O que há de semelhança entre o Acarajé de Jesus e a música de Claudia Leite? O racismo cultural

No caso do Acarajé de Jesus, trata-se de uma apropriação de um símbolo afro-brasileiro associado ao candomblé, um contexto religioso frequentemente marginalizado e demonizado no Brasil. Algumas comunidades neopentecostais passaram a vender acarajés com uma ressignificação cristã, o que gerou polêmicas. A prática ignora ou nega a conexão espiritual original do alimento, transformando-o em um produto desvinculado de sua ancestralidade e espiritualidade.

De forma semelhante, a modificação feita por Claudia Leitte na música "Yeshua" segue um padrão de reinterpretação de elementos religiosos ou culturais. "Yeshua," que tem origem hebraica e é utilizado em contextos judaico-cristãos, foi adaptado por Claudia para uma performance comercial, em um estilo mais próximo ao pop, o que gerou debates sobre descaracterização ou falta de respeito pelo significado religioso original da canção.

A relação entre os dois exemplos está na tentativa de monetizar elementos culturais ou religiosos originalmente carregados de significado espiritual, muitas vezes ignorando ou diluindo esses significados em prol da comercialização. Em ambos os casos, há uma desconexão entre o símbolo ou prática original e sua nova utilização, o que levanta questões éticas sobre apropriação cultural e a mercantilização de crenças e tradições.

A estratégia de divisão entre os escravizados não é uma prática nova e remonta ao período colonial. Durante a escravidão no Brasil, uma tática amplamente utilizada pelos colonizadores era fomentar a divisão entre os africanos escravizados, explorando suas diferenças étnicas, culturais e religiosas.

Estratégia conhecida

Os escravizados vinham de diferentes regiões da África, pertencendo a grupos diversos como os yorubás, bantos, jejes e outros, cada qual com suas próprias línguas, tradições, crenças e identidades culturais. Os senhores de escravos intencionalmente misturavam pessoas de diferentes grupos em um mesmo espaço, dificultando a comunicação e a organização coletiva. Essa prática de divisão era uma estratégia para evitar rebeliões e fortalecer o controle sobre os escravizados.

Além disso, a demonização de práticas religiosas africanas era uma ferramenta para minar a coesão cultural dos escravizados. O candomblé, por exemplo, foi demonizado, enquanto os colonizadores impunham o catolicismo como religião dominante. Isso forçou muitas práticas religiosas a serem adaptadas ou disfarçadas, criando um sincretismo que, embora tenha permitido a sobrevivência de algumas tradições, também alterou profundamente suas expressões originais.

Essa lógica de "dividir para governar" permanece em diferentes formas até hoje, refletida em dinâmicas sociais e culturais que buscam deslegitimar ou ressignificar práticas culturais e religiosas afro-brasileiras para atender a interesses dominantes, como a monetização ou a descaracterização cultural.


@ElCocineroLoko 

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