REGISTROS DA CULINÁRIA BAIANA TRADICIONAL

Esta obra é uma coletânea de receitas tradicionais da culinária baiana, que reflete a rica diversidade culinária da região. 

O livro foi editado numa época em que a Bahia vivia uma intensa efervescência cultural, marcada pela valorização de sua identidade afro-brasileira e por movimentos que resgatavam e celebravam as raízes culturais da região. Esse período foi essencial para a consolidação da Bahia como um dos grandes polos culturais do Brasil.

A culinária baiana desempenhava um papel central nesse contexto, frequentando a mesa das elites baianas, e sendo referência de comensalidade.

•Integração Cultural:

A culinária de matriz afro-indígena, que antes era mais associada às classes populares e aos rituais do candomblé, começou a ocupar espaço nas mesas da elite baiana. Esse movimento pode ser entendido como uma apropriação cultural, mas também como uma forma de valorização e reconhecimento dessas tradições.

•Ressurgimento do Orgulho Regional:

O regionalismo ganhou força no Brasil como resposta à crescente modernização e urbanização. Na Bahia, esse orgulho regional era expresso por meio da música (como a ascensão do samba de roda e dos trios elétricos), da literatura, das artes visuais e, claro, da culinária.

•Intercâmbio entre Classes:

A elite baiana começou a incorporar pratos típicos afro-indígenas em banquetes e eventos, adaptando-os a paladares e contextos mais formais, mas preservando boa parte de sua essência. Essa troca cultural era também uma celebração da singularidade da Bahia em relação ao restante do Brasil.

BEBIDAS TÍPICAS, E INCORPORAÇÕES INDUSTRIAIS.





UMBUZADA

A Umbuzada era um refrigerio típico das casas baianas, Jorge Amado, um dos grandes escritores brasileiros, tinha uma ligação afetiva com as tradições e sabores do Nordeste, até mantinha em sua casa do Rio Vermelho um pé de Umbu e de caja.

O umbu, fruto típico do semiárido brasileiro, é muito valorizado na culinária local, e a umbuzada é uma bebida tradicional feita com a polpa do umbu misturada a leite e açúcar.

Jorge Amado frequentemente expressava em entrevistas e textos sua paixão pela cultura e os costumes nordestinos, o que incluía pratos e bebidas como a umbuzada.

Essa relação reflete a riqueza da cultura regional que ele celebrava em seus romances, como em Dona Flor, Gabriela, Cravo e Canela e Tieta do Agreste.

XAROPE DE GOMA

Se antes o Xarope de goma era uma bebida caseira, hoje é um ingrediente utilizado em bebidas mistas, como coquetéis, sendo incorporado pela indústria de bebidas.

Detalhe da receita, ainda era comum a utilização da "Água de Azahar", ou água de flor de laranjeira.

O livro "Receitas da Bahia" de Helena Gama Lobo reflete esse momento histórico, captura a riqueza da culinária baiana e seu contexto cultural, mostrando como a comida se tornou um símbolo da identidade e do orgulho local. Helena contribuiu para documentar essa tradição viva e dinâmica, apresentando-a como algo digno de ser preservado e celebrado.

Ao resgatar e sistematizar essas receitas, Helena não apenas registrou o repertório gastronômico, mas também as histórias e práticas que envolviam o preparo dos alimentos, ampliando a compreensão da importância da culinária na construção da cultura baiana.

A família Gama Lobo possui raízes históricas significativas no Brasil, com membros que se destacaram em diversas áreas, incluindo a medicina e a vida social na Bahia.

Origem Familiar das Receitas:

A autora menciona que a maioria das receitas incluídas no livro é oriunda de sua família, especificamente da linha materna, pertencente à família Devoto. Essa família tem origem genovesa e o bisavô da autora era pasteleiro.

Relação com a Bahia:

A autora nasceu na Bahia, onde a família se estabeleceu com um negócio de pastelaria e confeitaria, marcando a conexão cultural com a culinária baiana.

"Solar Devoto":

Pierre Verger em "Notícias da Bahia-1850", relata a instalação do Solar como como célebre referência nos anais da Bahia.

"Lourenço Devoto, um italiano que alcansou grande relêvo na sociedade baiana. Emigrado político, procurou no exílio grangear a vida com um restaurante e prosperou tanto que o estabelecimento que fundou chegou a ser igual ou melhor que os melhores da corte.

Habituou os baianos a bebericar os refrescos de sua fabri a de gasosas e a devoraren os "fillós" da famosa pastelaria da Rua de Baixo, onde construiu um palacete com enormes salas especiais para banquetes.

Sua casa de negocios era um ponto de encontro, uma espécie de clube elegante; aí os políticos ofereciam jantares. E sua resdencia tornou-se centro de distinção e cultura, alegrada por numerosa prole, homens ilustrados e senhoras notáveis por sua fidalgas maneiras" (PG.127)

A residência da família, chamada "Solar Devoto", localizada na antiga Rua de Baixo (hoje Carlos Gomes).

Suas Motivação Pessoal:

A autora admite que o livro foi inspirado por um sentimento de saudade. Ela se recorda das iguarias saboreadas em sua casa paterna, ligadas à memória e ao espírito de Lorenzo Devoto.

Mistura de Influências Culturais:

Apesar do livro incluir receitas baianas, a autora justifica a presença de algumas que não são tipicamente baianas, em razão da herança cultural genovesa de sua família.

Esses pontos destacam o contexto histórico, cultural e pessoal que moldou o livro, além de refletirem uma fusão entre a tradição culinária europeia e baiana.


○Nesta série, apresentarei títulos fundamentais que resgatam a riqueza da culinária baiana. Receitas que são registros históricos obtidos por meio de pesquisas em acervos, bibliotecas e antigos cadernos de receitas, que oferecem uma compreensão mais profunda da nossa cultura alimentar e explicam por que ela é considerada tão diversa e única.

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