Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana

Verbete-M Mulucum, Molocum, Omolucum, Omoloé 
Na cidade da Oxum, um convite ao Omolocum.
No banquete a rainha da beleza, o manjar bronze dourado, alimenta deuses homens, menino e mulher.


Nesta mesa todos estão convidados, sem hierarquias, sem credo nem cor. A comida reflete a cor dourada do sol. O feijão pode ser considerado a leguminosa mais generosa e característica da nossa cultura. Ele sempre esteve vinculado aos pratos mais expressivos da culinária brasileira, como a Feijoada, a Dobradinha e o Tutu Mineiro. 

Não poderia ser diferente no caso do Omolucum, que representa o Orixá Oxum, que esta ligado ao conceito de fertilidade, procriação e riqueza. 
A origem do Feijão Fradinho ou feijão-caupi, Vigna unguiculata (L.) Walp , do gênero Vigna segundo Francisco Rodrigues Freire Filho ocorre nas regiões tropicais e subtropicais com ampla distribuição mundial. Estudiosos catalogaram mais de 170 espécies, sendo a grande maioria na África, onde 66 delas são consideradas endêmicas. 
Entre as espécies que ocorrem na África está a Vigna unguiculata (L.) Walp, a qual tem sua origem e centro de origem bastante discutidos. 
Faris (1965) e Rawal (1975) apontam o “oeste da África Central” como centro de origem e diversidade de V. unguiculata (L.) Walp. Ng & Maréchal (1985) afirmam ser o Oeste da África, mais precisamente a Nigéria, o centro primário de diversidade. Um fato que tem contribuído para isso é que as formas selvagens da espécie não têm sido encontradas fora da África.
A domesticação também ocorreu na África, dispersando-se para outras regiões do continente e do mundo através de migrações e de rotas comerciais. 
Segundo Freire Filho (1988) o feijão-caupi foi introduzido na América Latina, no século XVI, pelos colonizadores espanhóis e portugueses, primeiramente nas colônias espanholas e em seguida no Brasil, provavelmente no estado da Bahia. 
A partir da Bahia, o feijão-caupi foi levado pelos colonizadores para outras áreas da região Nordeste e para as outras regiões do País. 
Se fizermos uma analise mais aprofundada e abrangente de todo o sistema alimentar da culinária baiana, tomando como base valores históricos, antropológicos e sociais, como de direito; envolvendo suas formas de integração social, simbólicas e de ritualização; podemos perceber claramente a sua importância, a partir do prefacio da primeira edição do livro Casa Grande e Senzala, onde tao primorosamente Gilberto Freyre, faz um agradecimento a preta Maria Inácia, pelos prestimosos esclarecimentos detalhados a cerca daquele contexto gastronômico: "Une Cuisine et un Politessse! Oui, les deux signs de ville civilisation..." 

O feijão-caupi é também conhecido como feijão-macássar ou macassa e feijão-de-corda em outras cidades do Nordeste; feijão-da-colônia, feijão-da-praia e feijão-de-estrada na região Norte; feijão-miúdo na região Sul; feijão-catador e feijão-gurutuba em algumas regiões da Bahia e norte de Minas Gerais, e feijão-fradinho nos estados da Bahia e do Rio de Janeiro. 
O Feijão Fradinho, é conhecido na África subsaariana como "Carne de Pobre" devido a sua importância, é resistente a secas e se adapta melhor a climas quentes e, portanto, poderia ser uma boa alternativa à soja. 
Folhas de feijão também podem ser usadas como alimento para gado. 
Em alguns países, como a Nigéria e o Níger, fazendeiros já estão trocando a produção de algodão pela de feijão fradinho. 
 De acordo com Bruce Campbell, o diretor do Programa de Mudanças Climáticas, Agricultura e Segurança Alimentar, identifica no Feijão um dos alimentos mais importantes como salvaguarda de proteína e um forte "alternativa" a proteína animal com o aumento das temperaturas.



A Cor Amarela e Cobre do alimento .




Oxum a segunda mulher de Xangô, representa na Bahia a água doce, deusa do ouro (na África seu metal era o cobre), riqueza e do amor, foi rainha em Oyó, sendo a sua preferida pela jovialidade e beleza. 
O Mulucu é a comida sagrada dedicada a Oxum(Feijão Fradinho com cebola, sal e camarão refogados no Azeite de Cheiro,e servido num recipiente com ovos cozidos sobre o mesmo) e adum (fubá de milho com mel e aceite) são seus principais alimentos. Sua dança é faceira, mas ocasionalmente também belicosa É saudada com o grito "Ora Iêiê ô!". 
Segundo o antropólogo francês Pierre Verger "o arquétipo de Oxum é das mulheres graciosas e elegantes, com paixão pelas jóias, perfumes e vestimentas caras." 
São vários os termos encontrados para este prato, Mulucu, Molocum, Omolucum.
Segundo Vivado da Costa Lima no livro "A Comida de Santo numa Casa de Queto na Bahia", em entrevista com a Ialorixá Olga Francisca Régis, Olga de Alaketo, ela indica o nome Mulucu, que deve ser preparado escorrendo o caldo do cozimento do feijão, para depois refogar e manter bem sequinho. 
Importante fazer uma distinção que nem só Oxum come Omolucum, outros orixás também recebem este alimento preparado com azeite de oliva.

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