🔥 COM QUANTOS QUIABOS SE FAZ UMA QUIABADA?

Quem souber, que diga! Quem não souber, que invente!

A resposta certa talvez seja: com aqueles que a memória manda, que o quintal dá e que a panela pede. 🌿🔥

A quiabada é um prato profundamente enraizado na culinária afro-baiana, com origens que remontam ao encontro entre os saberes alimentares africanos, indígenas e portugueses. No entanto, sua base, o quiabo, é uma planta de origem africana que chegou ao Brasil pelas mãos das populações escravizadas trazidas da África Ocidental.

Quem souber, conte. Quem não souber, invente — ou consulte Manuel Querino.

Foi ele, baiano atento às raízes, quem registrou no final do século XIX uma das primeiras versões escritas da quiabada afro-baiana. Em suas obras, Quirino deu nome e dignidade aos saberes culinários das mulheres negras, escravizadas ou libertas, que sustentavam Salvador em fogo brando e panela de barro.

🌿 Em sua descrição, a quiabada não era só comida: era tradição viva, mistura de quiabo com carne seca, camarão, azeite de dendê e saber ancestral. Era um prato falado, passado de boca em boca, que ele ousou escrever — para que não se perdesse entre os silêncios impostos à cultura negra.

🔥 Por isso, quando a gente pergunta “com quantos quiabos se faz uma quiabada?”, a resposta pode ser:

•Com a coragem de escrever o que o povo cozinha.

•Com a memória que sobrevive mesmo quando a história oficial tenta apagar.

•Com a folha, o azeite, a carne e a fé de quem resistiu.

🗣️ E você, já fez sua Quiabada?

Qual o segredo da sua casa? Tem truque pra tirar a baba do quiabo?

Conta aí nos comentários. Vamos fazer essa receita girar — de Quirino até o seu quintal.

🌱 Origem do Quiabo

O quiabo (Abelmoschus esculentus) é nativo da África tropical, especialmente das regiões que hoje correspondem a países como Etiópia, Sudão e Nigéria. Ele fazia parte das culturas alimentares africanas muito antes da colonização das Américas, sendo cultivado por suas propriedades alimentícias e medicinais. No Brasil, passou a ser cultivado principalmente nas regiões Norte e Nordeste, adaptando-se bem ao clima quente e úmido.

🍲 A Quiabada na Bahia

Na Bahia, a quiabada tornou-se um prato emblemático, especialmente nos terreiros de candomblé e nas casas das famílias negras. Ela é parte do banquete ritual e cotidiano, sendo usada tanto em oferendas quanto em refeições festivas ou do dia a dia.

Existem várias versões da quiabada baiana:

Quiabada com carne-seca ou charque, comum no Recôncavo e em Salvador.

Quiabada com frutos do mar, como camarão seco ou siri mole, ligada aos rituais de orixás.

Quiabada com azeite de dendê, presente em festas e oferendas religiosas.

Quiabada com frango ou galinha caipira, prato de roçado e quintal.

🌶️ A quiabada de Jorge Amado é quente como Gabriela, escorregadia como a saudade, e sagrada como o dia de festa no terreiro.

“Quiabada de Jorge Amado”

Quiabada rendada, dobrada, cortejada — amada e querida comida da Bahia.

No quintal do imaginário de Jorge Amado, entre o perfume do dendê e o som das conversas ao redor do fogão, habita a quiabada. Guizado potente de carne, camarão ou carne-seca, com quiabos que estalam na panela, soltam fios e encantam o prato — uma verdadeira festa de texturas, cores e ancestralidade.

Ela não é apenas alimento: é ritual, é memória. Encarnaria o espírito de personagem baiana — mulher forte, misturando sabores africanos (o próprio quiabo, “quimbombó”), indígenas e portugueses, tal como Jorge Amado pintou em Dona Flor, Gabriela ou os cozinheiros de Jubiabá. 

🌿 *Com quantos quiabos Jorge Amado temperou a Bahia?*

Provavelmente, com tantos quantos coubessem na mão daquela quituteira que cruzava a feira; ou na dose justa para alimentar o terreiro; ou ainda na colher generosa que Dona Flor serviria em suas lições de cozinha.

🔥 A quiabada amadiana é sensual: escorregadia como a saudade, picante como as paixões, fumegante como as festas na beira do mar. Faz parte da trama de vidas entrelaçadas, onde comida traz potência, afeto e alma.

🔥 Símbolo de resistência

Além de alimento, a quiabada carrega um forte simbolismo de resistência e ancestralidade. Nos terreiros de candomblé, por exemplo, é um alimento que pode estar associado a Ogum (quando feita com carne vermelha) ou Xangô (dependendo dos ingredientes e contextos). O preparo da quiabada é uma prática coletiva, muitas vezes feita por mulheres, herdeiras dos saberes passados oralmente de geração em geração.

📚 Referências culturais

A quiabada é celebrada em livros, canções, festivais e memórias afetivas da Bahia. Como outros pratos afro-baianos (caruru, vatapá, xinxim), ela expressa uma culinária que é também política, espiritual e histórica.

Conta aí nos comentários:

👉 Você já fez quiabada?

👉 Prefere com carne, frutos do mar ou só no azeite e alho?

👉 Tem um truque pra tirar a “baba” do quiabo?

🌿 Quiabada Baiana Tradicional

🧂 Ingredientes:

•500 g de carne-seca dessalgada e desfiada (ou cortada em cubos pequenos)

•300 g de camarão seco (opcional, mas muito tradicional)

•500 g de quiabos frescos

•1 cebola grande picada

•3 dentes de alho amassados

•2 tomates maduros picados (sem pele e sem sementes, se preferir)

•1/2 pimentão verde ou vermelho picado

•2 colheres de sopa de azeite de oliva

•3 colheres de sopa de azeite de dendê

•1/2 xícara de coentro picado

•1/2 xícara de cebolinha verde picada

•Sal e pimenta-do-reino a gosto

Suco de 1 limão (opcional, para tirar a baba do quiabo)

🔥 Modo de Preparo

1. Prepare o quiabo:

Lave bem os quiabos, seque com um pano e corte em rodelas finas. Se quiser reduzir a “baba”, regue com o suco de limão e deixe descansar por 10 minutos. Depois, enxugue com papel ou pano limpo.

2. Refogue os temperos:

Em uma panela larga, aqueça o azeite de oliva e refogue a cebola, o alho, o pimentão e o tomate até formar um molho bem apurado.

3. Adicione as carnes:

Junte a carne-seca e, se for usar, o camarão seco. Refogue bem até incorporar os sabores.

4. Entre com o quiabo:

Adicione o quiabo e mexa com cuidado. Deixe refogar até começar a dourar. Aqui é o momento em que o cheiro da Bahia invade a cozinha.

5. Finalize com dendê e verdes:

Abaixe o fogo, acrescente o azeite de dendê, o coentro e a cebolinha. Cozinhe por mais 5 minutinhos só pra finalizar com alma.

🍚 Sirva com:

Arroz branco fresquinho

Farofa de dendê ou de banana

Um sorriso ancestral no rosto


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