Influência da cultura indígena em nossa vida vai de nomes à medicina

Contribuições passam também por hábitos de alimentação e artesanato.

"Menire!"

As vozes de centenas de mulheres Xikrin ecoam pela terra indígena às margens do poderoso rio Bacajá. 


As mulheres atendem ao chamado, acorrendo ao ngàb, a casa principal, para discutirem juntos seus papéis e atividades diárias, com crianças, cachorros e galinhas a tiracolo. 

É provável que você conheça alguém chamado Ubiratan ou Jacira. Pode ser também Iracema, Tainá, Cauã ou Jandira. Quem vive ou já visitou o Rio de Janeiro, com certeza ouviu falar em Tijuca, Itaipu, Ipanema, Jacarépaguá, Itapeba, Pavuna e/ou Maracanã. Em São Paulo, quem não conhece Itaim, Itaquaquecetuba, Butantã, Piracicaba, Jacareí e Jundiaí? 

Não importa onde se viva, qualquer brasileiro já teve contato com uma infinidade de palavras de origem indígena, sobretudo da língua tupi-guarani (união entre as tribos tupinambá e guarani), como carioca, jacaré, jabuti, arara, igarapé, capim, guri, caju, maracujá, abacaxi, canoa, pipoca e pereba.

Mas não foi só na língua portuguesa que tivemos influência indígena. Sua herança e contribuição para a formação da cultura brasileira vai além: passa da comida à forma como nos curamos de doenças. 

Esse conhecimento das populações indígenas em relação às espécies nativas é fruto de milhares de anos de conhecimento da floresta. 

Lá, eles experimentaram o cultivo de centenas de espécies como o milho, a batata-doce, o cará, o feijão, o tomate, o amendoim, o tabaco, a abóbora, o abacaxi, o mamão, a erva-mate e o guaraná.

Outro benefício que herdamos da intensa relação dos índios e a floresta é em relação às plantas e ervas medicinais. 

O conhecimento da flora e das propriedades das plantas os fez utilizá-las nos tratamento de doenças. Por exemplo, a alfavaca que tem função antigripal, diurética e hipotensora, ou o boldo que é digestivo, antitóxico, combate a prisão de ventre e pode ser usado também nas febres intermitentes (que cessam e voltam logo) são descobertas dos índios utilizadas no nosso dia a dia.

O artesanato também não fica de fora. Bolsas trançadas com fios e fibras, enfeites e ornamentos com penas, sementes e escamas de peixe são utilizados em diversas regiões do país, que sequer têm proximidade com uma aldeia indígena.

Segundo Chang Whan, pesquisadora e curadora do Museu do Índio do Rio de Janeiro, embora nós tenhamos o costume de separar a cultura indígena da cultura brasileira, essa dissociação não está correta. 

“A cultura brasileira resulta da conjunção de muitas influências culturais, inclusive temos todas essas contribuições dos índios, com a influência na toponímia (nome dos lugares), na onomástica (nomes próprios), na culinária e no tratamento de saúde utilizando as ervas medicinais. Portanto, não devemos fazer essa dissociação”, explica.

Os indígenas brasileiros utilizam seus conhecimentos para a sobrevivência na natureza, e o uso das plantas e da vegetação em geral garantem sua alimentação, habitação e cuidados com a saúde. 

Os índios brasileiros encontram no mato as soluções para suas enfermidades e necessidades de autocuidado. 

A prática da medicação e uso de remédios caseiros proporcionam benefícios para as doenças e promovem o “saber” sobre a flora em que vivem. 

O conhecimento indígena pode ser definido como um conjunto cumulativo de crenças e conhecimentos que são transmitidas de geração em geração em sua comunidade, pela transmissão cultural sobre as relações existentes entre os seres vivos e o seu ambiente.

Os indígenas possuem um vasto conhecimento etnobotânico, capazes de fazer classificações e associações, o qual foi descrito por Levi-Strauss:

"Os indígenas têm um aguçado senso das árvores características, dos arbustos e das ervas próprias de cada "associação vegetal", tomando essa expressão em seu sentido ecológico. 

Eles são capazes de enumerar nos mínimos detalhes e sem nenhuma hesitação as árvores próprias para cada associação, o gênero de fibra e de resina, as ervas, as matéria-primas que fornecem, assim como os mamíferos e pássaros que freqüentam cada tipo de habitat."

Na verdade, seus conhecimentos são tão exatos e detalhados, que sabem também nomear os tipos de transição.

Para cada associação, descrevem sem hesitar a evolução sazonal da fauna e dos recursos alimentares.

Para salvar o mundo, temos que trabalhar em estreita colaboração com as comunidades indígenas e locais.

CrukêMayrahú-Comida da Mata 

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