OS MOVIMENTOS SOCIAIS DEVERIAM ABRAÇAR A PAUTA DA CULTURA E DA JUSTIÇA ALIMENTAR

"Segurança Alimentar e Nutricional (SAN) é o direito de todos ter acesso a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente e de forma regular, sem comprometer outras necessidades essenciais. 

A SAN está relacionada com o Direito Humano à Alimentação Adequada (DHAA), previsto na Declaração Universal de Direitos Humanos. A SAN é um conceito em constante evolução, pois é uma temática muito discutida e que se adapta às necessidades de cada região e período.

Os pilares da SAN são: Disponibilidade, Acesso, Utilização, Estabilidade."

A FOME COMO ARMA POLÍTICA 

Segundo o Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, conduzido pela Rede PenSSAN, no final de 2020, mais de 19 milhões de brasileiros passavam fome. Outro levantamento, feito por um grupo de pesquisadores da Universidade de Berlim, aponta que 59,3% dos brasileiros –125,6 milhões – não comeram em qualidade e quantidade ideais desde o início da pandemia. A pesquisa, denominada “Efeitos da pandemia na alimentação e na situação da segurança alimentar no Brasil”, foi coordenada pelo do Grupo de Pesquisa Alimento para Justiça: Poder, Política e Desigualdades Alimentares na Bioeconomia. 

Porquê para abraçar essa pauta?

1. Direito à alimentação como direito humano: A Justiça Alimentar reconhece que todos têm direito a uma alimentação acessível, nutritiva e adequada culturalmente. Movimentos sociais podem pressionar governos e instituições para garantir políticas públicas que combatam a fome e a má nutrição.

2. Preservação das culturas alimentares: A globalização e a industrialização da alimentação têm homogeneizado hábitos alimentares, apagando práticas culturais tradicionais. Valorizá-las é essencial para preservar a diversidade cultural e promover a soberania alimentar.

3. Combate às desigualdades: Comunidades marginalizadas frequentemente enfrentam mais barreiras para acessar alimentos saudáveis e adequados. A luta por justiça alimentar é também uma luta contra as desigualdades sociais e econômicas.

4. Sustentabilidade ambiental: Incentivar sistemas alimentares locais e agroecológicos ajuda a mitigar os impactos ambientais da produção em larga escala, beneficiando tanto o meio ambiente quanto as comunidades.

5. Conexão com outras lutas sociais: A questão alimentar está ligada a outros movimentos, como os de saúde, educação, moradia e terra. Integrar essas pautas fortalece o impacto das ações coletivas.

6. Empoderamento comunitário: Movimentos que promovem a cultura alimentar local e a justiça alimentar ajudam as comunidades a recuperarem a autonomia sobre seus sistemas alimentares, fortalecendo suas identidades.

Essas ações são estratégicas não apenas para combater a fome, mas também para fortalecer a autonomia das comunidades, enfrentar as mudanças climáticas e combater a concentração de terras e recursos. A luta pela soberania alimentar está diretamente ligada ao direito à dignidade e à construção de um modelo de desenvolvimento mais justo e sustentável.

Como os movimentos sociais podem agir:

Promover feiras de alimentos locais e eventos culturais que valorizem a culinária tradicional.

Apoiar políticas públicas que incentivem a agroecologia e o acesso universal a alimentos saudáveis.

Lutar contra o monopólio das grandes corporações no setor alimentício.

Realizar campanhas de conscientização sobre a importância da alimentação saudável e culturalmente adequada.

Fortalecer parcerias com comunidades indígenas, quilombolas e rurais para valorizar seus saberes e práticas.

FORTALECIMENTO DA CULTURA ALIMENTAR 

O fortalecimento da cultura alimentar pode ser um instrumento poderoso no combate à fome e na promoção da segurança alimentar. Isso ocorre porque a valorização das práticas alimentares locais, tradicionais e sustentáveis contribui para aumentar a resiliência das comunidades, a acessibilidade a alimentos nutritivos e a autonomia dos sistemas alimentares.

Contribuições do fortalecimento da cultura alimentar para o combate à fome:

1. Soberania alimentar

Quando comunidades recuperam o controle sobre sua produção e consumo de alimentos, tornam-se menos dependentes de sistemas industriais vulneráveis e globalizados.

Valorizando alimentos locais e tradicionais, as comunidades podem reduzir custos com produtos importados ou ultraprocessados, que muitas vezes são caros e pouco nutritivos.

2. Acesso a alimentos nutritivos

Alimentos tradicionais frequentemente são mais nutritivos e adaptados às necessidades locais. O incentivo ao consumo desses alimentos ajuda a combater a má nutrição, que é uma das faces da fome.

Programas de incentivo à agricultura familiar e comunitária fortalecem a produção local e garantem o acesso a alimentos frescos e saudáveis.

3. Redução do desperdício alimentar

Conhecimentos culturais sobre conservação de alimentos, aproveitamento integral de ingredientes e práticas culinárias evitam desperdícios, garantindo que mais pessoas tenham acesso a comida.

Muitos alimentos considerados "menos nobres" pela indústria são culturalmente valorizados e utilizados nas cozinhas tradicionais.

4. Incentivo à produção local e agroecológica

Práticas agrícolas tradicionais e sustentáveis, ligadas à cultura alimentar, promovem a produção diversificada de alimentos, reduzindo os riscos associados à monocultura e à dependência de insumos externos.

Esse modelo de produção aumenta a resiliência das comunidades e torna os alimentos mais acessíveis às populações mais pobres.

5. Fortalecimento da economia local

A valorização de mercados locais e regionais baseados em alimentos tradicionais gera empregos, movimenta a economia e promove a inclusão social.

Cooperativas e associações que produzem e comercializam alimentos tradicionais podem gerar renda para pequenos produtores.

6. Educação alimentar e nutricional

A cultura alimentar ensina práticas culinárias que promovem o uso saudável de alimentos, ajudando a formar hábitos alimentares equilibrados.

Campanhas que valorizam a comida local e tradicional podem conscientizar as pessoas sobre a importância da diversidade alimentar.

7. Identidade e resiliência comunitária

A cultura alimentar conecta as pessoas à terra, à história e às tradições, promovendo maior engajamento no cuidado com os recursos locais.

Isso fortalece o senso de comunidade e a disposição para enfrentar juntos os desafios da fome.

Exemplos práticos:

Feiras de agricultura familiar: Promovem o consumo direto de alimentos frescos e tradicionais.

Educação em escolas: Ensinar receitas e práticas culinárias tradicionais para crianças e jovens.

Incentivo a hortas urbanas e comunitárias: Promovem a produção de alimentos em áreas de vulnerabilidade social.

Políticas públicas de alimentação escolar: Priorizar alimentos locais e da agricultura familiar no cardápio escolar.

Fortalecer a cultura alimentar não é apenas uma estratégia econômica ou de saúde, mas uma maneira de devolver às comunidades o poder de decidir como se alimentam, respeitando suas tradições e construindo caminhos para a erradicação da fome de forma sustentável.


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