Pequeno Dicionario da Cozinha Baiana

Verbete-Q Quenga de Galinha

"Besta é coco que dá leite sem ter peito, é furado e não grita, e a mãe ainda é quenga."
A palavra Quenga vem do Quimbundo "ken,a" kienga, tacho. 
Segundo Sergio Nogueira, originalmente, Quenga é uma vasilha feita da metade de um coco sem a polpa. 













Virou sinônimo de prostituta no Nordeste do Brasil porque um coco sem a polpa seria como uma cabeça sem cérebro, uma pessoa desmiolada, como a quenga, que caiu na prostituição. Por semelhança, a palavra “coco” é utilizada para designar a cabeça.
Variados dicionários, admitem como prostituta, meretriz, recipiente feito com banda de quenga de coco, mulher feia; caso de alguém; puta; mulher de vida fácil. 
Jorge Amado em sua obra, sempre observou os espaços da mulher no sul da Bahia, território patriarcal por excelência. 

A partir da sua visão, caminha-se pelas ruas baianas procurando problematizar as possíveis questões referentes ao gênero feminino, pensando-as sempre como sujeito social, ilustrando questões de gênero e a condição feminina da época.  

E importante ressaltar a preocupação de Jorge, em contextualização a condição de etnia e de classe social, pois ao construir a identidade destas mulheres, sujeitas à estereótipos e preconceitos em função da generalização. 
Existem vários livros de Jorge Amado, onde a problemática feminina é abordada, o que denota uma critica aguda aos costumes patriarcais da época, suas personagens femininas, são empobrecidas deste conteúdo psicológico, limitadas em suas vontades e anseios pela opressão masculina dominante que as condiciona a um único fluxo: a de ser objeto sexual.
A presença constante destes personagens femininos, deu margem a severas criticas, retratando-o como machista e até depravado.
“Tereza vinha de uma família muito pobre e no Nordeste é hábito as famílias pobres venderem suas filhas como amante aos poderosos da região” evidenciando-se desde o início a falta de saída de Tereza, condicionada a perda violenta da infância, a chance ou escolha de se tornar uma “mulher de família”, sendo obrigada a aceitar sua condição. 
Evidencia-se dois espaços da mulher, a mulher pública que engloba prostitutas ou meninas desvirginadas precocemente e as privadas, conhecidas como “mulheres de família”, preparadas desde cedo para compor o lar e servir aos seus maridos, dos dois modos estas mulheres, de alguma forma, submetem-se aos homens.
E prevemos deste então Tereza compondo o grupo de mulheres públicas, pois este, devido sua condição de pobre, órfã e em breve desvirginada antes do casamento, será seu único caminho. As prostitutas não foram inventadas por ele, existem desde os primórdios da história. E representam a mulher desvalorizada, usada como objeto, da forma mais absurda, que pode ser possível; desprovidas de tudo, principalmente em sua dignidade de seres humanos. 
O escritor Jorge Amado mostra este aspecto da humanidade, de forma muito clara. 





Muitas mulheres negras, "escravas de ganho" mercavam pela cidade diversos produtos, levando na cabeça, grandes tachos, com frutas, comidas das mais variadas, miúdos de porcos e bois.

Ele conta, em Navegação de Cabotagem, que seu respeito pelas prostitutas, vem do contato que teve com elas, quando criança. Um tio seu costumava ir às casas de prostituição e levava-o junto. Lá, enquanto o tio namorava, as moças tratavam-no com o carinho e respeito que uma criança merece. E ofereciam-lhe doce. Assim, ele aprendeu a respeitá-las. 
"QUENGA DE GALINHA" 

Ingredientes:

 2 kg de galinha (ou frango)
 1/2 kg de camarão limpo 
 1 kg de quiabo 
 1/2 litro de leite de coco 
 1/4 de litro de azeite de dendê 
 2 cebolas picadas 
 2 dentes de alho picados 
 4 tomates maduros picados 
 1 colher (sopa) de coentro verde picado 1 pitada de cominho 1 pitada de pimenta do reino e sal

Modo de Preparo:
Corte a galinha pelas juntas. Refogue a cebola e o alho no azeite de dendê, acrescente a galinha, os tomates e os temperos. Coloque o leite de coco e deixe ferver.*** Junte então os camarões e o quiabo e deixe até estarem cozidos. Sirva com arroz branco e farofa branca. Olho Vivo “Quenga” é mulher-dama e galinha, na acepção mais chula e sem vergonha, é mocinha chegada num assanhamento. Quega de galinha, todavia, freqüenta lares baianos de toda excelência. Aqui, o quiabo entra para dar consistência ao prato e não deve ser feito separadamente. Quem não aprecia tal babado que se não estabeleça!!” ++++++ Ficou tudo muito claro, não é mesmo??? Em tempo, penso que até os três asteriscos *** deva ser seja feito com antecedência. Dali para frente, na hora de servir. Servir tudo bem quente. 2. Nordeste: Metade de um coco-da-baía transformada em vasilha. "Sinhá Vitória provara o caldo na quenga de coco." Vidas Secas, Graciliano Ramos.

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