Ostras em Comunidades Quilombolas, no Vale do Iguape e em Cananeia

 No Vale do Iguape, no Recôncavo Baiano, uma comunidade quilombola vem se tornando referência em formação nas áreas da cultura e de produção artesanal de alimentos. Localizada próxima ao município de Cachoeira (BA), a comunidade Kaonge mantém um terreiro com mais de 150 anos, além de projetos ligados ao cultivo de ostras, apicultura e fabricação de azeite de dendê. 

Gestionada todos os anos pelo Núcleo De Turismo Étnico Rota da Liberdade, a festa da Ostra hoje é um grande atrativo do Recôncavo Baiano.
Na área cultural, o quilombo mantém aulas de dança, oficina de percussão e um Ponto de Cultura com foco em produção audiovisual. Inaugurado em 2008, o Ponto de Cultura Expressão Cidadania Quilombola, um dos 278 do estado da Bahia, participa em todos os projetos desenvolvidos na comunidade. "O Ponto não trabalha apenas com a cultura, mas também com outros segmentos da nossa produção coletiva", explica o coordenador da comunidade Kaonge, Ananias Mery Viana. 




"Os integrantes do Ponto participam das atividades de todos os núcleos produtivos, de todas as discussões, e faz o registro das ações em vídeos que nós mesmos editamos e filmamos". Ananias conta que o trabalho realizado na comunidade quilombola mudou a vida de muitas pessoas que moram por lá e considera o espaço uma "universidade popular". "Algumas reivindicações passaram a ser atendidas por conta dos registros que fazemos, muitos jovens tiveram a oportunidade de aprender com as oficinas e muitos deles, que pensavam em morar fora da comunidade, acabaram ficando por aqui", afirma. 
 Benefícios 
Nascido em Salvador, mas criado no Kaonge desde os quatro meses de idade, Gabriel Costa dos Santos, de 15 anos, considera a comunidade uma família e se diz satisfeito com participação no curso de audiovisual do Kaonge. "Quero que esse curso me ajude com algo que eu possa fazer lá na frente. Aqui, nós mesmos filmamos nossos eventos para vender". Um dos eventos mais tradicionais realizados na comunidade é o Festival da Ostra, que neste ano será realizado pela sétima vez. 
 A secretária da Cidadania e da Diversidade Cultural do MinC, Ivana Bentes, visitou o espaço neste mês, durante Caravana da Cultura realizada no Recôncavo Baiano para estreitar laços do MinC com a sociedade e ouvir demandas de fazedores de cultura locais. "O projeto de vocês é incrível e tudo que pensamos para o futuro", elogia. 
"Aqui vocês produzem conhecimento e são formadores populares", completa. Na ocasião, Ivana também sugeriu uma aproximação do MinC com áreas culturais de outros ministérios, como Saúde e Turismo, para angariar mais recursos. Bentes reforçou a necessidade de mapear não apenas os Pontos de Cultura existentes no Brasil, mas a metodologia utilizadas por eles e as redes existentes. 
 Rota da Liberdade 
 A comunidade quilombola Kaonge faz parte do roteiro de turismo ético de base comunitária "Rota da liberdade", que promove visitas a diversos quilombos da região do Vale do Iguape (BA). 
O objetivo do empreendimento coletivo, criado em 2005, é promover a autonomia sócio econômica das comunidades quilombolas. O projeto surgiu de um grupo de 20 jovens do ponto de cultura Terreiro Cultural, que pesquisaram os quilombos onde moravam e perceberam que havia potencial para o turismo em rede. Consideraram o turismo como uma saída para o desemprego da região. 
No Kaonge, por exemplo, visitantes participam da produção do azeite de dendê, veem de perto roda de samba tradicional e conhecem o dia a dia do quilombo, além de vivenciar rituais do candomblé. 

Ostra de Cananeia Quilombo Mandira
do mangue para o mundo Eis o desafio de uma comunidade quilombola no litoral paulista: introduzir a ostra nativa brasileira num mercado quase todo dominado pela asiática. Pode não ser a mais nobre das ostras, mas é a mais brasileira. Muito antes das ostras japonesas, importadas do Pacífico, povoarem nossos cardápios, a ostra-do-mangue já crescia incauta e quase incógnita nos manguezais do Pará ao Paraná. Foi item exclusivo da dieta de milhares de pescadores por décadas, até que nos anos 70 passou também a fazer parte da nossa. 

O mérito é dos caiçaras de Cananeia (SP), os primeiros a botá-la no mercado e, ainda hoje, os maiores produtores desse molusco no país. A eles cabe agora o desafio de se fazer notar num comércio quase todo dominado pela ostra asiática, cultivada em grandes fazendas marinhas no litoral catarinense. A ostra vai ser a base do cardápio: boqueca e farofa de ostra, ostra gratinada e in natura. 
Além de ser a maior atração da festa, a ostra é também a principal fonte de renda da comunidade. Coletada nos viveiros da reserva extrativista do mandira, ela é comercializada através da Cooperostra (Cooperativa dos Produtores de Ostra de Cananéia), depois de limpa e depurada. 

Outra tradição de Mandira que será apresentada na festa é o Terço Cantado. Parte do patrimônio cultural da comunidade, a tradição religiosa foi registrada em um vídeo a ser lançado na abertura da festa, dia 18. Cópias do filme serão vendidas para arrecacadar fundos para a reforma da igreja da comunidade. No domingo, outras comunidades quilombolas do Vale do Ribeira vão enriquecer a programação cultural da festa: o quilombo Sapatu apresentará a dança tradicional da Nhá Maruca e o Grupo de Capoeira Bernardo Furquim, do Quilombo São Pedro, virá para fazer uma roda e brincar capoeira. 
A Festa conta com apoio de vários colaboradores do município de Cananéia, e patrocínio da Fundação ITESP, Abaçai – Cultura e Arte, Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo, Instituto Socioambiental, Yamavale e da Prefeitura Municipal de Cananéia. Mandira - Quilombo e Reserva Extrativista O território do quilombo Mandira, ocupado historicamente desde meados do século 19, foi reconhecido pelo Itesp em 2002. 

Para continuar usando a área de mangue, vizinha ao território quilombola, as famílias de Mandira articularam a transformação da área em uma Reserva Extrativista (RESEX), que teve seu plano de manejo para extração artesanal de ostra, moluscos, caranguejos, peixes e recursos vegetais aprovado em 2010.

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