Grandes primatas rodopiam para ficar tontos – e alterar sua percepção da realidade

Por Luisa Costa 

Humanos curtem, você sabe, alterar seu estado mental só pela diversão. Investimos em práticas que mexem com nossa capacidade de resposta e coordenação motora – vide o uso de álcool e outros entorpecentes e outros entorpecentes – além das atividades que provocam alguma tontura, sejam danças, brincadeiras (como atrações de parques de diversão) ou cerimônias. 

A tontura auto-induzida é uma maneira de alcançar estados mentais alterados – e a busca por eles aparece em todas as culturas. “Essa característica humana é tão universal que levanta a intrigante possibilidade de que isso seja algo herdado de nossos ancestrais evolutivos”, afirma em comunicado o professor de psicologia Adriano Lameira, da Universidade de Warwick.

Lameira e Marcus Perlman, pesquisador da University of Birmingham (Reino Unido), encontraram um vídeo de um gorila rodopiando por vontade própria e resolveram investigar melhor.

Por que estes animais estariam fazendo isso? “Se todos os grandes primatas procuram [um estado de] vertigem, é muito provável que nossos ancestrais também o tenham feito”, explicou Lameira. Isto podereria influenciar a maneira como os cientistas pensam sobre as capacidades cognitivas humanas – e sobre nossa necessidade de experiências que alteram a mente. 

Então, Lameira e Perlman analisaram os vídeos dos primatas. Eles descobriram que os animais, podendo pendurar em cordas ou cipós, rodopiavam alcançando uma velocidade de 1,5 rotações por segundo. 

Eles faziam, em média, três turnos de cinco giros por vez.

A dupla de pesquisadores experimentou rodopiar nessa velocidade e, por causa da tontura, achou difícil alcançar a terceira rodada de giros –a essa altura dos vídeos, os macacos estavam visivelmente tontos, perdiam o equilíbrio e caíam. E eles justamente só paravam de girar quando não podiam fazê-lo mais. 

Os pesquisadores também compararam os vídeos com outros de pessoas dando piruetas intencionais e descobriram que os símios poderiam girar tão rápido quanto dançarinos profissionais de balé, por exemplo.

Os resultados mostraram que o paralelo entre o que os macacos estavam fazendo e o que os humanos fazem está além da coincidência. “Os macacos [rodopiavam] propositalmente, quase como se estivessem dançando – um mecanismo conhecido nos humanos que facilita universalmente a regulação do humor, o vínculo social e estimula os sentidos”, afirmou Lameira em comunicado.

Mais estudos são necessários para entender por que os primatas se envolvem nesse tipo de atividade – e por que nossos ancestrais também poderiam buscar experiências giratórias que proporcionassem algum estado mental alterado. 

No caso do estudo, publicado neste mês na revista científica Primates, os pesquisadores acreditam que há alguma uma ligação com a saúde mental – os animais observados eram principalmente indivíduos em cativeiro, que poderiam estar entediados e tentando estimular seus sentidos de alguma forma. “Mas também pode ser um comportamento de brincadeira”, afirmam os autores, como quando crianças alcançam a vertigem em um gira-gira. 

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