Patrimônio gastronômico nacional

Os hábitos alimentares de uma região são considerados um espelho e uma parte integrante da própria imagem da sociedade. 

As permanências de determinados hábitos alimentares e práticas gastronômicas cria um panorama cultural, que delineia as cozinhas regionais. Através do alimento, podemos identificar uma sociedade, uma cultura, uma classe social, ou uma época. 
No Brasil o órgão responsável pela preservação do patrimônio cultural é o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), vinculado ao Ministério da Cultura. Poucos sabem, mas este órgão também protege alimentos – que são registrados como Patrimônio Imaterial. 

O acarajé, a moqueca capixaba e os queijos artesanais de Minas já foram registrados como patrimônios imateriais, ou seja, eles não podem mais ser descaracterizados pela evolução natural dos processos de produção e venda. Também são exemplos de Patrimônios Imateriais: o Samba de Roda do Recôncavo Baiano, o Frevo, a Roda de Capoeira, as Matrizes do Samba no Rio de Janeiro entre outros. 
O que é Patrimônio Cultural e Gastronômico? 
"O Patrimônio Cultural de uma nação, de uma região ou de uma comunidade é composto de todas as expressões materiais e espirituais que lhe constituem, incluindo o meio ambiente natural".(Declaração de Caracas - 1992). Mas, afinal, o que é Patrimônio? O conceito de Patrimônio não existe isolado. Só existe em relação a alguma coisa. 
Podemos dizer que Patrimônio é o conjunto de bens materiais e/ou imateriais que contam a história de um povo e sua relação com o meio ambiente. É o legado que herdamos do passado e que transmitimos a gerações futuras. O Patrimônio pode ser classificado em Histórico, Cultural e Ambiental. Segundo Flandrin e Montanari (1996), as cozinhas de comidas típicas são elementos de valorização da cultura regional, de perpetuação da memória culinária das famílias e podem oferecer ganhos de recursos econômicos, tanto para a indústria como para o comércio local. 
Pode-se dizer, então, que a Gastronomia Típica permite simbolizar uma cultura. 
Partindo-se deste pressuposto, esta pesquisa tem como objetivo fazer uma primeira análise das políticas públicas nacionais e internacionais, relacionadas com a preservação e valorização da gastronomia típica como um bem cultural de natureza imaterial. 
1.Patrimônio Cultural. 
 É o conjunto de bens materiais e/ou imateriais, que contam a história de um povo através de seus costumes, comidas típicas, religiões, lendas, cantos, danças, linguagem superstições, rituais, festas. Uma das principais fontes de patrimônio cultural está nos sítios arqueológicos que revelam a história de civilizações antiqüíssimas. 
Através do patrimônio cultural é possível conscientizar os indivíduos, proporcionando aos mesmos a aquisição de conhecimentos para a compreensão da história local, adequando-os à sua própria história. 
Daí a sua importância. Um exemplo de patrimônio cultural é o chamado "Ruínas de São Francisco", em Curitiba-PR.
Trata-se de uma igreja originalmente dedicada a São Francisco, mas que ficou inacabada. Anos depois, foi erguida em local próximo, no que é hoje chamado Largo da Ordem de São Francisco das Chagas, no centro da cidade. 
 2.Patrimônio Ambiental ou Natural. 
 É a inter-relação do homem com seus semelhantes e tudo o que o envolve, como o meio ambiente, fauna, flora, ar, minerais, rios, oceanos, manguezais, e tudo o que eles contêm. Esses elementos estão em contato com o homem, e acabam interagindo, e até mesmo interferindo no seu cotidiano. Um exemplo de patrimônio ambiental/natural é o "Caminho do Itupava", antiga trilha indígena. São 22 km mata adentro, entre as cidades de Curitiba e Morretes, e que mais tarde serviu de caminho para os tropeiros, quando então recebeu calçamento de pedras. Só pode ser utilizada a pé, dando aos que o conhecem a possibilidade de ver a natureza em todo o seu esplendor de animais silvestres, rios, cachoeiras, rica flora e montanhas, permeado de lendas e assombrações. 
 Um patrimônio pode ser MATERIAL ou IMATERIAL. Podemos dizer que patrimônio material são os aspectos mais concretos da vida humana, e que fornecem informações sobre as pessoas. Cultura material é o mesmo que objeto ou artefato. Patrimônio material é o conjunto de manifestações populares de um povo, transmitidos oral ou festualmente, recriados e modificados ao longo do tempo. Os locais dotados de expressivos valores para a História, assim como as paisagens, também são representações do patrimônio imaterial.A escolha desse tipo de patrimônio acontece de 2 em 2 anos, através de um júri internacional. 
Características de um patrimônio: 
A principal característica de um patrimônio é que a sua conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do lugar e de seu povo, quer por seu excepcional valor arqueológico, etnográfico, bibliográfico ou artístico. 
Documentos patrimoniais: São aqueles que carreiam informações relevantes, e que ensinam os mecanismos por meio dos quais uma sociedade se organiza e transforma. 
A UNESCO considera como sendo manifestações de Patrimônio Cultural Imaterial as tradições, o folclore, os
saberes, as técnicas, as línguas, as festas e diversos outros aspectos e manifestações, transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e modificados ao longo do tempo. 
O Patrimônio Cultural Imaterial é passado de geração para geração e recriado pelas comunidades em função de seu ambiente e de sua história. Essa “riqueza simbólica” gera um sentimento de pertencimento e de respeito à diversidade cultural brasileira. Em dezembro de 2002, o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras foi o primeiro bem cultural registrado como Patrimônio Imaterial no Livro de Registro dos Saberes (Livro onde são inscritos os conhecimentos enraizados no cotidiano das comunidades). 
A solicitação do registro foi feita pela Associação das Paneleiras de Goiabeiras e pela Secretaria Municipal de Cultura de Vitória, Espírito Santo. A fabricação artesanal de panelas de barro em Goiabeiras (também conhecido como Goiabeiras Velha), bairro de Vitória, é uma atividade predominantemente feminina, sendo considerada uma prática artesanal, repassada de mãe para filha, e constitui o sustento de centenas de famílias. 
 As panelas de Goiabeiras são utensílios indispensáveis no preparo de peixes e mariscos, especialmente para preparar e servir a Moqueca Capixaba, uma referência obrigatória da culinária do Espírito Santo, assim como a torta capixaba que também é preparada nessas panelas. 
Na Bahia
No ano de 2004, o Ofício das Baianas de Acarajé, em Salvador, Bahia entrou no Livro dos Saberes. 

