Conheça o alimento considerado a nova joia do Nordeste, segundo cooperativa de agricultores familiares

O mercado de leite de cabra e seus derivados vem crescendo no Brasil. Este aumento está associado ao consumo de pessoas alérgicas ao leite de vaca e que têm recomendações médicas para consumo do produto. Em números, é possível afirmar que o nordeste brasileiro tem a maior capacidade de produção e rentabilidade da caprinocultura, já que concentra 11 dos 14 milhões de caprinos existentes no país, segundo a última pesquisa do IBGE.

E o queijo é um dos mais saborosos e rentáveis derivados do leite de cabra. 

No município de Uauá, sertão da Bahia, a produção do leite de cabra é totalmente proveniente da agricultura familiar.

Os caprinocultores se uniram em cooperativa para melhorar as vendas da produção de seu principal item: o queijo de cabra.

Leia também: Renda de produtores de leite de cabra de Uauá e Curaçá tem aumento de 72%

E para dar tração a esse processo, o Polvo Lab, startup de economia criativa de impacto criada pelas empresárias Ana Maria Diniz e Gabi Marques, tem dado todo o suporte para agregar valor ao produto, melhorar o marketing e a logística com o objetivo de incrementar a renda das cerca de 40 famílias da Coopercuc (Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá).

A capacidade produtiva dos cooperados é de 35 toneladas de queijo por ano, com potencial de obter incremento na renda direta para as famílias em até 14% após a maturação do processo de produção, segundo o cientista social e responsável pela área de impacto socioambiental dos projetos do Polvo Lab, Saulo Augusto.

“Nosso objetivo é promover impacto positivo na rentabilidade desses produtores, valorizando suas cabras que são uma poderosa fonte de renda e transformação. Além de levar capacitação, padronização da produção, melhoria genética e conectar a cooperativa aos principais varejistas”, esclarece Saulo.

Alemanha e França dominam a inovação europeia em queijo de cabra

Como as cabras foram um dos primeiros animais a serem domesticados, o queijo de cabra goza de uma longa tradição em muitos países. Mas hoje, o queijo de cabra está muito atrás do queijo de leite de vaca na maior parte do mundo ocidental. Na Europa, um em cada 12 (8%) queijos lançados entre julho de 2015 e junho de 2016 continha leite de cabra (incluindo combinações de tipos de leite), em comparação com quatro em cada cinco (78%) que continham leite de vaca . Embora a França esteja entre os países mais prolíficos no que diz respeito à oferta de queijo de cabra, a Alemanha recuperou o atraso nos últimos anos, com ambos os mercados dominando hoje a inovação do queijo de cabra europeu.

Num mercado cada vez mais maduro, o queijo de cabra ganha nova relevância como um nicho atraente no campo da inovação. O queijo de cabra beneficia da sua ligação inerente à tradição e à qualidade artesanal, o que é reforçado pelo facto de muitos produtos serem provenientes de marcas especializadas de pequena escala. Além disso, o queijo de cabra é valorizado pelos seus benefícios à saúde e ao sabor. É considerado uma alternativa naturalmente com baixo teor de gordura, alto teor de cálcio e fácil de digerir ao queijo de leite de vaca, e apresenta um perfil de sabor sutil, único e picante.

Oportunidades na Bahia

As oportunidades de negócio atualmente estão concentradas principalmente no estado da Bahia. “Tornar o queijo de cabra conhecido e valorizado pelos baianos e nordestinos é nosso ponto de partida, para então levar o produto para varejistas de todo o país, sempre gerando valor e renda para os produtores de Uauá e região”, explica o cientista.

Além do leite e do queijo, é possível extrair também a manteiga, o iogurte, o sorvete, além de produtos de beleza, mas o Brasil ainda explora pouco o leite de cabra. Para otimizar essa cadeia produtiva, o Polvo Lab quer estimular a criação de cabras e produção desse leite entre os pequenos produtores do nordeste e levar capacitação e geração de renda para centenas de famílias.

Propriedades nutricionais

O leite de cabra é rico em cálcio e proteínas, sendo um grande aliado na nutrição de crianças, adolescentes e idosos, segundo a nutricionista do Polvo, Valéria Paschoal. “São alimentos recomendados para consumo no dia a dia, pelo alto valor nutricional e ser de fácil digestão, devido ao reduzido tamanho dos glóbulos de gordura.

Também ajuda a prevenir doenças ósseas, rico em vitamina A, excelente para o funcionamento do coração, além de combater anemia, infecções e doenças porque tem mais selênio, ótimo componente para fortalecimento do nosso sistema imunológico”, destaca.

Valéria ainda cita estudos com queijo de cabra que detectaram 16 tipos de aminoácidos em cada queijo, incluindo oito EAAs: leucina, lisina, fenilalanina, valina, treonina, isoleucina, metionina e tirosina (condicional EAA).

“Além disso, encontram-se compostos bioativos luteína, terpenóides, dos minerais encontram-se magnésio, sódio, fósforo, potássio, cálcio. Das vitaminas podemos citar a Vitamina B12 e Vitamina B2”, salienta.

O queijo de cabra também é um excelente alimento fonte de proteínas. A composição nutricional pode variar um pouco dependendo do tipo específico de queijo e do método de produção, mas estudos mostram que em média uma porção de 100 gramas, 21 são proteínas.

“É uma opção de alimento que gera menos respostas alergênicas em comparação com queijos feitos a partir de leite de vaca. O que explica é que o mecanismo do leite de cabra contém diferentes proteínas do leite em comparação com o de vaca. Na comparação, o leite de cabra contém menos caseínas, mais proteínas séricas e nitrogênio não-protéico ”, detalha Valéria Paschoal.

Leite de cabra não serve mais apenas para queijo

Enquanto a inovação do queijo de cabra ganha força, o leite de cabra como ingrediente também está se espalhando por outras categorias de laticínios, incluindo iogurte, manteiga, leite, sorvete e sobremesas geladas. O desenvolvimento é mais prevalente na Alemanha, onde o número de lançamentos de produtos lácteos à base de leite de cabra (excluindo o queijo) mais do que quadruplicou nos últimos três anos, embora a partir de uma base pequena. Acompanhando a evolução observada no setor do queijo, a inovação começa a assumir uma imagem mais fresca e moderna, com o leite de cabra posicionado como um ingrediente premium.

No mundo industrializado de hoje, os consumidores querem produtos de maior qualidade com rótulos limpos e transparentes; ao mesmo tempo, procuram também a originalidade que beneficia nichos de mercado como o do queijo de cabra. Embora a inovação do queijo de cabra seja impulsionada por marcas especializadas, também oferece oportunidades para os principais intervenientes do mercado – dentro e fora da categoria de lacticínios – diferenciarem as suas ofertas . A inovação do queijo de cabra beneficia de uma abordagem mais jovem e moderna; os produtos não precisam apresentar imagens visuais antiquadas de cabras; o foco deve estar na origem, no caráter e no sabor.

Julia Büch é analista de alimentos e bebidas na Mintel. Ela é especializada em fornecer insights sobre questões que afetam o mercado alemão de alimentos e bebidas, fornecendo análises em diversas categorias de alimentos e bebidas.

Bnws agro


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