Botequins contam a história do Rio em livro cheio de memórias afetivas

Autores passeiam por 30 bares e botequins que marcaram a história. Livro integra a coleção criada em homenagem aos 450 anos da cidade.


Ao lado dos livros de história tradicionais, a história de uma cidade pode ser contada pelas lembranças de sua população, principalmente aquelas originadas em rodas de conversa regadas e boa bebida e comida. 
Os bares cariocas contam a crônica da cidade no livro “Memória afetiva do botequim carioca”, de José Octavio Sebadelhe e Pedro Paulo Thiago de Mello, da Editorai José Olympio. 
Apresentado por notáveis boêmios como Sérgio Cabral e Aldir Blanc, com introdução que mostra os primórdios da bebida alcóolica no Brasil e sua relação com a vinda da Família Real, o livro passeia por 30 dos bares e botequins que marcaram a história do Rio de meados do século 19 ao século 21. Da Lapa antiga, passando pela Tijuca de samba e tira-gostos, até a bucólica Ipanema dos anos 60, o livro relembra as noites cariocas e integra a biblioteca Rio 450, criada em homenagem aos 450 anos da cidade, comemorados em 2015. “A gente tentou traçar no livro uma linha cronológica da história da cidade através dos
botequins. Não só a gente conta a conformação desse tipo de comércio desde seus ancestrais como a gente classifica 30 bares que marcaram a história da cidade e influenciaram diretamente em diversos aspectos a cultura da cidade”, diz José Octavio. 
Para Paulo Thiago, “a boemia determina o caráter e a identidade de uma cultura”. Um dos botequins que ajuda a contar a história do Rio, é o Bar Luiz, no Centro do Rio, o mais antigo em atividade, inaugurado em 1887. 
Esse próprio botequim foi muito influenciado pela história: originalmente chamado de Bar Adolph, pois era de propriedade de uma família alemã, sofreu com o sentimento antigermânico durante a Segunda Guerra Mundial. 
'Memória afetiva do botequim carioca' Memória afetiva do botequim carioca Revoltados, estudantes do Colégio Pedro II invadiram o bar, mas o compositor Ary Barroso estava presente. Subiu numa cadeira, fez discurso e fez elogios ao proprietário Adolph, que estava no local. 
E tudo terminou em chope. Que na época nem era a bebida favorita do carioca. “Tomava-se vinho, devido à influência portuguesa. Quando os alemães introduziram a cerveja, sofreram resistência, mas a temperatura da cidade favoreceu o chope”, ressalta Paulo Thiago. 
Botequim é bebida e boa conversa, mas para segurar essa dupla, só mesmo um bom petisco. Ou um prato caprichado, como o filé à Oswaldo Aranha, que teria sido criado pelo próprio ministro das Relações Exteriores de Getulio Vargas, nos frequentes almoços no Cosmopolita, o Senadinho, na Lapa, bem perto de onde era o Senado. 

“Era um bar que reunia desde malandros como Madame Satã a Oswaldo Aranha e outros políticos. Reza a lenda que Oswaldo Aranha sempre pedia seu filé daquela forma. 
Outras histórias dizem que o prato teria sido inventado no Vermelhinho ou no Lamas. Mas é bom que haja contradições porque o que importa é que o prato foi inventado no Rio e é uma marca da culinária carioca”, diz Paulo Thiago.

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