Existe uma contradição entre culinaria tradicional e inovações?

Primeiramente é preciso entender o que significa inovar. A palavra é derivada do termo latino Innovatio, se refere a uma ideia, método ou objeto que é criado e que pouco se parece com padrões anteriores.

Inovar não é nada mais nada menos, que criar algo novo.

Para isto não basta ser criativo, possuindo uma inteligência e um talento nato ou adquirido, é preciso estar consciente, e mudar o foco do olhar.

Este "novo" significa olhar atentamente para as possibilidades de alimentos desprezados ou subutilizados, que nos oferece a agricultura, a agroecologia, que são menosprezados e sem valor de mercado.

A criatividade demonstra-se sendo uma prática complexa de processos e dinâmicas mentais, também implicando muito da identidade e da personalidade do sujeito criador.

Para que o sujeito seja criativo tem de estar aberto a novas experiências, estando estreitamente ligado ao gosto pelo risco, pela mudança e pelo desconhecido.

Desta forma poderia dizer-se que um criador não vive com certezas, como qualquer ser humano, também erra, mas por vezes é o erro, que dá lugar a uma nova técnica. 

É preciso ser resiliente e não ter receio de arriscar e explorar o produto.

Por detrás de um prato criativo há todo um caminho, entre testes e degustações desde a decoração do prato, o cheiro, os sabores, as texturas e a originalidade da conceitualização deste novo prato.

É impressionante notar, como ao longo do tempo, foi sendo construido e tratada a questão alimentar no seio da família, pautado pela mídia e marketing, a " ideia de família feliz" consumindo produtos que não sabíamos à procedência, e que por traz, escondia o massivo processamento de alimentos, o avanço do agronegócio, financiando políticos e políticas, alienando e excluindo de nossas mesas, alimentos que tradicionalmente, havíamos aprendido a reconhecer.

Voltando à Inovação, o mesmo podemos dizer das práticas das culinárias tradicionais sendo um campo dinâmico, e aberto ao novo, pois são estes atores invisíveis que produzem o alimento que chega a nossa mesa.

Implica em redesenhar a forma como na modernidade, fomos adaptados a comer. Questionar o poder do Fast-food, da forma mecânica e consumista imposta pelas multinacionais, desritualizada, e desenraisada da cultura, extraindo seu valor humanitário, de sociabilidade e identidade.

Tudo isso impacta no modelo de produção de alimentos escolhidos por governos, se por um lado, a ideia de "inovação" se centra no investimento massivo em tecnologias avançadas, na destruição do solo, das florestas e dos recursos naturais, e o alimento é visto como uma "comoditty"na há nada de novo a se considerar.

Falar em agroecologia, é entender o importante papel da culinária tradicional, na sua dimensão mais profunda e seu imbricamento com a cultura e o lugar.

Lutar por um modelo mais adequado de produção alimentar em nosso país, é lutar por soberania, segurança sustentabilidade, e autonomia rural.



A
Oficina Sotoko em Serra Grande, aborda essa aparente contradição, mitigado a discussão, estimulando o conhecimento, aprimorando novos produtos, tirando da terra, muito mais possibilidade, apartir do conhecimento, de tecnologias simples, mas que guardam o respeito pelo alimento, pelas gentes, e principalmente pela terra.

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