Mestre Badu transforma quintal do Quilombo Mato do Tição em sala de aula

Mestre Badu nasceu em 1932 e vive no Quilombo do Mato do Tição, Jaboticatubas, MG.


Raizeiro e homeopata repassa saberes que aprendeu com o pai dele e com a mãe natureza.

Ele é mestre candombeiro (uma manifestação de matriz afro-brasileira: candombe de Nossa Senhora do Rosário), mestre em encomendação das almas, folia de reis e, destacadamente, mestre terapeuta no cultivo da agricultura livre de agrotóxicos, e na promoção da saúde com recursos tradicionais.

Entre os seus irmãos, é o Velho Siqueira que mais investe na agricultura familiar, prática à qual vem se dedicando desde que se aposentou.

Aos 5 anos, Badu já acompanhava o pai raizeiro mata a dentro, lá pelas terras do Quilombo Mato do Tição, em Jaboticatubas, a pouco mais de 60 km de Belo Horizonte. Foi ali, ainda criança, crescendo em meio a 12 irmãos, que ele começou a aprender os primeiros ensinamentos sobre agricultura e homeopatia. Hoje, aos 88 anos, repassa seus conhecimentos não só para os filhos, mas também para a comunidade quilombola e para universitários que vão até lá. “A natureza é a maior faculdade que existe”, diz seu Badu.

O primeiro professor foi o pai, Benjamim Siqueira. Mas é com a mãe Terra que Seu Badu continua aprendendo todos os dias e, além da tradição, ele transforma os saberes em um complemento da renda, produzindo florais, medicamentos homeopáticos e adubos orgânicos que ele vende, mas também doa a quem precisa.


 “Quando meu pai morreu, eu tive necessidade de seguir. Eu planto e colho tudo nas matas. E para mim é o seguinte, se a pessoa puder pagar o remédio, ela leva. Se não puder pagar, leva também. Nem só de sabedoria é feita a homeopatia. Ela é feita de mistério. E o que é de mistério, a gente não pode cobrar”, explica Seu Badu, que é muito procurado. “Olha, vem gente de todo canto atrás do meu pai”, conta Denise Siqueira, uma dentre os 11 filhos dele. 

Seu Badu dá aula de ‘Tópicos sobre aspectos da cultura africana e afro-brasileira: aprender na escola da natureza’. A disciplina faz parte Programa de Formação Transversal em Saberes Tradicionais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Mas não é ele quem vai até a universidade. Acompanhado de professores da UFMG,o mestre recebe os alunos no quilombo e, ali mesmo, o quintal vira sala de aula.

“O conhecimento é o seguinte, a pessoa não pode ter esse preconceito de passar só na família. Meu interesse é que você saiba a mesma coisa que os meus filhos porque se um dia uma pessoa daqui do quilombo precisar de um ensinamento, às vezes meus filhos podem não estar, mas você vai estar. E quanto mais gente aprender, melhor”, afirma seu Badú. 

 Seu Badu concluiu em 2013 um curso oferecido pelo Departamento de Fitotécnica da Universidade Federal de Viçosa, envolvendo o aprendizado sistematizado da agricultura família e de terapias alternativas.

Entre as terapias que aprendeu, pratica especialmente a homeopatia a base de micro-organismos eficientes ou de plantas (E. M.) e o diagnóstico por radiestesia.

Cura plantas, animais e pessoas, preparando e aplicando remédios na base de folhas, cascas e raízes. 

Desenvolve a prática da cura na sua comunidade, e também no seu sítio, em área vizinha ao quilombo, onde recebe pessoas de diversas localidades do município e de Belo Horizonte.

Segundo Seu Badu, a vida é onda, vibração, ciência e fé, conclusão que expressa uma qualidade do mundo que ele conhece desde cedo, através de seus antepassados dotados de saberes de curas e de alimentação com folhas e raízes do mato.

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