O Abiu e os indios Ticuna


O abiu é uma planta tropical, originária da região amazônica, encontrada desde as encostas andinas do Peru se estende até a parte oeste da amazônia brasileira. Adaptou-se facilmente para cultivo nas regiões litorâneas do Oiapoque (AM) até Santos (SP), hoje também encontrada em regiões do interior do país onde apresentam solos profundos e humosos.

È uma planta que pertence à família: Sapotaceae; nome científico: Pouteria Caimito e nome comum: Abiu e Abiurana. É uma fruta encontrada em árvore de porte médio a alto, 3 a 10 metros de altura. Em estado silvestre pode atingir até 20 metros. 

Os frutos são bagas de forma ovóides com tamanho entre 6 e 9 centímetros no comprimento, peso médio de 150 a 250 gramas. Em latossolos pobres em nutrientes o peso do fruto variou de 50 a 240 gramas, com 42% de polpa comestível (MANICA, 2000). 

A casca é lisa, de 2 a 5 milímetros de espessura e cor amarelada quando madura. Sua polpa comestível é de cor branca, creme ou amarelada, é translúcida, mucilaginosa, doce ou insípida, contendo 1 a 4 sementes, não aderentes à polpa, oblongo-ovóides, lisas e negras, com cerca de 3,5 centímetros de comprimento e 4 gramas de peso. Floresce em abril e outubro, frutificando em julho e dezembro (ALBARA, 2008). 

O método mais utilizado para o plantio é por sementes. A produção inicia normalmente no segundo ou terceiro ano após o plantio e se avoluma a partir do quinto ano (MANICA, 2008).

Amarelo, de casca lisa e sabor adocicado, o fruto é versátil e pode ser consumido tanto em sua forma natural quanto ser usado como ingrediente principal de sucos e alguns doces, como geleias e sorvetes. Por ser rico em nutrientes importantes - fibras, vitaminas e sais minerais -, é uma boa opção para o cardápio de quem deseja mais energia e um melhor funcionamento do organismo.

Sua poupa é bastante suculenta, e a casca dos frutos verdes possui um látex muito consistente, a polpa gelatinosa, transparente, esbranquiçada e seu sabor doce, o abiu pode ser ingerido in natura ou em forma de geleias, sucos, sorvetes ou saladas de frutas, devido a falta de acidez, muitas receitas, se recomenda usar algum cítrico para ativar seu sabor.

Aliás muitos das produções de abiú visam especificamente a utilização do látex, e não o consumo do fruto para alimentação humana. Devido à essa subprodução comercial, seu consumo acaba restrito aos locais em que é nativo.

No Amazonas por exemplo o fruto é muito conhecido, em vários países o abiú desperta um interesse crescente. Na Austrália por exemplo, a espécie representa uma das cinco espécies exóticas com maior potencial econômico, em Cuba é chamado de Lucuma, de Temare na Venezuela; Caimito na Colômbia; Luma ou Cauje no Equador; sapote amarelo ou maçã estrela amarela em Trinidad e Tobago.

Presente aqui antes da chegada dos colonizadores europeus no século XVI, o abieiro (Pouteria caimito) é retratado em várias obras utilizadas como registro de missionários, naturalistas e viajantes que percorreram a Amazônia nos períodos colonial, imperial e nas primeiras décadas da República. Bastante cultivado em quintais, pomares e jardins brasileiros por muitos anos, sua importância como produto agrícola também foi destacada por botânicos estrangeiros em passagem pelo país.

Por centenas de anos os índios Ticuna vem selecionado o Abiu, por meio de uma tradição que visa presentear ou pagar o dote ao pai da futura esposa com frutos de qualidade superior, tanto em tamanho quanto em sabor, uma vez que tais frutos são considerados presentes divinos na tradição local suas características devem ser preservadas através do plantio de suas sementes (CAVALCANTE, 1988). 

Os Ticuna configuram o mais numeroso povo indígena na Amazônia brasileira. Com uma história marcada pela entrada violenta de seringueiros, pescadores e madeireiros na região do rio Solimões, foi somente nos anos 1990 que os Ticuna lograram o reconhecimento oficial da maioria de suas terras.

ESPACIALIDADE E TEMPORALIDADE DOS ARRANJOS PRODUTIVOS NA AGRICULTURA TICUNA 

Os Ticuna e os Cocama adotam formas de ocupação do espaço e de uso dos recursos naturais voltados para a manutenção familiar, sendo a produção agrícola destinada, basicamente, para o consumo. O acesso aos produtos não gerados nas unidades de produção familiar e aos serviços inexistentes nas comunidades é viabilizado por meio da renda monetária auferida pela comercialização de produtos excedentes não consumidos nos locais de produção.