O Ofício consiste em uma prática tradicional de produção e venda em tabuleiro das chamadas comidas de baiana ou comidas de azeite, em que se destaca o acarajé – um bolinho de feijão fradinho, frito no azeite de dendê. 
O preparo do acarajé remonta ao período colonial. 
De origem sagrada, associada ao culto de divindades do candomblé, esta comida popularizou-se e passou a marcar toda a sociedade baiana como um valor alimentar integrado à culinária regional. 
O acarajé faz parte de um conjunto cultural bastante amplo. Dessa forma, são considerados elementos essenciais do Ofício das Baianas do Acarajé os rituais envolvidos na produção do acarajé, na arrumação do tabuleiro, na preparação do lugar onde as baianas se instalam e uso de trajes próprios. 
Em Minas Gerais
O modo artesanal de se fazer Queijo de Minas, também é um Patrimônio Imaterial. O registro foi concedido a três regiões de Minas Gerais: Serro, Serra da Canastra e Serra do Salitre (Alto Paraíba).
Embora essas regiões conservem aspectos comuns na produção do Queijo, como o uso do leite cru e a adição de fermento láctico natural recolhido do soro do próprio queijo, eles possuem características particulares, conferidas por detalhes relativos ao modo de fazer, associadas às condições climáticas, de solo e vegetação de cada região. 
Em São Paulo 
Doce ABC vira patrimônio gastronômico e cultural Sigla representa Abóbora, Batata e Cidra: 'Lembra infância', diz empresária. Fábrica em Tatuí (SP) vende até 200 quilos da iguaria por semana. Abóbora, batata branca, batata roxa e
cidra dão nome e sabor ao mais tradicional doce de Tatuí (SP), o ABC, que é vendido e faz sucesso há 49 anos. Para orgulho de quem produz a sobremesa, o doce recebeu o título de patrimônio cultural e gastronômico da cidade. “Ele é um doce quase caseiro, um doce da vovó. A gente gosta de consumir porque nos traz lembranças da infância”, comenta a empresária Ângela Fogaça. Em uma fábrica da cidade são vendidos semanalmente de 100 a 200 quilos do doce, um número que representa 50% do que é comercializado na cidade, diz a empresa. Para o dono da fábrica, Antônio Rocha Lima Neto, é uma satisfação manter uma herança que vem de família. “É muito gratificante porque a pessoa vem, come e leva pros outros. Eu acho isso muito importante”, diz satisfeito. A fama do ABC é tão grande que pessoas de outras cidades já passam por Tatuí só por ela. A aposentada Domingas Rodrigues e a filha dela, a enfermeira Ana Lúcia Rodrigues, são prova disso. Elas moram em São Paulo, mas sempre que podem passam pela cidade em busca do famoso doce. “É tradicional. Eu vinha desde pequena e quando a gente passa por Tatuí sempre pega um doce para levar para a casa”, comenta a enfermeira. “Sempre tem uma pessoa amiga que gosto de presentar com os docinhos”, afirma Domingas. E engana-se quem acredita que o preparo da sobremesa é difícil. Para a doceira Neuza de Fátima Moraes, a receita é bem simples. “Primeiramente a gente descasca a batata e cozinha ela. Em seguida vai para o taxo, sempre adicionando açúcar e acompanhando o ponto da batata. Depois fica secando de um dia para o outro na estufa e já está pronto para consumir, sequinho”, conclui.

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