Um guia ético para iniciantes em coleta de plantas alimenticias (Panc)

A prática de coletar alimentos,remonta às nossas raízes como caçadores-coletores.

Segundo a Wikipedia, "Forrageamento é a busca e a exploração de recursos alimentares.

É uma habilidade particularmente importante pois afeta a aptidão do animal, influenciando diretamente a sobrevivência e a reprodução do organismo.

O forrageamento é estudado pela ecologia comportamental, analisando o comportamento de forrageio dos animais em resposta ao ambiente em que ele vive."

Reconectando Comida e Natureza 

Percorrendo os corredores do supermercado, é fácil se desconectar de onde vem nossa comida e esquecer os processos que a trazem ao nosso prato. 

Ao longo da história, 30.000 plantas diferentes foram usadas pelos humanos para alimentação e medicina, mas agora, apenas três plantas – milho, arroz e trigo – respondem por metade de todas as calorias que consumimos.

Nas últimas décadas, os países ocidentais tiveram um interesse renovado em forragear – o ato de coletar recursos alimentares da natureza – embora muitas culturas não ocidentais tenham se engajado na prática por séculos.

Também Chefs talentosos estão voltando ao básico e cozinhando com materiais forrageiros, adaptando receitas e criando novos pratos.

Em vez de pegar mantimentos embalados na prateleira dos mercados.

Ao coletar alimentos, é importante considerar, que enquanto desaceleramos e observamos nossos ecossistemas locais, aprendemos a respeitá-lo, e como benefício, o que eles podem nos render.

À medida que os preços das mercados aumentam, por que não recorrer aos nossos próprios quintais e bairros em busca de alimento?

A prática de forragear remonta às nossas raízes como caçadores-coletores.

Embora tenha se tornado mais popular nos últimos anos, especialmente durante a pandemia do COVID-19 – enquanto os consumidores estavam apreensivos para entrar em espaços públicos e buscavam se tornar mais autossuficientes – a prática tem raízes profundas nas culturas negra e nativa. 

Mas, a história de forrageamento é preocupante, as tribos nativas que subsistiam de alimentos forrageiros, nos EUA, Canadá, foram expulsas de suas terras por colonos.

Também os indígenas coletores, sofreram perseguição, e foram forçados a viver em reservas tirando sua capacidade de procurar alimentos como antes.

Nos quilombos brasileiros, a prática era recorrente, muitos mantinham quintais e pequenas lavras para sua manutenção e subsistência.

Também os Candomblés foram espaços de preservação desta prática, onde pessoas das comunidades, ainda hoje são responsáveis em manter esta tradição.

Os negros escravizados nos Estados Unidos buscavam comida para sobreviver, mas os estados do sul reverteram as leis que permitiam o acesso público a terras não cercadas durante a Reconstrução, relata o Sierra Club, que impedia os escravos recém-libertados de se sustentarem.

Muitas cidades Estadunidenses, mantêm leis anti-forrageamento, especialmente em locais com bairros de baixa renda e maioria negra e POC; A cidade de Nova York, por exemplo, proíbe a “destruição ou abuso” de plantas nos parques da cidade.

Ativistas e especialistas de comunidade de coletores, no entanto, estão defendendo uma maior aceitação da prática. 

Coletores modernos como Alexis Nikole Nelson (@blackforager no Instagram), Lady Danni Morinich e “ Wildman” Steve Brill compartilham seus conhecimentos e dicas para viver da terra com seus seguidores e ensinam sobre a importância cultural e histórica da prática. 

Preocupações de segurança

Ao procurar alimentos na natureza (onde não vem com rótulos nutricionais), é imperativo saber o que é seguro comer.

Antes de sair em sua primeira excursão, comece pesquisando alimentos comestíveis e venenosos em sua área, incluindo sósias que são facilmente identificadas erroneamente.


Leia livros como 'PANC_identificação' ,  Guia das Panc, ou PDF de Comunidades quilombolas e indígenas, acompanhe 
blogs regionais e específicos de espécies e especialistas, infelizmente ainda não contamos com APP que possam fornecer informações atualizadas.

Melhor ainda, junte-se a um clube ou uma rede, aprenda com alguém em sua comunidade que conhece bem a área e a espécie, ou faça um curso online ou presencial com um naturalista, chefs e especialista em forrageamento ou grupo.

Coleta Ética: O que você precisa saber

Mas é uma prática que pode suscitar o abuso. A falta de educação e cuidado com a natureza, e o comportamento destrutivo podem ser potencialmente perigosos para o indivíduo e devastadores para o meio ambiente.

No entanto, mantendo apenas algumas coisas em mente e seguindo algumas práticas recomendadas, coletar pode ser uma experiência divertida e recompensadora sem prejudicar o meio ambiente ou a si mesmo.

