Falta como desejo, Abundância como perversão

Lojas abarrotadas de novos produtos, celulares de última geração, a rapidez da informação, restaurantes caros e pratos mínimos, o culto da perfeição, likes, influenciadores e a multiplicidade de agenciadores de plataformas sociais, o que tudo isso tem haver em verdade com "Abundância"?

Morrer de sede enfrente ao mar!

Há muitos anos venho pensando e tentando entender os impactos de uma pedagogia que só potencializa uma visão equivocada, e abre espaço ao Capitalismo impor sua regra seletiva e excludente, um falso discurso democrático, mesmo não existindo representação, e tem no jogo sórdido da meritocrâcia, sugerindo um limite acessível a todos.

Discursos vazios e propostas fantasiosas, agem de forma à nebular a percepção dos incautos, sobre às verdadeiras intenções, que no fundo são iscas de controle sociais e de consumo.

A profusão e a disponibilidade de "acesso", gera uma acomodação social, que funciona como um amortecedor cognitivo, contra frustrações individuais, impensáveis numa sociedade narcisista como a que vivemos.

A cultura da abundância gera um sentimento de potência, de pertencimento, de ser e poder, num jogo que de antemão, as populações desprovidas economicamente, são as próximas vítimas.

"Fome e a fartura, raízes históricas de uma intolerância, à falta. "Não quero faça, nem queijo, quero a fome" Adélia Prado 

Nessa pespectiva, acho importante pensar como a "falta" pode ser trabalhada numa perspectiva pedagógica e de cura.

Por observação que tenho em Campo, com muitas pessoas das camadas mais pobres e despossuidas, observo muitas pistas para entender o quanto a manipulação, da ideia de fartura, riqueza, poder, constrói uma sociedade que não compreendeu a importância trancesdente dos valores que foram educados, e transmitidos por seus familiares, expondo a fragilidade da Escola, enquanto responsável pela transferência desses valores.

Saberes e valor alimentares desperdiçado.

Em muitas comunidades, muitos saberes tradicionais e alimentos vêm sendo substituídos em nome de conceitos que são alheios às suas realidades, ou do preconceito imposto sobre sua cultura, tida como "de pobre", essa perda de potência, acaba por distanciar o sujeito, fragilizando sua autoestima, e seu (capital cultural), um flanco aberto a ser substituído por um marketing agressivo que não contempla sua realidade social, ou mesmo a interdição de determinados alimentos, impondo novos hábitos, e modos de vida, o que é "saudável" para pessoas das cidades, podem não ser para pessoas do campo.

"Fomos educados partindo de uma visão onde os recursos naturais são inesgotáveis, a visão de Fartura, relaciona-se ao ideário colonial de produção massiva, pilhagem e dilapidação destes próprio recursos, o que gerou uma cultura perdularia, de menosprezo e descarte, mesmo entre os grupos invisibiizados."

Neste contexto formas tradicionais quilombolas ou indígenas, relacionam-se com insumos, alimentos e técnicas, são apreendidas a partir da observação, e mesmo da intuição, lançando mão da utilização de elementos que fazem parte do seu entorno, mas que aos nosso olhos, parecem antiquados e fora da realidade, mas se olharmos com lupa, perceberemos a importância sustentável que conferem à esses povos tradicionais, sua adequação como produtores da biodiversidade, e da manutenção agroecologica.

Se hoje precisamos com urgência falar em desperdício alimentar, e as cidades são uma vitrine desse desprezo com o alimento, em contra partida, os povos tradicionais desconhecem esse conceito, pois utilizam harmonicamente suas necessidades de acordo com o que está disponível, sabem do valor de multiplicação da diversidade, por outra relação com a natureza, não sofrem os estímulos fetichista imposto pelo mercado do consumo.

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