— Lacan, O Seminário, Livro XVII (1969–1970)
Lacan está indo além da crítica marxista clássica à exploração econômica do proletariado. Ele propõe que o proletariado sofre uma expropriação simbólica, ou seja, não apenas da sua força de trabalho, mas também da sua posição de sujeito que detém saber. Isso se insere na teoria lacaniana dos discursos, especialmente o discurso do mestre e o discurso universitário, que ele trabalha profundamente nesse seminário.
Interpretação Lacaniana:
Função de saber: para Lacan, o saber não é apenas conhecimento técnico, mas um lugar simbólico, uma posição dentro de uma estrutura discursiva. Alguém que detém saber exerce poder e autoridade sobre o outro.
Destituição do saber: o proletário, dentro do discurso capitalista, é privado da legitimidade de construir, preservar e transmitir saber. Ele é reduzido a um executor, a um corpo produtivo sem voz na formulação do conhecimento. Ele não sabe sobre o que faz, e esse "não saber" é sistematicamente reforçado.
Subjetivação e alienação: o proletário é subjetivado como aquele que não sabe, que precisa ser orientado, educado, administrado. Isso o coloca fora da posição ativa no discurso — o que Lacan chama de "agente" — e o rebaixa a um "resto" ou objeto da estrutura.
Discurso capitalista: Lacan propõe que o discurso capitalista funciona invertendo o discurso do mestre, colocando o sujeito como consumidor e o saber como mercadoria. Nesse sentido, o saber se descola da experiência e da práxis do trabalhador.
Jacques Lacan (1901–1981) foi um psicanalista francês que reinterpretou a obra de Freud à luz da linguagem, da filosofia estruturalista e da linguística.
Ele ficou conhecido por dizer que “o inconsciente é estruturado como uma linguagem”, e por desenvolver teorias complexas sobre o sujeito, o desejo, o saber e a estrutura dos discursos. Lacan influenciou não só a psicanálise, mas também a filosofia, a literatura, a pedagogia e os estudos culturais.
Seu estilo é denso e muitas vezes enigmático, mas seu impacto foi profundo, especialmente por desafiar abordagens mais medicalizadas ou simplificadas da subjetividade.
Comentários
Postar um comentário