Presente no Paraná há mais de 10 mil anos, pinhão ganhou versatilidade gastronômica ao longo da história; veja receita
Pesquisador da UFPR explica que semente começou a ser consumida por povos indígenas para sobrevivência. Atualmente, pinhão movimenta milhões de reais para economia do Paraná.
O livro traça a história da alimentação no estado desde os indígenas até a atualidade, passando pelas influências de diversas etnias que imigraram para a região.
A autora descreve pratos típicos de cada período e localidade, mostrando como a culinária paranaense é produto de uma rica miscigenação cultural.
O pinhão, semente da árvore araucária e popular na culinária da região sul do país, tem uma história secular que começou com teor de subsistência, mas que hoje apresenta versatilidade para produções culinárias.
Ano após ano, o consumo da semente tem ficado menos restrito ao pinhão assado e cozido, e ganhado variações incrementadas, compondo pratos doces e salgados.
O professor Flávio Zanetti, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), explica que as araucárias surgiram no Paraná há pelo menos 10 mil anos – apesar da origem da planta ser mais antiga, datada do período glacial.
Conforme Zanetti, os povos indígenas começaram a consumir a semente da árvore por necessidade.
"Todo habitante de planalto das matas de araucária não tinha nenhuma fruta ou vegetal disponível para se alimentar entre os meses de maio a agosto, e como eles não cultivavam nenhuma cultura e dependiam do extrativismo, o pinhão se tornou o sustento deles."
Embora os indígenas consumissem o pinhão cru, o professor explica que o hábito de assar as sementes também é uma herança associada aos povos originários. Antigamente, eles faziam esse processo por meio da sapecada, jogando os pinhões em fogueiras feitas com ramos seco da araucária.
Leia também: Coletando pinhão, comunidades de SC preservam as matas de araucária
"Foram os indígenas que contribuíram muito para disseminar a espécie em regiões mais altas, porque as araucárias mais antigas foram registradas em vales, nos quais a própria água da nascente era responsável pela disseminação", complementa o pesquisador.
Atualmente, entre as 19 espécies do gênero araucária existentes, duas delas ocorrem na América do Sul: a Araucária angustifólia e a Araucária araucana. Ameaçadas de extinção, as árvores do Paraná têm extração de pinhão permitida entre abril e junho.
Em 2022, o pinhão movimentou R$ 20,8 milhões no Paraná, de acordo com a edição mais recente do Valor Bruto de Produção (VBP), levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral). A maior produção no estado foi registrada em Inácio Martins, com 700 toneladas colhidas em 2022, seguida por Pinhão, com 556 toneladas, e Turvo com 271 toneladas.
Deixando o convencional
A versatilidade do pinhão ganhou as páginas do livro "O pinhão da culinária", editado pela Embrapa Florestas. Nele, a publicação compila 100 diferentes receitas em que a semente é a protagonista. O pinhão é rico em calorias, fonte de energia e fibras que auxiliam na digestão e dão saciedade, além de possuir vários minerais, incluindo cálcio, ferro, magnésio, potássio e zinco.Na visão do professor Zanetti, a diversificação nos modos de preparo do pinhão começou a ganhar força em meados de 2006.
"Quando começamos a distribuir intensamente mudas de araucária na UFPR visando a produção de pinhões e o assunto foi bastante divulgado, o pinhão passou a ser pautado, incentivando o desenvolvimento de inúmeras pesquisas, inclusive aquelas associadas às propriedades nutricionais e à gastronomia", afirma.
A chef Helena Menezes, especialista em história da alimentação, também ajudou a popularizar a versatilidade do pinhão na cozinha. Em 1993, em Curitiba, ela abriu um restaurante em que receitas diferentes com pinhão eram constantes, incluindo pratos como sopa de pinhão e paçoca de pinhão.
Antes, em 1989, outro restaurante da chef também popularizou o pinhão na gastronomia servindo pratos que tinham a semente como protagonista durante todo o ano. Para garantir a presença do pinhão no cardápio, ela chegava a congelar até 500 quilos da semente.
"Por segurança, deve-se hidratar o pinhão em água até que os estragados boiem e se possa descartá-los com uma peneira. Neste processo, os pinhões secos também irão boiar", explica a chef.
Bolo de pinhão de liquidificador
Ingredientes – massa
- 3 ovos
- 2 xícaras (chá) de farinha de trigo
- 1 e ½ xícara (chá) de pinhão cozido e triturado
- 1 xícara (chá) de açúcar
- 1 xícara (chá) de leite
- ½ xícara (chá) de óleo
- 1 colher (sopa) de fermento em pó
Ingredientes – cobertura
- 1 garrafinha (200 ml) de leite de coco
- 1 xícara (chá) de açúcar
- 1 xícara (chá) de pinhão cozido e triturado
Modo de preparo - massa
No liquidificador, bata os ovos com o açúcar e o óleo até obter uma mistura homogênea. Adicione o leite, a farinha e o pinhão e misture bem. Com o liquidificador desligado, incorpore o fermento e transfira a massa para uma assadeira untada e asse por 45 minutos a 180ºC.Modo de preparo – cobertura
Em uma panela, adicione o açúcar, o pinhão e o leite de coco e misture bem até ferver. Despeje sobre o bolo e sirva em seguida.
Fonte G1
Comentários
Postar um comentário