Imigrantes Sírios e Libaneses chegaram ao Sul da Bahia misturas culturais que influenciaram na cultura e na culinária baiana.

Os imigrantes Sírios e Libaneses chegaram ao Sul da Bahia, região do Cacau, ao final do século XIX e início do século XX em função das crises políticas que ocorriam em seus territórios e atraídos pela perspectiva do progresso que se evidenciava nessa região. 

A cidade de Ilhéus recebeu muitos desses imigrantes que fizeram desse espaço o seu novo lar.

Esse fenômeno migracional foi registrado por vários autores de origem regional e percebido pelas pessoas da região em função de hábitos e costumes diferenciados trazidos por esses povos. 

As assimilações aconteceram, os imigrantes de primeira geração passaram a segunda, terceira e quarta gerações deixando um traço significativo na cidade, e principalmente no comércio e na culinária local.

Personagens Árabes na obra de Jorge Amado

Com essa retrospectiva resumida, de tantas e tão profusas marcas árabes nas várias culturas do mundo, mas especialmente na nossa, é mais do que natural que um escritor, com raízes tão populares quanto Jorge Amado, traga, no bojo de sua tão extensa obra, a presença marcante dessa influência não apenas na língua, seu preponderante instrumento de expressão, como nos personagens árabes ou de origem árabe que se misturam tanto na "democracia racial brasileira", em geral, como particularmente no tecido de seus romances.

Movimentando-se entre negros, crioulos, espanhóis ou portugueses criados para viverem o drama, a tragédia, ou o amor que palpita nos romances desse autor que é o mais importante e mais expressivo escritor da "nação grapiúna", definida por Adonias Filho, outra não menos significativa expressão daquela "civilização" tão peculiar.

Jorge Amado é, na verdade, aquele que cantou tão bem a sua aldeia, com árabes, negros, etc., que se universalizou, universalizando sua terra e, por extensão, todo o país. 

O quibe no tabuleiro da baiana da escritora Maria Luiza S. Santos, Editora: Editus, trata-se do legado árabe, principalmente sírio-libanês, ocorrido em Ilhéus a partir do final do século XX, tema outrora abordado em livros do escritor Jorge Amado, a exemplo de "Tocaia grande", a face obscura, publicado em 1984. Constitui interessante texto informativo sobre costumes, tradições, culinária, negócios e outros aspectos culturais de origem árabe que, paulatinamente, se incrustaram na cultura sulbaiana.

Nenhum dos seus leitores de origem árabe ou leitores comuns, do Brasil ou de qualquer país onde estejam suas obras traduzidas, ao deparar com algum dos seus personagens árabes, não encontraria neles nada que não seja genuinamente árabe quer nas reações, no comportamento psicológico, como na descrição física, com suas características raciais, bem como nas suas atividades de trabalho, que são, preponderantemente, o comércio.

Bar o Vesúvio continua existindo na Ilhéus de hoje.

Mas há também o malandro, o contrabandista, ou o intelectual circulando em seus romances, vindos de Ilhéus, de Itabuna, Água Preta ou Salvador, seus árabes ou descendentes caminham em seu universo com a mesma naturalidade dos tabaréus, coronéis, bacharéis, prostitutas, malandros, trabalhadores de roça, capoeiristas, jagunços, gente anônima das ruas. 

E muitos entraram em sua obra tão marcantemente como Jubiabá, Guma, ou Tereza Batista, transformando-se no personagem principal, naquele em tomo do qual se desenrola a história ou o romance. 

É bem o caso de Nacib, de Gabriela, Cravo e Canela, (talvez o mais famoso), e desse fabuloso Fadul Abdala, de Tocaia Grande, que tivemos a honra de conhecer ainda no embrião da história. Em outubro de 1983, quando Jorge Amado principiava a escrever seu romance, mandou dizer-nos, em carta:

"Este meu romance da 'face obscura' está cheio de árabes: um deles, Fadul Abdala, personagem fundamental, é porreta. Aliás, aconteceu uma coisa engraçada: para contar uns percalços de Fadul acabei escrevendo uma noveleta (45 páginas) de árabes em Itabuna, mas eu a retirei do contexto do livro onde ela pesava demasiado sobre a história do lugarejo - cujo nome é Tocaia Grande, futura Irisópolis. Mas, quando terminar o livro, voltarei a trabalhar a noveleta da luta entre Deus e o Diabo pela alma de Fadul".

Este depoimento, vindo mesmo do coração do clima em que seu personagem se movimentava e crescia, na verdade como um “porreta”, é mais do que uma simples demonstração da simpatia do romancista pelos árabes: revela sua preocupação pela legitimidade de seus personagens. Assim, Fadul não poderia ter um tratamento diferente de qualquer outro personagem genuinamente baiano, portanto brasileiro, com características pessoais ou próprias no comportamento, na fala, nas reações, nos traços físicos, elementos que marcam a autenticidade ou identidade inequívoca de cada um dos seus personagens. 

O que há de invenção, criação ou fantasia ficcional em muitas de suas criaturas não é gerado unicamente pelo gênio criativo de Jorge Amado — mas nasce de uma realidade conhecida.