01) Conheça o ambiente onde pretende coletar.

É muito importante conhecer e entender o que é abundante ou o que pode ser considerado “em risco” em sua área específica.

Prestigie um guia local ou um "mateiro" de campo e da região, procure anotar as espécies encontradas, estude a flora regional.

Contacte associações ou grupos que se dedicam ao estudo das Panc em sua cidade, em Salvador, a Rede Panc Bahia, vem desenvolvendo uma série de iniciativas e pesquisas sobre o tema.

Preste atenção especial às características de identificação, condições de crescimento, época de floração/frutificação.

02) Tenha um Plano de Coleta

Nunca parta para a Mata (ou qualquer outro lugar) sem um plano adequado. Tenha em mente o que você está procurando e onde você deve procurá-lo, então mantenha esse objetivo. 

Se você se deparar com algo que lhe interesse, anote sua localização, tire uma foto ou uma pequena amostra e consulte materiais de identificação e guias de campo quando tiver tempo e acesso.

Essa prática provavelmente evitará o problema e o perigo potencial de uma identificação errônea, além de informar sua decisão sobre se é ético colher (ou seja, está em perigo ou em risco?). 

03) Colha apenas em áreas “limpas” não colete em áreas poluídas pulverizadas e livres de lixo.

Não colha em estradas, parques urbanos, ao longo de linhas de propriedade ou em áreas industriais – todos os locais para potenciais poluentes e contaminantes.

É melhor encontrar áreas intocadas ou pouco percorridas (a pé) para a sua coleta, onde você pode ter certeza de que a colheita é limpa e segura para consumo.

04) identificar, identificar, identificar

Aprenda a identificar com precisão suas ervas, raízes e cogumelos. Nunca confie em uma única característica como flor ou folha para identificação.

Use três ou mais pontos de identificação. Considere cor, folha, flor, caule, fruto, casca/galhos, fragrância, localização, ciclo de vida da planta, condições do solo e/ou impressão de esporos (para cogumelos).

Por exemplo, existem plantas cuja as semelhança são muito grandes, como é o caso da Taioba e do Cocó, mas a diferença pode ser letal, pois a Taioba é comestível e o Cocó não.

Forrageamento Ético

05) Seja conservador em sua colheita

É inadmissível colher algo apenas por diversão, colha o que for necessário para preparar.

A maioria dos coletores éticos recomenda que você colha apenas entre um décimo a um terço de qualquer trecho específico do que você vê, e nunca do único trecho encontrado.

Além disso, considere o ciclo de vida da planta. Por exemplo, cortar uma árvore mais velha de todas aquelas lindas flores brancas na primavera significará que nenhuma fruta cairá no outono.

Colha apenas o que você realmente precisa. Exercitar a contenção às vezes é difícil, mas é uma característica fundamental de um coletor ético.

06) Deixe a natureza tão boa ou melhor do que a encontrou.

Nada é mais frustrante para um entusiasta ao ar livre do que ver seus lugares favoritos estragados, saqueados e sujos, pela ação de pessoas que não reconhecem a importância deste ambiente.

Remova todo o seu lixo e considere levar uma sacola extra com você para limpar a bagunça e o lixo que você encontrar.

NÃO altere drasticamente a paisagem para seus próprios fins – não corte árvores/galhos, não puxe árvores derrubadas através de riachos para fazer pontes, não saia da estrada, não perturbe ninhos, tocas, etc. não.

07) Preparar e informar

Esteja preparado com o equipamento que você vai precisar e as roupas que você deve usar, e sempre deixe alguém saber para onde você está indo e quanto tempo você espera ficar fora.

Use botas e roupas adequadas, carregue uma bolsa transversal leve de material tipo “paraquedas” com bolso profundo para guardar seus alicates, alguns guias de campo e bolsas menores tipo zíper, para suas descobertas. 

Uma cesta pode ser uma boa escolha para colheitas mais sensíveis, como folhas de urtiga, cogumelos e flores/pétalas.

08) Compartilhe seus conhecimentos e suas preparações.

A coleta de plantas alimentícias tem o objetivo da contemplação e do contato com a natureza, a contemplação de plantas aves nativas, mas também proporciona ao iniciado, a possibilidade de cozinhar algo com o que foi coletado.

Manter essas poucas considerações em mente o ajudará a ter uma experiência de coleta divertida, segura e legal. Educação, planejamento adequado e contenção são características-chave para um bom coletor.

O ato de coletar pode ser individual ou coletivo, atende a alguns impulsos básicos e primitivos, proporciona exercício fisico e atividade, em um tempo cada vez mais inativo e nos aproxima de realmente apreciar o mundo ao nosso redor.

Então saia e se reúna com a natureza.

Essa contribuição faz parte da nossa política de valorização dos espaços de formação de conhecimento e fortalecimento da cultura brasileira.


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