Por que o samba de bumbo paulista está prestes a se tornar patrimônio imaterial do Brasil


O Conselho Consultivo do Iphan pode aprovar na quinta-feira 9 a instituição do título

POR AUGUSTO DINIZ

Já dura mais de uma década o trabalho para reconhecer o samba genuinamente paulista como patrimônio imaterial do Brasil. O Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) pode aprovar na quinta-feira 9 a instituição do título à tradição tipicamente de São Paulo – o assunto consta da pauta da reunião.

O bumbo foi o elemento unificador por estar presente nessas modalidades de samba do estado. O dossiê do samba de bumbo paulista, a que CartaCapital teve acesso, detalha a participação do instrumento percussivo na tradição, uma espécie de símbolo do movimento paulista.

O registro tem o nome de samba de bumbo paulista e abarca designações diversas, como samba rural, samba caipira, samba caiçara, samba campineiro, samba de Pirapora, samba-lenço, entre outras.

Os seus dois principais congêneres no País, o samba de roda do Recôncavo Baiano e as matrizes do samba no Rio de Janeiro – partido-alto, samba de terreiro e samba-enredo -, já detêm o título de patrimônio imaterial brasileiro desde 2004 e 2007, respectivamente.

O movimento forçado de negros escravizados e descendentes nos séculos XVIII e XIX ao centro-oeste de São Paulo para trabalhar nas plantações de café impactou as práticas socioculturais na região.

Uma das hipóteses é que a fusão do samba de roda estabelecido no Nordeste e do jongo, já comum nas zonas cafeeiras de São Paulo e Rio de Janeiro, originou o samba tipicamente local.

A festa do Senhor Bom Jesus, em Pirapora, seria o lugar de encontro anual de devotos do santo e praticantes do samba de bumbo, provenientes de cidades interioranas com diferentes sotaques da manifestação, como Piracicaba e Campinas.

Embora o encontro em Pirapora já fosse antigo, foi somente em 1937 que ele recebeu descrições detalhadas de sua realização. Uma delas, de Mário de Andrade, tornou-se documento referência do samba paulista e um dos escritos mais relevantes da história da cultura brasileira. Em seu texto, o folclorista faz uma rara exposição etnográfica e fotográfica daquele acontecimento.

Mas o dossiê não se baseia apenas nos escritos de Mário de Andrade e menciona visões de outros estudiosos. Houve também visitas a diversos locais de realização do samba de bumbo, transpostos no documento em exemplificações e depoimentos de mestres, praticantes e descendentes de criadores de comunidades de samba do bumbo nas suas mais diversas designações ao longo da história.

Originário do interior paulista, foi a partir da década de 1950, com o início da migração à capital, que o samba de bumbo se estabeleceu na cidade de São Paulo, influenciando o samba urbano paulistano.

Fonte CartaCapital 

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