Quem poderá dizer que Jorge Amado não conviveu, no Vesúvio, na cidade de Ilhéus, com Nacib e Gabriela, por exemplo, já que a casa do grande romancista (hoje Fundação Cultural de ilhéus) era vizinha daquele bar? Os Nazal, Medauar, Maron, Daneu, Chalub, eram famílias de Ilhéus, portanto pessoas de seu convívio. Daí a matéria-prima. O retrato. A matriz. Assim, o Abdula, comerciante em Feira de Santana, é tão legítimo quanto Nacib, o Maron ou o Daneu, que eram de verdade, da vida real. 

Jorge Amado tem, dentro dele próprio o modelo de seus personagens árabes. Não precisou inventar, não é, pois, sem razão que despontam com naturalidade em quase toda a sua obra. 

Verdade que outros romancistas têm personagens árabes, mas nenhum apresenta mais sírios, libaneses, descendentes do que Jorge Amado. 

Seu rol é imenso, e ainda maior se considerarmos as misturas. 

Como no caso desse Antônio Bruno, com nome de brasileiro, mas com "romântico perfil de beduíno". 

Era neto do árabe Fuad Maluf e está em Farda, Fardão, Camisola de Dormir.

Do mesmo modo, dona Fifi, mesmo com nome que nada tem de sírio ou libanês: é árabe, mãe de um malandro de dezessete anos.

Está no País do Carnaval. Bia Turca, nome meio dúbio, porque apelido, está em Tereza Batista. E dona Émina Silva, esposa do Dr. Ives e mãe de "bonitas filhas", é da rua do Sodré, da Bahia, e, como os citados, descendente de Sírios.

Nacib, Árabe legítimo, como das figuras ou personagens principais em Gabriela Cravo e Canela, seus parentes e aderentes.

Lá está Nacib circulando em Ilhéus, percorrendo sua feira, vendo as lojas dos patrícios entupidas de fregueses vindos de Água Preta, Rio do Braço, ou do Recôncavo. 

Parando na estação da estrada de ferro, ouvindo a cantoria dos cegos de cuia, ou cruzando com patrícios pobres, "mascates da estrada", na procura da cozinheira ideal para seu bar. 

Até que um dia encontrou sua Gabriela, com quem se casaria, teria filhos e continuaria integrando a população da cidade. 

Sem dúvida, o romancista Jorge Amado, seu vizinho, teve Nacib em pessoa como modelo, porque a criatura é tão perfeita que o criador não poderia ter tirado do nada ou unicamente da sua poderosa usina imaginativa uma criatura tão autêntica.

Tudo isso, afinal de contas, é indicação que reforça o verdadeiro sentido não apenas da chamada democracia racial brasileira, como também da influência do árabe na vida do país. E, como já foi dito, por ser Jorge Amado um verdadeiro escritor com raízes populares, sua obra teria que refletir esse caldeamento, do qual ele plasmou uma das, numericamente, maiores galerias de personagens de toda a literatura brasileira. São tantos que só poderiam ser recenseados, no seu imenso universo ficcional, se houvesse o concurso de um dicionário biográfico, como esse magnífico Criaturas de Jorge Amado, de Paulo Tavares, feito na linha e à altura do que foi feito para os personagens de ficção da Comédia Humana, de Balzac.

E, se algum mérito, finalmente, houver neste rastreamento de tantos personagens árabes na obra de Jorge Amado, — e não foram todos —, fica, desde já, aqui, atribuído ao esforço e à dedicação do autor daquela obra tão importante para a identificação das criaturas criadas ou aproveitadas pelo romancista.

Quanto a nós, como outros personagens homenageados pela amizade de Jorge Amado, incluindo-nos em sua obra, só nos resta dizer, como descendente de árabes, patrício daqueles que povoam as páginas de seus romances, que nosso orgulho, por sermos personagens do escritor brasileiro mais lido no país e no mundo, é o mesmo que sentimos quando Castro Alves, o maior poeta do Brasil, baiano como nós e Jorge Amado, resume toda a força da influência árabe entre nós, dizendo, ele mesmo, ainda que poeticamente, ter a nossa ascendência:

"Árabe errante — vou dormir à tarde à sombra fresca da palmeira erguida"

* Romancista, contista e poeta. Artigo publicado originalmente em nossa Revista de Estudos Árabes N. 1, DLO-FFLCHUSP, 1993.



Receita de Mamoul-Ingredientes


1kg de farinha de semolina

1/2 KG de manteiga

1/2 de farinha de trigo

2 Copos de leite

2 colheres de sopa de açúcar

Açúcar de confeiteiro

Recheio

1/2 kg de nozes moída(s)

1/2 copo(s) de açúcar cristal

1 colher(es) (sopa) de essência de flor de laranjeira

Modo de Preparo

Coloque a semolina em uma vasilha e despeje sobre ela a manteiga derretida e morna. Misture bem os dois ingredientes para que manteiga seja totalmente absorvida. 

Deixe descansar por 1 hora. Junte os demais ingredientes amasse bem e deixe descansar novamente. 

Separe porções dessa massa e forme bolas, abra a massa com a palma da mão e coloque no centro 1 colher de recheio. 

Feche a bolinha com a ponta dos dedos apertando bem a união. 

Decore com a ponta de um garfo. Asse em forno brando em assadeira sem untar. 

Quando estiverem ligeiramente corados, retire e use açúcar de confeiteiro para polvilhar (polvilhe com uma peneira, com os doces ainda quentes). Para o recheio, basta misturar todos os ingredientes.


@elcocineroloko


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