Livro - Um Rio de Receitas Beiradeiras Afeto, resistência e sabedoria alimentar na Floresta Nacional de Caxiuanã – Pará

Não dá pra falar em #descolonização, sem criar o hábito da leitura, sem a busca pelo conhecimento tradicional, e sem valorizar gente dedicada através da pesquisa, que busca entender a formação da nossa cultura alimentar. 

Isso é efetivamente trazer para a prática cotidiana, um tema dos mais importantes.

Estudar as tradições culinárias implica analisar contextos complexos que as comunidades desenvolveram ao longo de sua história e que andam de mãos dadas com suas formas de pensar o mundo, seus territórios, a natureza, a memória de seus ancestrais e as formas de revigorar e inovar essa base comum chamada cultura e suas origens.

Este é o caso da Mariana Inglez @mariana_inglez que é doutoranda no Laboratório de Arqueologia e Antropologia Ambiental da Universidade de São Paulo (USP) e atua há mais de 10 anos nas áreas de Bioarqueologia e Bioantropologia. A publicação é resultado da pesquisa dela sobre a alimentação e transição nutricional na região.

Essas mulheres são também autoras do livro, cuja produção foi financiada pelo Instituto Serrapilheira como parte do projeto de divulgação científica “Evolução para Todes: compartilhando a ciência do LAAAE-USP” (APOIO: Instituto Serrapilheira).

Mais sobre o livro:

Os alimentos e a composição de nossas dietas representam parte central na forma como organizamos nossas sociedades, nossas relações e nossa rotina.

Hoje, o mundo todo vive um processo conhecido como “Transição Nutricional”, o que significa que, de forma muito rápida, estamos substituindo os alimentos frescos e locais – que constituem nossas histórias e culturas – por alimentos industrializados e ultraprocessados, que tendem a ser menos nutritivos e muito ricos em gorduras e açúcares.
Em oposição a este processo que pode levar à perdas em nossa diversidade alimentar tradicional, essa obra foi produzida durante a pandemia (enquanto a pesquisadora não pode estar presencialmente nas comunidades) e registra os modos de preparo de cada receita escolhida pelas autoras beiradeiras residentes entre os municípios de Portel e Melgaço, nos arredores da Floresta Nacional de Caxiuanã, Amazônia paraense


Essa pequena e delicada obra é uma merecida homenagem às mulheres, que com muita criatividade e resiliência, criaram uma culinária única combinando recursos das matas, dos rios e da cidade, misturando sabores exóticos e familiares”, diz o Dr. Rui S. S. Murrieta (Instituto de Biociências – Universidade de São Paulo), orientador de Mariana Inglez.
“Este livro de receitas celebra mulheres notáveis e serve para nos lembrar do vasto conhecimento, criatividade e trabalho árduo e profundo amor que elas dedicam para nutrir suas famílias, comunidades e visitantes, como nós”Dra. Barbara A. Piperata (The Ohio State University). 



Em tempos de tantas mudanças e impactos na região amazônica e no modo de vida tradicional de suas comunidades, registrar sua alimentação e os afetos que circundam o preparo de suas refeições é uma forma de resistência. 

“Ser ribeirinha pra mim é sinônimo de força e superação: apesar das dificuldades estamos sempre lutando com esperança de dias melhores. Falar sobre nossa alimentação, cultura, conquistas e dificuldades é, de alguma forma, eternizar em um livro memórias e garantir que as próximas gerações conheçam um pouco seus antepassados” (Juciane Serrin, co-autora)
“Organizar esse livro junto às mulheres que tanto têm me ensinado ao me receberem em suas casas e compartilhando comigo não apenas suas receitas, mas as alegrias e dificuldades de sua rotina como ribeirinhas, foi uma bonita conquista. Esse trabalho representa a possibilidade de realizarmos nossas pesquisas acadêmicas com ativa participação comunitária e com devolutivas que contribuam com a valorização das pessoas que colaboraram com nossa formação e construção de conhecimentos, em especial quando estas fazem parte de grupos marginalizados
e invisibilizados históricamente, como é o caso de populações rurais e tradicionais amazônicas.” (Mariana Inglez).




Acesse aqui para baixar o livro.

Fonte: @sites.usp.br


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