As agriculturas Ticuna são baseadas no uso da mão de obra familiar, utilizando-se técnicas de baixo impacto ambiental, derivadas de conhecimentos culturais e patrimoniais. A utilização das terras é regulada pelos costumes e por normas de influência religiosa, internamente compartilhadas. Apenas o local de moradia, espaço destinado ao uso familiar, é considerado como sendo uma área privativa, mesmo nas famílias ligadas por parentesco de consanguinidade.

Uma prática importante característica dos agroecossistemas Ticuna é a manutenção das matas circundantes às roças e aos sítios (Noda et al., 2008, p. 85). 

Trata-se de um sistema circular de produção em roças margeadas por mata virgem ou capoeira, para proteção contra a chuva e vendavais, assim como conservação para o processo de regeneração das áreas derrubadas para plantios. 

Um exemplo é o relato de um morador Ticuna: "(...) no lado ao redor das roças precisa deixar as matas, para proteção da chuva grossa, dá muito vento e derruba com tudo, com todos os plantios. Dessa maneira é que vivemos fazendo os caminhos, mas é importante mesmo deixar as árvores, é muito importante para todos aqui..." (Sr. E.P. G., 41 anos, Novo Paraíso).

A ligação das matas com os outros organismos e o ambiente em que vivem é mencionada como importante para a sua manutenção. 

Há conhecimento empírico sobre alguns componentes e mecanismos da ciclagem de nutrientes, principalmente sobre a transformação destes e as partes necessárias ao crescimento dos animais e das plantas, e sobre a localização espacial, de como vão do solo para as plantas, destas para os animais e dos dois novamente para o solo, sucessivamente, numa dinâmica de interações entre organismos e meio físico para a manutenção das áreas de mata.

Atividades produtivas dos Ticunas

Os Ticuna praticavam o cultivo de espécies nativas como a macaxeira, o cará, uma espécie de cana-de-açúcar e outros tubérculos. Antigamente, com uma alimentação baseada na carne de caça, a pesca tinha uma importância mínima e era praticada com uma tecnologia de cercados e envenenamento dos peixes com o sumo do timbó (Oliveira, 1988).

Essa situação, no entanto, se inverteu a partir da ocupação das várzeas do Solimões. Hoje, a pesca é uma das atividades produtivas mais importantes para os Ticuna.

Cada família ticuna possui sua roça e a considera de sua propriedade. Mas não se trata de propriedade da terra, nem mesmo de propriedade coletiva. Nas roças da família trabalham, em geral, o pai, sua esposa e os filhos mais velhos que ainda não são casados.

No entanto, os filhos homens, maiores e solteiros, poderão ter uma roça própria quando casarem. 

Os mais idosos têm também roças independentes de seus filhos e genros, mesmo quando moram na mesma casa. Quando mais de uma família vivem em uma mesma casa, elas costumam trabalhar separadas, cada uma em sua respectiva roça.

Além da mão-de-obra familiar, os Ticuna contam com uma outra ajuda na agricultura por parte de parentes e amigos. São os ajuri, estruturados sobre os grupos vicinais, que são realizados com freqüência em todas as aldeias. Em um ajuri, o dono da roça é responsável pela comida e bebida dos seus convidados.

Ele prepara o pajuaru, bebida fermentada feita de mandioca ou macaxeira, e providencia peixe e farinha para todos os participantes. Ao terminar o serviço, os participantes vão à casa do dono do ajuri, onde passam a noite em cantos e danças.

O ajuri pode ser realizado em qualquer etapa da produção, bastando que o dono da roça necessite da ajuda dos integrantes de seu grupo vicinal. Existem, portanto, o ajuri da derrubada, o da colheita, o da palha (em que os convidados levam a palha e a trançam para a cobertura da casa do dono do ajuri), o da canoa etc.

O trabalho que aquela família demoraria vários dias para fazer é terminado em uma manhã de trabalho conjunto dos parentes e vizinhos.

Os instrumentos agrícolas utilizados pelos Ticuna são basicamente o terçado, o machado, a enxada e o forno de torrar farinha. 

Os instrumentos de trabalho utilizados no seu cotidiano são comprados por meio dos regatões ou nas cidades vizinhas, principalmente em Letícia, na Colômbia. Alguns machados e fornos de farinha foram ganhos da Funai. Pequenos comércios, instalados na própria aldeia por moradores com mais recursos, e que vão mais vezes à cidade, também fornecem os instrumentos necessários à produção, principalmente o terçado, que é aquele de maior demanda.

As técnicas agrícolas dos Ticuna não são diferentes daquelas utilizadas em todo o Vale Amazônico, que incluem a derrubada seguida da queima e coivara. As roças de terra firme estão no centro, como eles costumam dizer. Já aquelas da várzea são geralmente cultivadas nas ilhas e florestas alagáveis principalmente pelo Solimões.

Os produtos mais plantados, em ordem decrescente de importância, são: a macaxeira e a mandioca, a banana, o abacaxi, a cana e o cará, além do milho e da melancia, no período da seca (verão), quando estas roças que são de várzea estão sendo trabalhadas. Alguns desses produtos têm seu excedente comercializado.

