"Mamoul, quem já provou, nunca esqueceu", As influencias Árabes na cultura Baiana

A presença Síria e Libanesa na região do baixo sul, foi muito determinante na cidade de Ilhéus, como podemos observar no trabalho da Maria Luíza Silva Santos, "O quibe no tabuleiro da Baiana"Estes não atuaram conjuntamente com os desbravadores das roças de cacau; encontraram-se com as fazendas através da mascatagem, apesar disso deixou uma marca profunda na gastronomia local, o Mamoul é uma prova inconteste deste legado.


A grande maioria dos sírios e libaneses que entrou no Brasil era de mão-de-obra agrícola, com poucos artesãos. 
É verdade que alguns tinham ofícios e que os praticavam no Brasil. 
A maioria contudo, conhecia poucas técnicas que lhe pudessem servir na nova terra e, evitando a agricultura e a indústria, começou a mascatear fósforos, armarinhos e fazendas pelas ruas da cidade e do interior (1960, p. 186). Essa afirmação vai encontrar eco em Adonias Filho, quando afirma que a chegada dos sírios e libaneses para a região se deu por volta de 1871. 
Esta diferença, contudo, se é pertinente aos efeitos da precisão, não deveria sugerir uma “diminuição” da importância da contribuição árabe para a construção da civilização do cacau. 
Os sírios e os libaneses viabilizaram à população o acesso a bens de consumo fundamentais, como querosene, velas, calçados, tecido, carne seca, papel e artefatos básicos de funilaria; ou seja, os artigos básicos utilizados no dia-a-dia de uma fazenda ou vilarejo do cacau, do último quartel do século XIX até o meado do século XX. 

Esses relatos visam a contribuir para promover a divulgação da história dos imigrantes sírios e libaneses para os habitantes de Ilhéus e para o turista que deseja conhecer a história local, a importância da sua culinária e as reconfigurações advindas dessa defrontação e conjugação, fazendo com que o fenômeno turismo se configure como mais rico, fascinante e prazeroso. 
A obra de Jorge Amado esta repleta de personagens, como descreve Jorge Medauar, tente texto: "Seus árabes ou descendentes caminham em seu universo com a mesma naturalidade dos tabaréus, coronéis, bacharéis, prostitutas, malandros, trabalhadores de roça, capoeiristas, jagunços, gente anônima das ruas. E muitos entraram em sua obra tão marcantemente como Jubiabá, Guma, ou Tereza Batista, transformando-se no personagem principal, naquele em tomo do qual se desenrola a história ou o romance. É bem o caso de Nacib, de Gabriela, Cravo e Canela, e desse fabuloso Fadul Abdala, de Tocaia Grande, que tivemos a honra de conhecer ainda no embrião da história. 
Em outubro de 1983, quando Jorge Amado principiava a escrever seu romance, mandou dizer-nos, em carta: "Este meu romance da 'face obscura' está cheio. de árabes: um deles, Fadul Abdala, personagem fundamental, é porreta. Aliás, aconteceu uma coisa engraçada: para contar uns percalços de Fadul acabei escrevendo uma noveleta (45 páginas) de árabes em Itabuna, mas eu a retirei do contexto do livro onde ela pesava demasiado sobre a história do lugarejo - cujo nome é Tocaia Grande, futura Irisópolis. 
Mas, quando terminar o livro, voltarei a trabalhar a noveleta da luta entre Deus e o Diabo pela alma de Fadul". 
Este depoimento, vindo mesmo do coração do clima em que seu personagem se movimentava e crescia, na verdade como um “porreta”, é mais do que uma simples demonstração da simpatia do romancista pelos árabes: revela sua preocupação pela legitimidade de seus personagens. 
Assim, Fadul não poderia ter um tratamento diferente de qualquer outro personagem genuinamente baiano, portanto brasileiro, com características pessoais ou próprias no comportamento, na fala, nas reações, nos traços físicos, elementos que marcam a autenticidade ou identidade inequívoca de cada um dos seus personagens. 
O que há de invenção, criação ou fantasia ficcional em muitas de suas criaturas não é gerado unicamente pelo gênio criativo de Jorge Amado — mas nasce de uma realidade conhecida. Quem poderá dizer que Jorge Amado não conviveu, no Vesúvio, na cidade de Ilhéus, com Nacib e Gabriela, por exemplo, já que a casa do grande romancista (hoje Fundação Cultural de ilhéus) era vizinha daquele bar? Os Nazal, Medauar, Maron, Daneu, Chalub, eram famílias de Ilhéus, portanto pessoas de seu convívio. Daí a matéria-prima. 
O retrato. A matriz. Assim, o Abdula, comerciante em Feira de Santana, é tão legítimo quanto Nacib, o Maron ou o Daneu, que eram de verdade, da vida real. Jorge Amado tem, dentro dele próprio o modelo de seus personagens árabes. Não precisou inventar. 
Não é, pois, sem razão que despontam com naturalidade em quase toda a sua obra. Verdade que outros romancistas têm personagens árabes, mas nenhum apresenta mais sírios, libaneses, descendentes do que Jorge Amado. Seu rol é imenso, e ainda maior se considerarmos as misturas. Como no caso desse Antônio Bruno, com nome de brasileiro, mas com "romântico perfil de beduíno". Era neto do árabe Fuad Maluf e está em Farda, Fardão, Camisola de Dormir. Do mesmo modo, dona Fifi, mesmo com nome que nada tem de sírio ou libanês: é árabe, mãe de um malandro de dezessete anos. Está no País do Carnaval. Bia Turca, nome meio dúbio, porque apelido, está em Tereza Batista. E dona Émina Silva, esposa do Dr. Ives e mãe de "bonitas filhas", é da rua do Sodré, da Bahia, e, como os citados, descendente de sírios. Esses personagens, muito embora diluídos na tessitura social brasileira, são, como os sinais da influência árabe, tão disseminados e muitas vezes quase imperceptíveis.

Mamoul
Um doce e delicado biscoito de semolina, que pode ser recheado com tâmaras, pistaches, nozes e, mais raramente, amêndoas ou figos. É extremamente popular no Líbano, Síria, Jordânia, Palestina, na região do Golfo Pérsico, Egito, Turquia, Armênia, Irã, Grécia e Paquistão. 

A principal característica do mamoul é o formato, assim como na maioria dos doces árabes. Aqui, o formato padrão é circular, mas cada sabor é moldado em uma forma diferente. O de nozes costuma lembrar o domo decorado de uma mesquita, enquanto o de tâmaras lembra uma cúpula menos rebuscada. O de pistache é o que mais se difere, por ser ovalado. Muito consumidos durante o mês do Ramadã, esses doces são muito fáceis de serem preparados e é comum que sejam feitos em casa. A massa, feita com farinha de semolina e água de rosas e água de flor de laranjeira, descansa por cerca de 12h antes de ser recheada e moldada, mas leva apenas 8 minutos para assar. Tanto "Mamoul" como "Maamoul" pronuncia-se como [ma'-mul]. Também são aceitas grafias como Mamul, Maamul, ou Ma'moul.

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