Grande variação na disponibilidade de fontes vegetais de alimentos maias durante secas antigas

Seca que pode ter levado ao colapso da civilização maia provocou queda de até 70% nas chuvas.


Eles dominavam a arquitetura e a matemática. Eles conheciam a astronomia. Eles tinham um sistema de escrita tão eficiente quanto os que existiam, no mesmo período, na Europa.

A civilização maia, uma das mais proeminentes culturas americanas pré-colombianas, deixou marcas que denotam o seu alto grau de desenvolvimento. Mas, quando os europeus chegaram ao continente americano, pouco havia restado.

O mistério sobre o desaparecimento dessa civilização ganha mais uma explicação em estudo publicado nesta quinta-feira pela revista Science. Se muitos já acreditavam que teria sido uma forte estiagem a responsável pelo declínio dos maias, uma pesquisa desenvolvida por cientistas da Universidade de Cambridge e da Universidade da Flórida demonstrou qual o tamanho dessa seca.

Como a seca afetou os maias?

Os primeiros indícios físicos de uma correlação temporal entre a seca e uma transformação sociopolítica da civilização maia foram encontrados mais de vinte anos atrás, em um sedimento do Lago Chichancanab, na península de Yucatán, no México.

A atual análise da presença de camadas de sulfato de cálcio e o concomitante aumento dos isótopos de oxigênio nas conchas de alguns moluscos indicam que a época conhecida como período clássico terminal foi uma das mais secas da história da região.

A teoria de que uma mudança climática por volta do ano 1000 teria levado a civilização ao colapso já havia sido apresentada anteriormente.

Essa, entretanto, é a primeira vez que uma pesquisa mostra o quão seca foi essa longa estiagem.

Isso porque os estudos paleoclimáticos anteriores eram baseados em reconstruções qualitativas. Ou seja, por comparação, apenas se sabia que um período era mais seco que o outro.

No novo estudo, os pesquisadores reconstruíram a composição isotópica da água do lago Chichancanab, no México, a partir de núcleos de sedimentos de sulfato de cálcio hidratado.

Eles mediram a presença de oxigênio e hidrogênio - ou seja, as moléculas da água - nesse material decantado há séculos, depositado como camadas no fundo do lago. Com isso, conseguiram um retrato meteorológico da época do declínio dos maias, entre os anos 800 e 1000.

Significado

A ruptura da sociedade maia clássica coincidiu com secas prolongadas, como sugerido por numerosos estudos paleoclimáticos.
No entanto, o papel da seca na agitação civil e no declínio demográfico é complicado pela dificuldade de vincular estimativas relativamente grosseiras da seca meteorológica com os processos vegetais em escala fina que sustentam a agricultura.
Nossa análise da resistência à seca nas plantas alimentícias indígenas historicamente documentadas de grupos etnográficos maias mostra uma ampla gama de alimentos diminuindo gradualmente através de secas de gravidade crescente.
Esta descoberta implica que secas curtas a moderadas podem ter causado perturbações agrícolas, mas não o colapso da subsistência. No entanto, a seca extrema de vários anos é consistente com o colapso agrícola e o espectro da fome.
Evidências paleoclimáticas indicando uma série de secas na Península de Yucatán durante o período Clássico Terminal sugerem que as mudanças climáticas podem ter contribuído para a ruptura ou colapso das políticas maias clássicas.
Embora a mudança climática não possa explicar totalmente a turbulência política multifacetada do período, está claro que secas de grande magnitude podem ter limitado a disponibilidade de alimentos, potencialmente causando fome, migração e declínio social.
O milho era, sem dúvida, um importante alimento básico dos antigos maias, mas uma análise completa de outros recursos alimentares que estariam disponíveis durante a seca permanece sem solução.
Aqui, avaliamos a resistência à seca de todas as 497 espécies de plantas alimentícias indígenas documentadas em etnografia, etnobotânica, e estudos botânicos como tendo sido utilizados pelos maias das terras baixas e classificam a disponibilidade dessas espécies vegetais e seus componentes comestíveis em vários cenários de seca. 

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