A coleta de frutas é realizada por todos da família. As frutas mais comuns nas aldeias ticuna são: mapati (tchinhã), umari (te'tchi), ingá (pama), abiu (tao), castanha (nhoí), pupunha (itu), cupuaçu (cupu), sapota (otere) e açaí (waira). As capoeiras onde os índios vão colher as frutas são, em geral, localizadas nas suas antigas roças, que deixaram em repouso, preservando as árvores frutíferas.


Dieta alimentar

A dieta alimentar é composta basicamente de peixe com farinha de mandioca. O preparo do peixe, quase diário, é feito principalmente de duas formas.

Os diferentes tipos de peixe são cozidos (o seu caldo é bastante apreciado por todos). Depois de comer o peixe cozido com muita farinha de mandioca, os Ticuna costumam tomar vários pratos do caldo, como se fosse uma sopa. Também é muito comum fazer o peixe assado (moqueado) e comê-lo acompanhado de um pratinho de sal colocado ao lado, onde todos molham o dedo.

A farinha de mandioca é consumida torrada e muitas vezes misturada ao que eles chamam de vinho de açaí, um suco feito desta fruta. Outro importante componente da alimentação ticuna é a banana. O mingau de banana é bebido como um suco bastante grosso. A banana assada na brasa é também muito utilizada, assim como frita. Devido à pequena expressão da caça na dieta desse povo, não há descrições do preparo de todas as carnes.

A carne de queixada, assim como a da anta e a do caititu, costuma ser cozida. 

A carne de jacaré, também apetitosa, costuma ser preparada do mesmo modo que os peixes. Há ainda dois modos diferentes de se preparar os peixes, não tão comuns quanto aqueles já descritos. São eles a pupeca (uma espécie de trouxinha preparada com a folha de bananeira onde é assado o peixe) e a mujica ou massamoura (uma massa de banana amassada e apimentada com pedaços de peixe desfiados).

O artesanato é, em geral, responsabilidade da esposa de uma família ticuna. Quase a totalidade das mulheres sabe fazer o tipiti (instrumento utilizado para espremer a massa de mandioca), o pacará (cesto com tampa), o aturá (cesto cargueiro), a maqueira, a peneira, colares e alguns outros tipos de artesanato. A maioria desses artefatos, entretanto, não é feita para a venda, mas para uso doméstico. As famílias que vendem algum tipo de artesanato o fazem aos regatões ou nas cidades mais próximas, mas isso não ocorre com muita freqüência. Semelhante ao que ocorre com a venda de frutas nas aldeias mais próximas à cidade, a venda de artesanato é mais intensa.

Os Ticuna não costumam comprar muita variedade de produtos. Algumas famílias chegam a comprar café, bolacha, arroz, feijão, óleo (tudo em pequenas quantidades), e algumas vezes macarrão, cebola etc. A maioria, entretanto, costuma comprar apenas fósforo, sabão, sal, açúcar e algum querosene para suas lamparinas. Muitos não compram nem mesmo o açúcar, e mesmo os que o fazem compram muito pouco.

Todos esses produtos são, em geral, trazidos pelos regatões que passam pelas localidades. Esta transação é feita normalmente a partir da troca da farinha que produzem e das galinhas que criam. Algumas vezes, tais produtos são comprados.

Hoje os Ticuna, enfrentam o desafio de garantir sua sustentabilidade econômica e ambiental, bem como qualificar as relações com a sociedade envolvente mantendo viva sua riquíssima cultura.

O formato do Abiu Ticuna, varia bastante podendo ser arredondado ou então compridos e pontudos, sua casca é grossa e suas sementes são pretas e alongadas. Em plantas obtidas de sementes o tamanho dos frutos também varia bastante podendo ser pequenos e alguns bem maiores.

A variedade Ticuna apresenta frutos com até dois quilos, enquanto os frutos do abieiro selvagem apresentam-se no máximo com 90 g. A árvore é de porte grande, mas a copa está ao alcance das mãos mesmo em indivíduos adultos.


Fruto é muito usado na medicina popular

Além de trazer benefícios específicos para o corpo, o abiu também é muito aproveitado na medicina popular. Isso significa que está entre as práticas e ideias que, embora não tenham embasamento científico, têm a eficácia reconhecida entre a população.

Muito conhecido por seus dotes medicinais, se recomenda para problemas pulmonares, uma ebulição, cozinhando com água e sal e tomar o caldo morno com um pouco de mel várias vezes ao dia.

Para atenuar complicações no ouvido (orelha interna), como inflamações (otites) ou dores (otalgias), basta pingar algumas gotas do azeite das sementes. Já o chá da casca dessa fruta ajuda a diminuir febre e a tratar disenteria.

Fontes: 

Povos Indígenas do Brasil

Uma passagem entre as duas Américas: mito e ritual ticuna.

Desenvolvimento Sustentado entre os Ticuna:as Escolhas e os Rumos de um Projeto

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