Agrotóxico em uso generalizado no Brasil representa uma grave ameaça para espécies nativas de abelhas, mostra estudo

O imidaclopride é um neonictinoide, uma classe de inseticidas neuroativos absorvidos pelas plantas e presentes no pólen e néctar, tornando-os tóxicos para abelhas e outros polinizadores.

O imidaclopride, um dos pesticidas mais utilizados no Brasil, pode ser uma ameaça letal para as abelhas nativas, segundo artigo  publicado  na revista  Environmental Research.

No entanto, devido à falta de um protocolo específico para avaliações de risco ecológico (ERAs) que abordem a ameaça a essas espécies, os cientistas brasileiros não conseguem avaliar a real escala do problema.

O imidaclopride é um neonictinoide, uma classe de inseticidas neuroativos absorvidos pelas plantas e presentes no pólen e néctar, tornando-os tóxicos para abelhas e outros polinizadores.

A avaliação adequada do risco para as abelhas nativas do Brasil é “uma questão urgente”, alertam os autores do artigo, que se baseia em resultados preliminares de estudos realizados na Universidade Estadual Paulista (UNESP) e na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). ) investigar a sensibilidade ao imidaclopride de abelhas nativas sem ferrão, tanto eussociais ( Melipona scutellaris  e  Scaptotrigona postica ) quanto solitárias ( Tetrapedia diversipes  e  Centris analis ).

A pesquisa é apoiada pela FAPESP por meio de dois projetos ( 17/21097-3  e  19/27863-5 ).

Em testes de laboratório, as abelhas são expostas ao inseticida, que é aplicado em algodão, batata, cana-de-açúcar, feijão e tomate, entre outras culturas. Diluído em concentrações ambientalmente relevantes (semelhantes às encontradas na agricultura), o agroquímico é injetado por via oral para simular a coleta de recursos alimentares como pólen, néctar, óleos de flores e resinas, e por contato para imitar o efeito da pulverização da cultura.

A próxima etapa dos experimentos envolve a avaliação de fatores comportamentais – poder seguir caminhos habituais, resposta à luz e grau de desorientação – bem como marcadores celulares e mortalidade.

No caso das abelhas solitárias, a pesquisa é incipiente e há o desafio adicional da falta de conhecimento sobre sua biologia. “Sabemos pouco sobre seu ciclo de vida ou hábitos, então primeiro precisamos criar uma espécie em laboratório e depois formular um protocolo adequado”, disse  Osmar Malaspina , professor do Instituto de Biociências da Unesp em Rio Claro.

Os primeiros resultados dos estudos do grupo sobre abelhas solitárias sugerem que elas podem ser afetadas mesmo por baixos níveis de pesticidas. “Já observamos níveis alarmantes de envenenamento, como tremores e incapacidade de voar. Se as abelhas estivessem na natureza e não em laboratório, seriam mortas por predadores”, disse  Rafaela Tadei , segunda autora do artigo. Tadei está cursando doutorado em ciências biológicas na UNESP, com Malaspina como orientadora de tese. 

As medições do corpo gorduroso das abelhas solitárias, uma seção do tecido que contém células de gordura, mitocôndrias e enzimas, e é responsável pela desintoxicação, além de servir como armazenamento de nutrientes, mostram que a estrutura é afetada e as principais funções fisiológicas podem ser prejudicadas. um resultado.

Sem protocolos

Os riscos dos pesticidas para as abelhas são tipicamente avaliados por meio de ensaios ecológicos e toxicológicos usando um modelo baseado na abelha ocidental  Apis mellifera , uma das espécies de abelhas mais comuns em todo o mundo. Para as cerca de 3.000 espécies de abelhas nativas do Brasil, não há modelos específicos. O padrão internacional é extrapolado com um fator de segurança de 10, que também é baseado em espécies não brasileiras. No entanto, de acordo com os estudos da UNESP e UFSCar, nem mesmo essa margem de segurança adicional parece ser suficiente para garantir a proteção desses insetos, reforçando a necessidade de protocolos específicos e regulamentação mais efetiva.

“Quando usamos uma espécie modelo menos sensível como padrão, concluímos que as abelhas são seguras, mas na verdade podem não ser. Embora ainda sejam necessárias mais pesquisas para obter estimativas mais precisas dos efeitos dos agrotóxicos sobre as abelhas brasileiras em termos de reprodução e do serviço de polinização que realizam, sabemos que o declínio das populações de polinizadores irá erodir a diversidade alimentar, afetando o sistema econômico e, consequentemente, a sociedade. - disse Tadei. 

“Ao estudar os efeitos dos agrotóxicos nas abelhas, podemos encontrar formas de proteger nossa biodiversidade e descobrir exatamente o que está acontecendo com essas populações para que não seja tarde demais para restaurá-las. Seria melhor evitar depender da polinização manual ou de outros métodos que aumentariam os preços dos alimentos”.

Segundo Tadei, a pesquisa deve ser acompanhada pela inclusão de três esferas no debate: a sociedade civil, para que a necessidade de pesquisa e proteção ambiental seja mais amplamente compreendida; governo, para que a regulamentação seja aprimorada com base em evidências cientificamente comprovadas; e a comunidade científica, para que sejam empreendidos esforços conjuntos para obter as melhores soluções possíveis para o meio ambiente.

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