Dia do Cacau é luta pela dignidade no campo!

CACAU uma literatura libertaria-(Romance, 1933)

Os personagens de Jorge Amado não fogem do debate sobre opressão, repressão social, luta de classes, batalha de valores humanos frente o disparate de uma sociedade fundamentada em porções de coronealismo e vastidões de pobres mandados, desvanecidos, mas que majoritariamente assistem a tudo a partir de um viés se não contestador, no mínimo muito questionador.


Os trabalhadores do cacau entendem a exploração e enxergam a depreciação pela força do dinheiro, do medo e da chantagem, frutos bem avistados do mercado do lucro dos grandes sobre os pequenos. Cacau é um romance manifesto. Permeado pela “sabedoria popular”, trajeto daqueles que sentem na pele o que está descrito nos livros, o romance-manifesto ilustra muito bem o vasto leque de explorações e opressões, em seus variados níveis: o jovem que vê sua força de trabalho resultar apenas no dinheiro exorbitante do patrão; os trabalhadores que não conseguem se desvencilhar das dívidas com a pequena mercearia (pois o lucro e a exploração estão em todos os níveis); as mulheres “defloradas” tanto pelos trabalhadores “troncos” quanto pelos estudantes de Direito, filhos dos pais, que passam pelas fazendas apenas para encrencar com a vida das pessoas de lá; as mulheres da vida, os pobres errantes, os pés-descalços – a exploração do Brasil não é menor por ser o Brasil um país constituído das diferenças.

O livro, espécie de romance-reportagem composto sob o influxo das teses sobre uma “literatura socialista”, espanta. Chega a chocar – pelo tom, pelo tema, pela linguagem. A edição é imediatamente apreendida pela polícia, mas, no dia seguinte, o livro é liberado, graças ao então ministro do Exterior, Osvaldo Aranha. 
Escândalo e sucesso se casam — e a edição se esgota em um mês. 
É o primeiro livro de Jorge Amado a ser traduzido para uma outra língua – no caso, o espanhol. Depois virão as traduções para o alemão, o coreano, o dinamarquês, o francês, o grego, o holandês, o italiano, o polonês, o russo. E assim a história da vida nos cacauais da Bahia vai principiar a correr o mundo. Cacau é a narrativa das aventuras de José Cordeiro – o Sergipano -, trabalhador numa fazenda, onde divide um casebre com alguns companheiros de labuta e sofrimento. É um homem que recusa a oportunidade de se casar com a filha do patrão, para levar adiante, “de coração limpo e feliz”, o seu sonho revolucionário. A essa altura, como se vê, Jorge Amado já mergulhara na militância comunista. E Cacau é um livro em chamas. Um livro panfletário, escrito com o fogo da indignação.

Histórico

Primeiro romance do “ciclo do cacau”, foi concluído em junho de 1933 e teve sua 1ª edição pela Ariel Editora, Rio de Janeiro, em agosto de 1934, com capa e ilustrações de Santa Rosa, 197 páginas e tiragem de dois mil exemplares. A partir de 1941, foi editado pela Livraria Martins Editora, São Paulo, com ilustrações de Santa Rosa, integrando o primeiro tomo da coleção “Obras Ilustradas de Jorge Amado”, até a 30ª edição, em 1975.

Em volume separado, como era inicialmente, o romance passou depois a ser publicado sem as ilustrações originais, mas reproduzindo a capa de Santa Rosa, pela Editora Record, Rio de Janeiro.

A 51ª edição, 1998, pela Editora Record, recebe fixação de texto por Paloma Jorge Amado e Pedro Costa e a partir de 2010 o livro recebe o selo editorial da Companhia das Letras.

Cacau foi o primeiro livro de Jorge Amado traduzido para o espanhol, em julho de 1935, por Héctor F. Miri, escritor argentino. Teve também traduções em alemão, basco, coreano, dinamarquês, francês, grego, holandês, italiano, polonês e russo, além de ter sido publicado em edição portuguesa.

Em 1993, foi publicado pelo Jornallivros da UNESCO e distribuído como suplemento nos principais jornais do mundo, em edição bilíngüe (português e espanhol), tradução de Estela dos Santos, com ilustração de Carybé.

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