciam. Em 1933, Gertrude recebeu um convite para fazer conferências pelos Estados Unidos. A oportunidade era ótima, mas ela titubeou. Não tinha uma boa impressão da comida americana, e passar fome era um preço alto demais, mesmo por motivo nobre. Ela pediu para mandarem o cardápio do hotel em que se hospedaria.
Depois de analisá-lo, decidiu ir. Se a relação de Gertrude e Agatha com a comida era de amor declarado, para Virginia Woolf o sentimento era atormentado. Passava às vezes pelo ódio. Autora de Mrs. Dalloway e Orlando, Virginia sofria de esquizofrenia. “A doença e a infelicidade de Virginia Woolf estavam ligadas a seus hábitos alimentares”, afirma Stefania.
“Se estava bem, ela comia. Se estava mal, parava de comer.” Virginia associava a gordura corporal ao torpor mental que a consumia. Sofreu de anorexia. Quando as crises passavam, ela voltava a amar a comida. Os alimentos são um tema recorrente em seus livros. Num trecho de Um quarto só para si, escreve: “Um belo jantar é primordial para uma boa conversa. Não se pode pensar bem, amar bem, dormir bem, se não se comeu bem”. Em seu diário, afirma: “Deus, como o sorvete é reconfortante!”. Além de descrever os hábitos alimentares das escritoras, Stefania reuniu as receitas prediletas de algumas.
Em vez de apenas ler sobre a mesa das escritoras, o leitor pode cozinhar e comer como elas. Decidi ir à cozinha para tentar entender melhor a vida de Agatha Christie. Entre suas receitas favoritas, escolhi um pãozinho de uvas-passas. Basta colocar todos os ingredientes numa tigela, misturar com a mão até virar uma massa homogênea e fazer bolinhas para levar ao forno.
O resultado é simples e doce, sem nenhum mistério.
Nada a ver com os livros da rainha do crime. Se o pãozinho e o creme de leite eram suficientes para aliviar suas mágoas mais profundas, Agatha devia ser uma mulher feliz. Bem diferente da escritora sombria que existia em minha imaginação. “
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